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O primeiro turno das eleições municipais foi marcado pela vitória dos partidos de centro e direita. Entre as cinco legendas que mais elegeram prefeitos, duas são de centro – PSD e MDB – e outros três – PP, União Brasil e PL – estão localizados no campo da direita.
Com isso, os partidos do chamado “centrão” devem continuar controlando o Congresso Nacional nas próximas eleições gerais, em 2026. Vale destacar que os partidos que elegem o maior número de prefeitos tendem a reproduzir esse desempenho na Câmara dos Deputados no pleito subsequente.
Mesmo que as eleições municipais sejam centradas no debate local, a correlação entre o número de prefeitos e deputados é um indício de sua repercussão nacional. Outra questão a ser observada é que a polarização nacional entre o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também esteve presente no debate. Nas capitais, Bolsonaro se mostrou um cabo eleitoral mais forte do que Lula.
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O PL, além de ter elegido os prefeitos de Maceió e Rio Branco no primeiro turno, disputará o segundo turno em outras nove capitais (Aracaju, Belém, Belo Horizonte, Cuiabá, Fortaleza, Goiânia, João Pessoa, Manaus e Palmas). Entretanto, o ex-presidente teve um revés no Rio de Janeiro, com a derrota de Alexandre Ramagem (PL) ainda no primeiro turno.
Embora Lula possa celebrar as eleições de Eduardo Paes (Rio de Janeiro) e João Campos (Recife), o PT não foi protagonista nesses dois pleitos. Porém, é importante observar que Lula e Bolsonaro adotaram estratégias distintas na eleição. Bolsonaro buscou alavancar o PL. Lula, por sua vez, procurou consolidar alianças com PSB, PDT e PSOL, além de reforçar o relacionamento com PSD e MDB. Apesar dessa estratégia de Lula, o PT teve um desempenho tímido, não conquistando nenhuma capital no primeiro turno, além de ter elegido apenas pouco mais de 200 prefeitos.
Outra característica do pleito municipal foi o continuísmo. Dos 20 prefeitos da capitais que concorreram à reeleição, 10 foram reconduzidos ao cargo já no primeiro turno. Outros seis disputam o segundo turno. O crescimento do PSD, MDB, PL, União Brasil e PP combinado com o alto índice de reeleição mostra a força da política tradicional. Instrumentos tradicionais de campanha como a força da máquina, as estruturas partidárias e o tempo de televisão prevaleceram sobre a narrativa antiestablishment, em que pese o surpreendente desempenho do empresário Pablo Marçal (PRTB) em São Paulo, assim como a ida da jornalista Cristina Graeml (PMB) ao segundo turno em Curitiba (PR).
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O resultado na capital paulista representou uma vitória para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que foi um ativo cabo eleitoral da campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Outra consequência do pleito em São Paulo é a possível divisão da direita para 2026.
No primeiro turno nas capitais, os destaques foram as reeleições dos prefeitos Eduardo Paes (PSD), no Rio; e de João Campos (PSB), no Recife. Ambos, inclusive, já despontam como potenciais candidatos a governador em seus estados para 2026.
Também vale mencionar a reeleição do prefeito de Salvador (BA), Bruno Reis (União Brasil), consolidando na capital da Bahia, estado que é um dos principais redutos políticos do lulismo do país, a hegemonia do grupo do ex-prefeito ACM Neto (União Brasil), que comanda a prefeitura desde 2013.
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Em Porto Alegre (RS), embora o prefeito Sebastião Melo (MDB) tenha que disputar o segundo turno contra a deputada federal Maria do Rosário (PT), seu desempenho, ficando apenas 0,28 ponto percentual de reeleger-se em primeiro turno, é um case de sucesso. Após enfrentar o desgaste da grave enchente que atingiu o Rio Grande do Sul – e Porto Alegre – Melo, ancorado em uma narrativa de que a cidade “melhorou” durante sua administração, realizou uma campanha estrategicamente muito eficiente, dando um xeque-mate em seus adversários, que apostaram suas fichas na enchente como forma de desgastá-lo.
Embora a vitória da direita não signifique um trunfo do bolsonarismo, o resultado das eleições municipais mostra que o país possui hoje uma direita partidariamente consolidada, além de muito atuante em defesa da agenda liberal na economia e da pauta conservadora dos costumes.
Por mais paradoxal que possa parecer, o resultado favorável da direita nas eleições municipais é uma derrota para o PT, mas não do governo Lula. Assim como vem ocorrendo desde 2016, a esquerda ortodoxa e identitária parece não ter compreendido as circunstâncias da vitória de Lula em 2022, caracterizada por um projeto de frente ampla.
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O bolsonarismo, por outro lado, diante da inelegibilidade de Jair Bolsonaro, continua tendo o desafio de construir uma unidade no campo da direita que, conforme mostrou as eleições municipais, sobretudo em São Paulo, não será uma tarefa simples.