Riqueza e felicidade (5) | Prazer, pertencimento e significado

Enfim, qual é a relação entre o dinheiro e os sentimentos considerados necessários a uma vida feliz?

Wilson Marchionatti

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Vimos nos últimos 4 posts o quanto as sensações positivas de prazer, pertencimento e significado são importantes para o que consideramos uma vida feliz.

O prazer tem uma relação umbilical com o dinheiro, pois o obtemos com conforto, abundância, diversão.

Já o pertencimento se divide em dois tipos: o que pode ser comprado, como pertencer à “elite”, comprar um camarote “VIP”, ostentar um carro de luxo; e o que não pode ser comprado porque depende de nossa essência, como uma amizade desinteressada e verdadeira, o amor dos pais (responsáveis), o reconhecimento pelo mérito, e a auto-estima.

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Por último, vimos que o significado não tem relação alguma com dinheiro. Ele vem de nos compreendermos nossa finitude e de nos observarmos como participantes de algo maior que nós, e de estarmos em paz com tudo isso. O dinheiro, por representar poder, superioridade, acaba muitas vezes indo exatamente na mão-contrária desse sentimento de significado.

Talvez se lembrarmos dos nossos tempos de criança, lembraremos de uma época que não precisávamos pensar em nada disso. Apenas vivíamos felizes de um momento para o outro. Fazíamos amizades verdadeiras em segundos: imagine-se perguntando a um colega de trabalho “quer ser meu amigo?” Veja que quando crianças éramos capazes de fazer a pergunta mais íntima e verdadeira sem qualquer pudor. “Quer ser meu amigo” significa perguntar se aquela pessoa tem interesse em conviver comigo. E deixamos a pergunta aberta, com a maior naturalidade.

Se recebemos um não, podemos até ficar tristes por alguns segundos, mas logo ficamos prontos para uma nova rodada de felicidades. Fazemos amizades e criamos sentimentos de pertencimento com animais, com seres imaginários e até com coisas (quem nunca fez uma cama ou casinha para abrigar um boneco, um relógio, uma bola ou qualquer presente recém ganho?).

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Mas os anos passam e ficamos mais complicados. Sentimos felicidade se temos o carrão, se temos o cargo invejável, se temos dinheiro para gastar. Onde foi parar aquela criança que não precisava disso tudo? A resposta é que aquela criança existia sob uma realidade amparada, havia um ou mais responsável que cuidava da sua vida material: comer, escovar os dentes, vestir-se.

O tempo passa e nós nos tornamos responsáveis pelo nosso próprio amparo material, pois prazeres e conforto são sim fundamentais. Não é possível ser poeta com dor de dente.

E muitas vezes nos preocupamos tanto com o conforto material, que esquecemos daquela criança, que sabia se conectar (pertencer) a coisas que realmente a deixavam feliz, como amigos verdadeiros, atividades que a divertem. Inclusive, profissionais bem sucedidos são muitas vezes pessoas que tem no trabalho um espírito de criança. Você não conhece alguém que trabalha como se estivesse “brincando”, ou seja, que tem prazer no que faz? Essas pessoas não costumam ser muito mais produtivas e eficientes? Claro, o sentimento de pertencimento pelo trabalho multiplica a inventividade e capacidade da pessoa.

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E o sentimento de significado, o mais complexo deles, provém de uma compreensão positiva do propósito da vida. Compreender que nossa passagem na terra tem uma razão, e estar em paz com isso.

Para sermos felizes em nossa idade adulta precisamos de um equilíbrio entre nosso bolso e nossa alma, entre nosso lado adulto e nosso lado criança. Nossa criança sabe como ninguém escolher a que pertencer, nosso lado adulto sabe como ninguém planejar o futuro e calcular riscos.

Normalmente estamos entre um extremo e outro, às vezes vivendo sem responsabilidade com o futuro, mas se divertindo com o presente, às vezes obcecados com o futuro e incapazes de curtir o momento. Um primeiro passo em direção ao equilíbrio é necessário, seja no sentido de pensar como adulto e fazer a primeira poupança, seja no sentido de pensar um pouco menos no lado material e passar a escolher fazer coisas e conviver com pessoas que nossa criança interna (nossa parte verdadeira) gosta.

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O primeiro passo é sempre o mais difícil, seja começar a poupar ou começar a se relacionar com coisas e pessoas que realmente gostamos. Mas não podemos esquecer que “uma jornada de mil milhas começa com esse único passo”.