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Desde as eleições presidenciais e parlamentares de junho, o mercado mexicano atravessa um período de instabilidade. O resultado inesperado da votação parlamentar trouxe surpresas e inquietações ao mercado, especialmente após o partido governista avançar rapidamente com uma agenda vista como ameaça à saúde institucional do país, como uma reforma judicial que que determinou que todos os juízes, incluindo os ministros da Suprema Corte, sejam eleitos por voto popular.
Hoje, há consenso de que o México enfrenta perspectiva menos positiva para crescimento e investimento devido às recentes mudanças estruturais. As expectativas negativas para o investimento contrastam com o otimismo anterior, pois o país, em posição geográfica privilegiada diante da proximodade aos EUA, poderia se beneficiar das atuais condições geopolíticas e de uma possível expansão do “nearshoring”.
Ainda, o país enfrenta um periodo de incerteza gerada pela vitória de Donald Trump na disputa presidencial dos EUA.
Vale notar que a vitória de Claudia Sheinbaum na eleição presidencial já havia sido antecipada pelo mercado, em grande parte devido à popularidade de seu antecessor, que a apoiou ativamente. A surpresa veio, na verdade, com a vitória esmagadora do partido governista Morena, junto aos aliados Partido Verde e Partido do Trabalho, que asseguraram uma maioria próxima a dois terços no Congresso.
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Os temores se tornaram palpáveis logo após a eleição: na segunda-feira seguinte, a Bolsa de Valores Mexicana registrou uma queda de 6%, e o peso mexicano, que abriu o dia a 16,97 em relação ao dólar americano, fechou a 17,70. Desde então, a moeda mexicana sofreu novas desvalorizações e atualmente é negociada a 20,36, uma queda de quase 20% em comparação ao cenário pré-eleitoral.
Embora parte dessa desvalorização seja atribuída à vitória de Trump os EUA, especialmente nas últimas semanas, boa parte do movimento de queda reflete o avanço da agenda controversa no Congresso.
Após negociar com três senadores da oposição, Morena consolidou sua maioria de dois terços e deu início às reformas constitucionais.
Uma das prioridades do ex-presidente López Obrador foi a reforma judicial. A reforma foi aprovada após semanas de debates tensos e protestos de trabalhadores do Judiciário. A medida foi amplamente vista como uma politização do Poder Judiciário, enfraquecendo os freios e contrapesos na política mexicana.
Embora o mercado tenha reagido de forma limitada no dia da aprovação, já que o impacto estava em grande parte precificado, persistem grandes preocupações quanto ao investimento e ao crescimento. Pequenas e médias empresas, que não possuem acesso a arbitragem internacional como as grandes corporações, são especialmente afetadas pela incerteza judicial.
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Vale destacar que uma tentativa de invalidar parcialmente a reforma na Suprema Corte não teve sucesso porque o colegiado determinou não poder analisar o tema.
Ainda, a poucas semanas, o Congresso aprovou um projeto de lei que impede o Judiciário de contestar reformas constitucionais. A medida intensifica as preocupações, somando-se a outras reformas em pauta, incluindo uma proposta para eliminar a maioria dos órgãos públicos autônomos e transferi-los para o controle governamental, além de uma reforma eleitoral.
Agora, apesar de uma surpresa positiva para o cenário fiscal com apresentação de um Orçamento de 2025 que busca reduzir o deficit, os mercados atuam com cautela e se atentam aos impactos das reformas e sinais do presidente-eleito Donald Trump.
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Apesar de um possível cenário mais favorável para as relações EUA-México, e o alívio no cenário fiscal, as recentes mudanças estruturais no México trazem incertezas tanto ao marco judicial quanto no regulatório, estabelecendo um ambiente menos atraente para investimentos.
Sem sinais claros de moderação por parte do governo, o México corre o risco de perder uma oportunidade estratégica para impulsionar seu crescimento, especialmente no contexto favorável ao nearshoring.