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SÃO PAULO – Em 1808, quando Napoleão, imperador francês, invadiu Portugal, a coroa e a corte de Dom João VI fugiram da Europa – e se instalaram no Rio de Janeiro, na principal colônia portuguesa, o Brasil. Em 1815, o rei português resolveu fazer algo que mudaria a história nacional: criou o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, igualando, pela primeira vez, a colônia ao status da metrópole.
Quase 200 anos depois, um novo império lusofônico deve nascer, cobrindo praticamente o mesmo território: a CorpCo, que resultará da fusão de Oi (OIBR3; OIBR4) e Portugal Telecom. Assim como o reino português, a nova companhia – que nasce como uma gigante – se estenderá das Américas até a Ásia, do Brasil ao Timor Leste. E será, nas palavras do CEO (Chief Executive Officer) de ambas as companhias, Zeinal Bava, uma das maiores empresas de telecomunicações do mundo.
Assim como o Reino do século XIX, a maior parte das riquezas virá do Brasil: os maiores acionistas continuarão sendo os brasileiros e 75% das receitas continuam a se originar do País. Como o outro, esse novo “império” também será centrado no Rio de Janeiro. Porém, será muito maior: a população de Portugal e Brasil não chegava a 10 milhões por volta de 1808. O número de clientes da CorpCo será de 100 milhões, dentro de um universo potencial de 250 milhões de pessoas – sendo 190 milhões destas pessoas no Brasil.
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Mas contará com todos os recursos disponíveis do “império” – humanos e de mercado. O próprio Bava é uma prova de quão globalizado o mundo é: é de origem indiana – país que teve uma importante colônia portuguesa, chamada de Goa -, nasceu em outra ex-colônia, Moçambique, e possui cidadania lusitana. Eleito o melhor executivo de telecomunicações da Europa por três vezes, Bava é considerado um “talento” do setor.
Uma gigante do setor
A fusão é uma grande internacionalização da Oi e da PT. Permitirá sinergias estimadas por ambas as companhias em R$ 5,5 bilhões e criará um gigante com receitas de R$ 40 bilhões por ano e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 12 bilhões. Mas esse colosso da telecomunicações lusofônico também é fortemente endividado, com mais de R$ 40 bilhões em dívidas.
Mas será uma companhia que tem mais perspectivas positivas – além de sinergias financeiras, pode ter ganhos operacionais. Permitirá o crescimento em alguns dos mercados mais interessantes do mundo, como a África, onde a Novitel, de propriedade da PT, é uma das maiores companhias, em países que veem suas economias avançarem agressivamente, como Angola e Moçambique.
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Dom João VI, ao igualar Brasil e Portugal, acabou criando o sentimento que levou à independência brasileira, sete anos depois, em 1822 – quando, passadas as turbulências na Europa, Portugal quis “recolonizar” o Brasil. Desta vez, Brasil e Portugal se unem novamente para criar um império de escala global, capaz de orgulhar Dom João VI. Resta saber se vai dar certo.