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Tem quem opte pela versão ainda mais radical deste método: colocar o cartão de crédito em um copo cheio d’água e deixa-lo no congelador. Quando bater a vontade de fazer uma compra, você precisa esperar ele descongelar. Qualquer tentativa de acelerar o processo no micro-ondas resulta em um chip quebrado.
No entanto, não precisa ir tão longe. Para controlar os gastos, pode bastar deixar o cartão em casa, guardado dentro de uma gaveta. Foi o que a pedagoga Caroline Ribeiro fez. Mas antes de contar a história dela, é importante trazer alguns dados e estudos sobre o uso do cartão de crédito.
O cartão é utilizado 35,8 mil vezes por minuto, segundo estudo da Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs) de 2019. De acordo com pesquisa do Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o cartão de crédito é a principal modalidade de dívida no Brasil, apontado como vilão por 79,5% das famílias endividadas.
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A psicologia econômica mostra que os cartões de crédito estimulam o gasto. O motivo é simples: quanto mais virtual o meio de pagamento, menos dolorido é o ato da compra. Abrir a carteira e contar as notas de dinheiro tem um efeito muito maior do que passar o cartão em uma maquininha. Estudos revelam que os consumidores fazem compras maiores em lojas de departamento quando pagam no cartão, na comparação com compras em dinheiro – e dão maiores gorjetas também.
Não é à toa que um dos estudos clássicos sobre o tema se chama “Sempre saia de casa sem ele”, realizado no MIT. Ele demonstra que a disposição para gastar aumenta consideravelmente quando você anda com o cartão de crédito na carteira.
O problema fundamental é que o cartão cria a ilusão de que você não precisa ter dinheiro para ter o que quer: basta fazer a compra parcelada e depois você “dá um jeito”. Ofertas de pagamento em “10 vezes sem juros” e “zero de entrada” apenas perpetuam esta visão. Quem se dá bem é o varejo.
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Quando Caroline decidiu controlar os gastos, estava já endividada. Decidiu implementar o método do 50/20/30, no qual divide as suas despesas em 3 categorias: essenciais, supérfluos e parcelas das dívidas. Para quem está no vermelho (como era o caso dela), os essenciais deveriam corresponder a 50% dos gastos; os supérfluos, 20%; e as parcelas, 30%. (Aqueles que não possuem dívidas podem redistribuir os gastos da seguinte forma: 50% para essenciais, 30% para supérfluos e 20% para reservas).
Logo ela identificou que o problema vinha com os gastos supérfluos e tomou a decisão simples, mas poderosa, de deixar o cartão em casa. Caroline ainda precisa de alguns meses para resolver as dívidas, mas em apenas um mês ela percebeu uma mudança forte na forma como gastava. O cartão de crédito ficou apenas para as necessidades e compras planejadas. Já os impulsos ficaram sob controle – sem ter como agir na hora em que bate a vontade de comprar, ela acaba sendo “forçada” a refletir se a compra faz sentido mesmo ou não no fim do dia, quando volta para casa.
Parece algo de impacto limitado, mas não é: na entrevista que fiz com ela no meu canal do YouTube, ela conta como deixar o cartão em casa revolucionou a vida financeira dela.
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O que ela fez, na prática, é o que recomendo para quem está com dificuldade para manter os gastos sob controle. Deixar o cartão guardado, apenas para emergências e compras planejadas, pode ter um impacto enorme na sua vida financeira também.