A psicologia comportamental e as (im)previsões para 2025

Os assessores de investimentos exercem um papel fundamental na hora de traduzir essas previsões para os seus clientes

Francisco Amarante

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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Essa semana foi aberto oficialmente o mercado de previsões econômicas 2025, indicando uma maior incerteza do mercado com relação a inflação e ao juros.

Os assessores de investimentos exercem um papel fundamental na hora de traduzir essas previsões para os seus clientes. O desafio reside no fato de que as previsões do mercado nem sempre se concretizam, deixando os investidores confusos ou até desiludidos. 

A divulgação do 1º boletim Focus no dia 6, pelo BACEN, era esperada pelos investidores, gestores, empresários e formuladores de política pública. O boletim reúne as expectativas, de 100 instituições participantes do mercado financeiro, sobre os principais indicadores econômicos do País.

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Para o mercado, essa fonte serve como uma importante ferramenta para auxiliar na tomada de decisão e no planejamento financeiro e econômico.

Para 2025, a previsão para o IPCA teve ligeira alta indo para 4,99%, a cotação do dólar chegou aos R$ 6, a Selic foi de 14,75% para 15% e a estimativa do PIB teve uma alta marginal indo de 2,01% para 2,02%, confirmando o pessimismo que predominou os ânimos do mercado no final de 2024.

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Como toda previsão nem sempre elas são precisas e se realizam, pois estão sujeitas a eventos não controláveis, frustrando as expectativas e podendo gerar grandes prejuízos. Daí a necessidade de uma revisitação periódica nos seus fundamentos, podendo eles sofrerem ajustes ao longo do tempo, o que pode gerar volatilidade e instabilidade aos mercados. 

Isso foi o que observamos ao longo de 2024, quando as previsões, do início do ano, indicavam uma Selic entre 8 e 9% e diversos fatores acabaram por aumentar a projeção para mais de 12%. 

Podemos afirmar o mesmo com relação ao câmbio, que no primeiro sinal de desequilíbrio fiscal, sentiu e ultrapassou a casa dos R$ 6,00, bem acima do que o mercado projetava. Se analisarmos a série histórica iremos constatar, que tem sido cada vez mais recorrente esses ajustes nas previsões e numa frequência maior do que era observado antes.

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Para o assessor de investimentos essas imprevisibilidades podem ser fatais, pois qualquer leitura equivocada pode resultar em uma recomendação de ativos que sofrerá os seus impactos, gerando perdas aos investidores, por vezes irreversíveis. A pandemia pode ser um exemplo de um evento não controlável, que acabou afetando diversos mercados, como o de fundos imobiliários, que até hoje busca recuperação, encerrando 2024, com uma perda de 5,80%.

Como gosto de reforçar, o investidor é o principal ativo dos assessores e portanto, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. 

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O Dilema das Previsões: Expectativas e Realidades

No artigo Previsões de Mercado: Como Erramos em 2022, de Ferrer, M., o autor analisou os principais erros cometidos por especialistas em suas projeções econômicas e de mercado no ano anterior. Ele abordou como fatores imprevistos, mudanças rápidas no cenário macroeconômico, decisões de política monetária e eventos inesperados, afetaram a precisão das previsões.

O texto destaca casos específicos em que as expectativas criadas por analistas falharam em se concretizar, como o desempenho do mercado de criptoativos e as políticas monetárias globais, oferecendo uma reflexão sobre os desafios de prever o comportamento de sistemas complexos e interconectados. Ferrer também sugere medidas para melhorar a abordagem analítica, incluindo a consideração de cenários alternativos e a adoção de maior cautela na comunicação com o público investidor.

O cenário em 2024 não foi diferente, quando muitos acreditavam numa retomada do real e das bolsas brasileiras, mas fatores geopolíticos externos e a decepção com o pacote de medidas fiscais no cenário doméstico, acabaram por resultar no pior desempenho da moeda desde 2020 e no terceiro pior resultado desde 2010. Com relação ao mercado de ações não foi diferente, tendo o IBOVESPA apresentado o pior resultado de todas as bolsas globais e o pior desempenho anual desde 2021, desvalorizando 10,36% no ano.

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Quando olhamos para o bitcoin, quem previu o seu fechamento, em 2024, com 178% de valorização em reais? 

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Razões para as Imprevisões

As falhas nas previsões financeiras podem ser atribuídas a diversos fatores. Destacamos esses três:

  1. Complexidade dos Mercados: Economias são sistemas dinâmicos e interconectados, tornando difícil prever como eventos locais e globais interagirão.
  2. Fatores Inesperados: Eventos como pandemias, crises geopolíticas ou colapsos empresariais fogem ao escopo de previsão.
  3. Viés de Confirmação: Analistas podem priorizar dados que confirmem suas hipóteses iniciais, ignorando informações contrárias.

Em “Thinking, Fast and Slow”, Daniel Kahneman, prêmio Nobel em ciências econômicas em 2002, explora como vieses cognitivos e heurísticas (atalhos mentais) influenciam negativamente as previsões de mercado, incluindo as feitas por especialistas. Ele argumenta que, frequentemente, os especialistas cometem erros porque confiam excessivamente em padrões percebidos, ignoram incertezas e subestimam o papel do acaso. Esses fatores levam a previsões imprecisas e, muitas vezes, equivocadas.

Lições para os Assessores de Investimentos 

Diante da(s) incerteza(s), que o ano de 2025 deve trazer, os assessores desempenham um papel crucial ao gerenciar as expectativas e o comportamento dos clientes. 

Buscar acertar o alvo com precisão poderá sair caro para o investidor neste ano. 

Segundo Kahneman, a psicologia comportamental desempenha um papel fundamental na tomada de decisão dos investidores, ajudando a explicar por que muitas vezes eles agem de forma irracional, contrariando princípios econômicos tradicionais. Essa área, também conhecida como finanças comportamentais, estuda como emoções, vieses cognitivos e fatores sociais influenciam as decisões financeiras.

Principais aspectos da psicologia comportamental na tomada de decisão

Vieses Cognitivos:

Heurísticas (Atalhos Mentais):

Influência das Emoções:

Efeito Manada:

Impactos na Tomada de Decisão

Como Mitigar os Efeitos da Psicologia Comportamental

A psicologia comportamental mostra que os investidores não são tão racionais quanto a teoria econômica clássica pressupõe. Reconhecer essas influências psicológicas é essencial para melhorar o processo de decisão no mercado financeiro.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente as opiniões da ABAI.

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Francisco Amarante

Superintendente da ABAI (Associação Brasileira dos Assessores de Investimentos)