Golfe na Faria Lima: e se minha bolinha destruir aquele Porsche?

Golfista do InfoMoney conta como é dar tacadas em pleno coração da Avenida Faria Lima, em São Paulo

Henrique Fruet

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Henrique Fruet testa academia de golfe no coração da Avenida Faria Lima, em São Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)
Henrique Fruet testa academia de golfe no coração da Avenida Faria Lima, em São Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)

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Escolho o taco, olho para a bola de golfe e me posiciono para a batida. Mas não consigo me concentrar – só penso naquele Porsche 911 que está a poucos metros de mim. 

Um erro na tacada e pronto: a bolinha de golfe pode causar um estrago considerável no veículo, destruir meu ego de golfista e fazer um rombo na minha conta bancária. Apesar de ter apenas 45,93 gramas, a bola cheia de covinhas é dura e chega a ultrapassar 250 km/h.

O cenário onde estou não é lá o mais convencional para a prática desse esporte que se popularizou a partir do século XV nas pastagens escocesas. Não estou cercado de árvores e lagos, e sim de prédios e carros. O som que predomina não é de passarinhos, mas de buzinas e roncos de motores diversos – de ônibus, aviões, helicópteros e do Porsche que me tira a concentração.

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Pela primeira vez, tenho a experiência de jogar golfe em plena Faria Lima, no coração do principal centro financeiro do País, na capital paulista. E não estou em um campo propriamente dito, mas em um driving range, como são chamadas as áreas em que o golfista bate bolas para se aquecer e treinar o swing (o movimento que faz para dar a tacada.)

Henrique Fruet, da equipe do InfoMoney, testa academia de golfe no coração da Avenida Faria Lima, em São Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)

Poucos minutos antes, eu estava no prédio onde funciona a redação do InfoMoney, em frente ao Shopping JK Iguatemi. Andei por menos de 20 minutos até chegar na Academia Tiro Certo, inaugurada em janeiro deste ano na rua Iguatemi, paralela à Av. Faria Lima.

Uma academia de golfe na Faria Lima

Fruto de um investimento de R$ 1,5 milhão, a Tiro Certo é comandada pelas irmãs gêmeas Gabriela e Daniela Arantes, especialistas em preparação física de golfistas. Elas são, inclusive, as preparadoras físicas oficiais dos atletas de alto rendimento da Confederação Brasileira de Golfe, cuja sede fica a poucos metros da academia.

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Em uma área de 1.200 metros quadrados, 15 professores ajudam golfistas a melhorar sua rotação, mobilidade, fortalecimento e flexibilidade, com fortalecimento da musculatura e melhor condicionamento físico. Praticantes de outras modalidades também frequentam o espaço – adeptos de tênis, triatlo, surfe, corrida e ski, por exemplo.

“A gente só tomou essa decisão de sair de uma academia de 100 m2 para uma de mais de 1.000 m2 por ser na região onde a maioria dos golfistas está”, conta Daniela.

É onde também estão quase ex-golfistas, como eu. Comecei a jogar golfe no ano 2000, mas não pratico o esporte há cerca de dois anos. Aceitei de pronto o desafio da redação do InfoMoney de testar a nova academia – e, quem sabe, voltar a jogar num futuro breve. Seria, portanto, a minha primeira tacada depois de muito tempo… Imagina o risco que o Porsche estava correndo?

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Antes de (tentar) bater na bola, fui convidado a fazer um treino funcional voltado especificamente para golfistas. “Deve ser leve”, pensei. Me enganei. Fiquei dolorido por alguns dias, confesso.

Henrique Fruet, da equipe do InfoMoney, testa academia de golfe no coração da Avenida Faria Lima, em São Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)

Quando comecei a jogar, treinos físicos específicos para praticantes de golfe ainda eram novidade. Até poucos anos antes, nem os golfistas profissionais acreditavam que o condicionamento físico poderia ajudá-los – pelo contrário. Me recordo que o profissional Nico Barcellos, ex-técnico da Confederação Brasileira de Golfe, me contou certa vez que os profissionais acreditavam justamente no contrário: que fazer musculação poderia atrapalhar o swing.

Mas, na década de 90, surgiu um jogador chamado Tiger Woods dispensa apresentações, certo?) que subverteu esse modo de pensar. “Tiger começou a se preparar fisicamente, e o pessoal veio atrás”, diz Gabriela. “É uma coisa bem nova. Ainda tem muito aquele pensamento de que o golfe é um esporte de velho gordo sedentário rico, mas isso está mudando.”

