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Começa o segundo tempo!
Voltamos ao jogo para dar seguimento ao tema iniciado na coluna anterior. Agora trataremos do efeito que a idade dos atletas tem na hora da contratação e quais os impactos dessas mudanças no futebol brasileiro.
Idade: cada vez mais importante na decisão de compra
A questão da idade tem sido um aspecto importante na hora de decidir por adquirir os direitos de um atleta. E isso está relacionado à formação técnico/tática dos garotos. O futebol que se aplica na Europa tem talento, mas muita capacidade de compreensão do jogo, das estratégias, da tática.
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E nesse sentido, a formação de base é fundamental, garantindo que o atleta de talento natural desenvolva habilidades de compreensão do jogo, mas que os atletas de menor potencial “artístico” possam desenvolver qualidade como passe, desarme, movimentação, de maneira a aumentar as possibilidades de se desenvolver como profissionais.
Em qualquer atividade da vida não basta talento, é preciso suar a camisa, o que no caso do futebol é algo literal.
Nesse sentido, os clubes de maior poder financeiro buscam atletas já formados, que tenham capacidade de chegar e decidir partidas. Mas eles dependem que outros clubes formem esses atletas.
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No caso dos brasileiros e africanos esse processo de lapidação costuma ser feito por equipes menores das grandes ligas ou mesmo de ligas menores, como a holandesa e a portuguesa. O atleta chega com deficiências, mas em 2 ou 3 anos está pronto para clubes de maior poder esportivo.
Mesmo os clubes grandes estão olhando para essas possibilidades, contratando atletas cada vez mais jovens. Isso costuma diminuir o valor pago, especialmente quando o destino são os clubes menores.
Na tabela abaixo vemos um perfil dos atletas contratados pelas 5 maiores ligas europeias, em termos de idade:
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Note que as grandes ligas estão contratando atletas jovens, exceto a França, que faz um mix com atletas veteranos, justamente para ajudar na formação dos mais jovens.
Mesmo a relação dos clubes que mais contratam jovens é diferente. Note na tabela abaixo os 25 maiores comprados de atletas abaixo de 23 anos:
Veja que entre os 25 que mais contratam atletas abaixo de 23 anos há 9 que não figuram entre os que mais contratam no geral. E entre os que estão nas duas listas, note que alguns (anotados em azul) aportam mais de 50% de seus investimentos em atletas com menos de 23 anos.
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Ou seja, é uma visão clara de que é necessário investir em atletas jovens, com talento e que precisam ser trabalhados nas suas bases. Sem contar que se investe um valor elevado com a expectativa de que esses atletas permaneçam mais tempo defendendo o clube, o que ajuda a amortizar o investimento inicial.
Mas é o Brasil, onde se encaixa nessa história?
Bem, temos boas e más notícias, e vamos tratar delas agora.
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Na relação dos campeonatos que mais movimentaram negociações nessa janela o Brasileirão aparece na 16ª posição, com compras de € 53 milhões e vendas de € 139 milhões.
Lembrando que desse valor, cerca de € 40 milhões havia sido fechado ainda em 2018, que foi a venda de Rodrygo pelo Santos para o Real Madrid, mas que foi formalizado nessa janela de transferências.
Ao compararmos os valores desta janela com os da janela passada, temos o seguinte:
O leitor pode se perguntar onde estão as contratações do Flamengo, Palmeiras e São Paulo, feitas recentemente. A maioria dos atletas veio sem aquisição de direitos econômicos, e uma boa parte foi feita na janela de início de ano.
Mas o que mais importa é analisarmos as Vendas. Isso porque os clubes brasileiros dependem estruturalmente da venda de atletas para fechar suas contas. Note que o valor desta temporada é de 55% menos que o da temporada anterior.
Não observamos negociações relevantes, exceto por Renan Lodi do Athletico Paranaense para o Atletico Madrid. Os valores negociados ficaram bem abaixo disso, e mesmo a quantidade de atletas negociadas com os europeus foi bem menor.
Os nomes mais falados como Everton (Grêmio), Anthony (São Paulo), Pedrinho (Corinthians) seguirão no país, e a venda de Pedro do Fluminense para a Fiorentina ficou em torno de € 12 milhões.
Isso traz algumas preocupações para os clubes, ou deveria trazer. A primeira delas é que os clubes europeus estão interessados cada vez mais em atletas mais jovens. Isso porque o atleta brasileiro possui talento, mas carece de formação técnica e tática que o permita desempenhar bom futebol na Europa.
Recentemente Vinícius Jr declarou que evoluiu muito em seu primeiro ano de Real Madrid e o treinador do Milan comentou que Paquetá sofre com a falta de consistência tática para encarar o futebol europeu.
Assim, as vendas tendem a se transferir dos grandes clubes para os clubes de entrada, notadamente os holandeses, portugueses e franceses. E os valores tendem a ser menores que aqueles sonhados pelos clubes brasileiros.
O segredo a partir de agora é uma negociação para manter parte dos direitos econômicos em futura venda, o que permite um bônus caso o atleta evolua bem no ambiente europeu.
Isto significa que restarão ligas secundárias, como as do Oriente Média e a China, que serão válvulas de escape para atletas de mais idade e com menor liquidez nos mercados nobres. Mas ainda assim é mais um desafio vender atletas para esses mercados, muito mais voláteis.
Ou seja, o que vemos é uma mudança de comportamento da indústria, que vai demandar dos clubes brasileiros uma mudança de comportamento, seja para garantir melhor formação a seus atletas, mas principalmente para reduzir a dependência dessas vendas para fechar seus fluxos de caixa.
O lado bom? Se os clubes se organizarem poderão manter atletas de boa qualidade por mais tempo, e isso ajuda na melhora do jogo, o que se traduz em aumento no interesse geral pelo futebol brasileiro, e consequentemente mais dinheiro, de torcedores, patrocinadores e da TV.
O momento é de mudanças. Saber entendê-lo e se adaptar rapidamente é a chave para o futuro, em qualquer indústria.