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Era óbvio que durante a Copa do Mundo o assunto seria a Copa do Mundo. Ainda que uma notícia aqui e outra ali tenham pipocado durante o evento, quase ninguém deu bola a elas. Agora que a competição acabou, vamos fazer um resumo comentado de uma série de temas que surgiram nesse período, que nos brindou com uma final sensacional.
E parabéns à Argentina pelo título. Numa das últimas colunas, fiz algumas simulações de competitividade dos elencos e prometo que, em algum momento, farei um apanhado da evolução a partir das oitavas de final. Mas a final colocou frente a frente o 3º e o 6º elencos supostamente mais competitivos. E exceto por cinco partidas – duas vitórias de Marrocos, a vitória da Croácia contra o Brasil, da França contra a Inglaterra e da Argentina na final – em todas as outras o elenco mais competitivo se deu melhor. Em 20 partidas, apenas 25% foram alvo da aleatoriedade do futebol.
E dessas “aleatoriedades”, a vitória da França nas quartas e da Argentina na final tinham diferença inferior a 20% entre as equipes, ou seja, diferença pouco relevante. Ou seja, se não dá para afirmar nada apenas considerando a amostra de uma Copa, dá para iniciarmos um trabalho de monitoramento que possa servir a outros temas. Mas isso é assunto e estudo para outro momento. Por enquanto, vamos aos temas (quase) ignorados.
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SUPERLIGA DE CLUBES
A procuradoria da União Europeia emitiu uma avaliação sobre a demanda da Superliga – leia-se o trio Real Madrid, Barcelona e Juventus – reforçando que Fifa e Uefa não podem ser taxados como monopólios, e que exercem o legítimo papel de legisladores e organizadores do futebol, o que refuta uma das acusações da Superliga.
Outro ponto que veio nessa avaliação é sobre o direito da Superliga de organizar uma competição continental. Este direito é legítimo, mas tanto a Fifa quanto a Uefa podem desligar clubes e atletas de quaisquer outras competições que estão sob seu controle. Ou seja, mais um tema refutado, pois a Superliga queria organizar sua competição e ainda permanecer nas ligas nacionais.
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O fato é que a ideia da Superliga foi praticamente enterrada, para o bem do futebol.
JUVENTUS
O clube italiano atravessa um turbilhão de problemas, a ponto do seu presidente, Andrea Agnelli, ter sido exonerado pelos controladores, que são da sua própria família.
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Há uma série de acusações sobre fraudes contábeis envolvendo o clube italiano, e a mais grave foi a de manipulação de lucro e prejuízo na negociação de atletas. Por ser uma empresa de capital aberto, o clube está sendo investigado por órgãos que vão além da esfera esportiva, mas pode sofrer punições que tenham impacto esportivo – o que eu duvido que aconteça.
De qualquer forma, dentro da política esportiva já há uma mudança clara no clube, com o novo comando anunciando que “se aproximará mais da Uefa”, colocando um ponto final na briga iniciada com a ideia da Superliga. Mais uma derrota para Florentino Perez, presidente do Real Madrid e idealizador da Superliga.
MANCHESTER UNITED E LIVERPOOL À VENDA
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Várias conversas surgiram dando conta de que Liverpool e Manchester United poderiam ser vendidos. A Fenway (dona do Liverpool) e a família Glazer (dona do United) não negaram. Depois da negociação do Chelsea, cujo valor de aquisição foi de € 2,9 bilhões mais um “acordo de investimentos” de € 1,8 bilhão – que tende a ser direcionado para a remodelação de Stamford Bridge ou a construção de um novo estádio – a barreira de aquisição de clubes de grande porte foi quebrada.
Diferente do € 1,2 bilhão pago pela RedBird pelo Milan, que tem um potencial de crescimento de receitas dada a perda de relevância do ativo ao longo dos últimos anos, os clubes ingleses parecem ter potencial de crescimento mais limitado. Não porque não despertem interesse, mas porque já estão num nível elevado e talvez mais próximos do teto de mercado.
De qualquer forma, mostra o potencial das negociações envolvendo clubes de futebol. Por mais que se pense no futebol como um mercado rico, a realidade é que os clubes ainda faturam pouco comparado a outras indústrias e ao movimento de pessoas e interesse que gera. O futebol ainda é muito aproveitado pelos negócios satélites e pouco pelos maiores interessados, os clubes.
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MUNDIAL DE CLUBES COM 32 PARTICIPANTES
E a Fifa aproveitou a Copa do Mundo para voltar a falar em Mundial de Clubes com 32 participantes a cada quatro anos. Sandice total.
A ideia parte da premissa errada que é comparar clube com seleção. Existe uma diferença básica: clube opera por temporada e seleção opera por geração. Por isso há campeonatos de clubes todos os anos e uma competição entre seleções importantes, que é a Copa do Mundo. Copa das Confederações, Copa América, Jogos Olímpicos, Nations League, são todas secundárias. A Eurocopa ainda tem um apelo maior porque envolve um continente com muitos países, assim como a Copa da África ganha relevância a cada disputa pelo mesmo motivo.
Imagine um Mundial de Clubes no qual um dos participantes foi qualificado há quatro anos, e na época do torneio joga na segunda divisão do seu país. É improvável, mas não impossível. Pode “apenas” estar num mau momento e ter perdido capacidade competitiva. Acontece.
Qual a graça? Qual a relevância esportiva?
ENDRICK VALE MAIS QUE BOTAFOGO E CRUZEIRO: QUE BOBAGEM!
A venda de Endrick para o Real Madrid por algo na casa dos R$ 400 milhões trouxe à tona uma discussão tola e errada: ele valeria mais que algumas SAFs recentemente vendidas.
Comparação sem nenhum sentido. É como comparar o valor de uma Ferrari com um apartamento no extremo Sul de São Paulo ou no subúrbio do Rio de Janeiro, por exemplo. Possivelmente a Ferrari vale mais. E daí? Produtos, interesses, riscos e usos diferentes, para públicos diferentes.
Um atleta tem vida útil curta, se performar aquilo que dele se espera pode gerar conquistas que vão além do dinheiro, e tem enorme rico de dar errado. Mas se der certo pode fazer diferença na vida do clube. E além do valor da contratação, custará “apenas” o salário.
Um clube tem que arcar com custos enormes, em boa parte dos casos com dívidas, tem um nível de competitividade limitado, faz um esforço danado para conseguir incrementar receitas, corre risco de cair para a segunda divisão e, quando opera muito bem, deveria terminar a temporada “apenas” sem prejuízo.
O retorno de um é financeiro e do outro é esportivo, medidas diferentes de comparação. Então, exceto pela vontade de caçar alguns cliques, não faz sentido comparar esses valores.
PAUSA
Esta coluna entre recesso nas próximas semanas. Volto em janeiro.
Feliz Natal e que 2023 seja ótimo para todos nós!