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Senti na pele o que a falta de condicionamento físico pode ocasionar em um golfista. Nos exercícios que o professor Murilo Barbosa me passou, ficou nítida minha falta de movimentos nos quadris. Diagnóstico: “Deu para ver que você realmente joga, mas que faz muita compensação para fazer o swing e poder bater na bola. Força muito o tronco, quando deveria começar pelo quadril para ganhar mais potência. Você pode até começar bem nos primeiros buracos, mas aposto que no final do jogo sua pontuação deve cair muito”. Bingo.

Realmente, quando eu estava na ativa, batia relativamente bem na bola, e alcançava distâncias bem consideráveis para um golfista amador (de nível intermediário para péssimo que eu era, confesso). Para mandar a bola a 150 jardas, ou 137 metros, eu usava um taco chamado pitch, que muitos companheiros de jogo usavam para bater a bola a 100 jardas, ou 91 metros. E Murilo de fato acertou: meu rendimento sempre caía no final do jogo por cansaço.

Testando o “campo”

Depois de 50 minutos de treino físico, fui para a área ao ar livre da Tiro Certo para treinar as tacadas. Comecei com o putter – o taco usado para rolar a bola até o buraco. Foi minha estreia no putting green da academia – a área de treino para esse tipo de tacada, com grama sintética, no caso da Tiro Certo. Depois bati alguns approaches curtos – tacadas para deixar a bola perto do buraco.

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E aí fui para o driving range, para finalmente fazer um swing completo e ver como bateria na bola (preferencialmente sem acertar o Porsche). 

Não é que acertei a bolinha? E acertei bem. E sim, teria sim acertado o Porsche ou pelo menos o ônibus que vinha logo atrás, se não fosse pelas redes de proteção da academia que seguraram a bolinha. 

Henrique Fruet testa academia de golfe no coração da Avenida Faria Lima, em São Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)

Quem conhece bem o esporte sabe que bater bola não é necessariamente “jogar golfe”. Mas mesmo assim, posso dizer que joguei golfe em plena Faria Lima, pois depois de aquecer no driving range, fui testar o simulador de golfe indoor.

Funciona assim: você bate a bola de um tapete em direção a uma tela projetada numa parede acolchoada. Na imagem, você vê o campo de golfe, com direito a um som bem bucólico (ronco de Porsches e ônibus dão lugar a som de aves). Você bate a bola como faria num campo de verdade, e quando ela acerta a tela, é amortecida e cai, mas segue sua trajetória de maneira virtual, de maneira bastante realista. 

Sensores de última geração mostram para o golfista diversos dados importantes, como ângulo do taco quando bateu na bola, velocidade do taco e da bola, distância que ela percorreu (ou, no caso, que percorreria, caso a tacada fosse num campo de verdade) e muitos outros dados impossíveis de serem obtidos a olho nu.

Joguei 15 buracos e me diverti bastante – apesar de ter “perdido” algumas bolas virtuais em lagos e de ter me enfiado no mato, atrás de árvores e arbustos, por diversas vezes – nada que já não tenha me acontecido em um campo de verdade, principalmente quando o corpo já estava cansado.

Henrique Fruet, da equipe do InfoMoney, testa academia de golfe no coração da Avenida Faria Lima, em São Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)

Quem se interessou e quer testar, vai precisar ter paciência. “Os horários do simulador já estão todos tomados para os próximos meses”, conta Gabriela. Entre o público, há desde iniciantes que aprendem lá a dar suas primeiras tacadas até grupos de amigos que combinam de jogar golfe juntos e depois tomar um vinho – há uma enoteca na academia – e fazer networking. 

“É o que chamamos de ‘buraco 19’, um dos mais famosos do campo”, brinca Gabriela – um campo oficial de golfe tem 18 buracos, e o 19º é como os golfistas apelidaram a mesa do bar onde confraternizam após as partidas.

A meta das irmãs gêmeas é chegar até o final do ano com 200 alunos – quando inauguraram, eram 90, e agora já são 170. 

Serviço

Os planos da academia começam na casa dos R$ 790 por mês. Há ainda a opção de ter apenas aulas de golfe, a partir de R$ 400 a hora. O aluguel do simulador sai por R$ 400 a hora. E quem desejar usar a área de treino externa (putting green e driving range) pagará R$ 45 para alugar um balde de bolinha de golfe com 30 unidades.

E podem ficar tranquilos: as redes de proteção irão proteger os Porsches e outros carrões de suas tacadas erráticas. 

Onde?

Rua Iguatemi, 309 – Itaim Bibi 

Horários e dias de funcionamento: De segunda a quinta-feira, das 6h às 20h e às sextas, das 6h às 18h 

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Henrique Fruet

* Henrique Fruet, atualmente copywriter do InfoMoney, é autor do livro Os Melhores Campos de Golfe do Brasil e foi editor das revistas Golfe+, Golf & Turismo e Golf Life.