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O emocionante desfecho das eleições presidenciais brasileiras, em segundo turno, ocorreu na noite de domingo (30), trazendo a vitória do ex-presidente Lula sobre o presidente Jair Bolsonaro por cerca de 50,9% dos votos contra 49,1%. Dessa forma, temos dois fatos inéditos: Lula fará história ao assumir a presidência da República por um terceiro mandato, enquanto Bolsonaro também deixa sua marca como primeiro presidente a disputar a reeleição e perder o pleito.
A vitória de Lula foi marcada por uma ampliação de sua margem no Nordeste e pela conservação de uma vantagem, ainda que menor, em Minas Gerais, com relação ao primeiro turno. Já a derrota de Bolsonaro, apesar de frustrante para o presidente, exibe uma força bastante importante, sobretudo no Estado de São Paulo e nas regiões Centro-Oeste e Sul do país. Ainda que não tenha reconhecido publicamente a derrota, a postura de aliados importantes – como Arthur Lira, Ricardo Salles e Carla Zambelli – sinaliza que o custo de uma contestação aos resultados subiu significativamente nas últimas horas.
Apesar do importante significado da vitória em uma eleição tão disputada, o contexto polarizado e a margem mínima de votos sobre um oponente tão radicalmente distinto, impõe dois desafios políticos de suma importância a Lula: um no âmbito da sociedade e outro no do Estado, além das questões relacionadas à economia e à gestão pública do país.
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No que diz respeito à sociedade, é importante sinalizar a pacificação com os derrotados, uma vez que praticamente metade da população sufragou um nome alternativo e com um programa ideológico diametralmente oposto ao do presidente eleito. Caso não faça esse esforço – ou não seja bem-sucedido na tarefa – o novo governo de Luiz Inácio pode atravessar sérias dificuldades de legitimidade, exatamente como ocorreu a Dilma Rousseff no início de seu segundo mandato, redundando em manifestações populares crescentes contra seu governo.
Por outro lado, ao reverso da mesma moeda, a construção de uma base parlamentar sólida será um desafio fundamental para a governabilidade do país nos próximos quatro anos. Como sabemos, emergiu do primeiro turno um Congresso Nacional com ideologia marcadamente mais conservadora. Nesse sentido, o desafio de Lula reside em uma gestão que acene mais ao centro, evitando o risco de um impedimento, nos moldes do que ocorreu com Dilma.
Cabe observar que os governos estaduais, em importantes estados, estarão nas mãos de opositores mais ferrenhos como Tarcísio de Freitas (São Paulo), Cláudio Castro (Rio de Janeiro) e Romeu Zema (Minas Gerais) e mais moderados como Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e Raquel Lyra (Pernambuco), impondo, dessa forma, uma dificuldade adicional para o novo mandato.
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Além destes importantes desafios de natureza política, já temos contratado um problema macroeconômico de graves proporções para os próximos anos. Com o crescimento dando sinais de queda e a inflação voltando a apontar para cima, aliados a taxas de juros já bastante altas e ambiente externo desfavorável, tudo leva a crer em um ano muito complicado no âmbito econômico e social.
Tal problema, agravado pela promessa de auxílios, isenções e outras benesses durante e depois do período eleitoral, deverá impor uma grande dificuldade adicional ao novo governo de Lula, acarretando na adoção de medidas amargas que, certamente, impactarão negativamente na popularidade presidencial e abreviarão qualquer lua de mel com o eleitorado nos primeiros meses de governo.
Para conter os danos de tal cenário, a sinalização ao mercado de um compromisso fiscal responsável e de adoção de medidas saneadoras passará pela busca de nomes com esse histórico na pasta da economia. Ademais, a restauração de algumas políticas públicas exitosas do passado – sobretudo nas áreas sociais e ambiental – deverão ser a tônica desse novo governo, retomando bandeiras e programas antigos tanto do Partido dos Trabalhadores e, especialmente, de seus próprios governos.
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Da mesma forma, a política externa e de comércio internacional precisam estar pautadas em um pragmatismo que remonte aos primeiros anos do século, quando Lula era presidente, ao invés do ideologismo que marcou as relações internacionais do país nos últimos quatro anos, durante o governo Bolsonaro. Apesar da tônica mais pragmática, contudo, é importante lembrar que houve algum favorecimento a governos aliados de esquerda e isso deve ser questionado com muito maior virulência neste terceiro mandato.
Outra questão que deve sofrer intenso escrutínio – seja da oposição no Congresso, seja da própria sociedade civil e da imprensa – está relacionada à corrupção, que se tornou um calcanhar de Aquiles para as gestões do Partido dos Trabalhadores e que levou Lula, inclusive, à condenação e à prisão em um passado não tão distante. Certamente, os eventuais escândalos de corrupção serão explorados de maneira muito mais acerba e devem se aproximar, muito mais rapidamente, do presidente.
Por fim, é fundamental ter presente a promessa de Lula de que este seria um governo que congregaria não apenas o PT e seus tradicionais aliados de esquerda, mas que deverá ser mais voltado ao centro, sinalizando um compromisso que precisará ser respeitado e que deve marcar conflitos importantes já na montagem do governo, bem como em seu desenrolar, chegando inclusive às eleições municipais de 2024 e, sobretudo, às eleições gerais de 2026.
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Assim sendo, por todas essas razões, vemos que Lula não deve ter um terceiro mandato que comece com uma lua-de-mel tão dócil quanto teve no primeiro mandato ou uma popularidade tão alta quanto teve no segundo mandato e sua tão propalada habilidade política e sua capacidade de aglutinar opostos precisará ser exercida em sua mais alta capacidade. Se Lula decidir caminhar para um governo mais centrista, deve conseguir retomar o caminho da pacificação, mas se primar pelo radicalismo e pelo aprofundamento do conflito redistributivo, corre o risco de se tornar refém do Congresso e da Justiça e, no limite, sofrer um processo de impeachment.