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A comunicação que se seguiu à decisão do Copom reforça o compromisso do BC com a meta de inflação e deve ajudar a manter as expectativas para o ano que vem sob controle

Alexandre Schwartsman

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(Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)
(Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)

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A decisão do Banco Central (BC) na semana passada, um aumento da Selic de 3,50% para 4,25% ao ano, não foi uma surpresa. Como, de resto, também não foi a eliminação da expressão “normalização parcial”, uma sinalização do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre sua intenção de manter a taxa de juros abaixo de 6,5% ao ano, substituída por “normalização da taxa de juros para patamar considerado neutro” (isto é, 6,5% ao ano), que discutirei em mais detalhes à frente.

Se houve algo inesperado na reunião do Copom foi o aviso que, muito embora o BC ainda pense em repetir a magnitude do ajuste em sua próxima reunião (no dia 4/8), o aumento pode ser ainda maior, caso as expectativas de inflação para 2022 continuem a se deteriorar, mensagem reforçada na Ata da reunião, divulgada há pouco.

Fonte: BCB (FOCUS)

Como se vê acima, analistas que contribuem para a pesquisa Focus, esperavam, há poucos meses, que a inflação, depois de desviar consideravelmente para cima da meta em 2021, retornaria a ela em 2022, uma indicação na crença da capacidade do BC em impedir que os fatores que elevaram a inflação este ano contaminassem o próximo. Isto, porém, deixou de ser verdade.

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Não se trata, é bom deixar claro, de sangria desatada. As expectativas ainda se encontram algo como 0,3% acima da meta para o ano que vem, nada extraordinário. A causa do desconforto do BC é menos com a magnitude da diferença e mais com o fato de ela ocorrer quando ainda faltam 18 meses para o final de 2022, ou seja, tempo suficiente para que os aumentos de preços de commodities se dissipem e o BC calibre a taxa de juros para fazer com que a inflação convirja à meta. Posto de outra forma, sugere que analistas, de alguma forma, duvidam da disposição do BC em trazer a inflação de volta à trajetória de metas.

A origem da dúvida pode estar na própria expressão agora removida da comunicação do BC.

Quando iniciou o ciclo de aperto monetário em março, o Copom anunciou também que pretendia fazer uma “normalização parcial” da taxa de juros, ou seja, embora elevasse a Selic, imaginava que não seria necessário trazê-la até seu nível considerado “neutro” (que não estimula, nem desestimula, o crescimento na comparação com o seu ritmo potencial, em torno de 2,0-2,5% ao ano no longo prazo), que o próprio BC parece estimar se encontrar próxima ao supramencionado 6,5%.

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Tal afirmação foi interpretada como possível falta de vontade para combater a inflação, a tal ponto que, na reunião seguinte, em maio, o BC tentou elucidar a questão, adicionando que “não há compromisso com essa posição e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação”. Mesmo assim, analistas parecem ter continuado a duvidar da intenção do BC, fenômeno que, diga-se, pode ocorrer também com a intepretação acerca da “normalização da taxa de juros para patamar considerado neutro”.

Neste sentido, é bem vindo o esclarecimento constante da Ata, em que o BC afirma que:

“O compromisso inequívoco do Banco Central é com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e os passos futuros da política monetária são livremente ajustados com esse objetivo, conforme novas informações se tornam disponíveis.”

O tom mais duro da comunicação, sinalizando a possibilidade de um aumento de 1 ponto percentual na Selic em agosto, e a mensagem da Ata reforçam o foco na inflação e devem ajudar a manter as expectativas sob controle.

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O desafio do BC quanto à inflação é claro. Embora a batalha de 2021 já esteja perdida, ainda lhe cabe evitar que o impacto do aumento dos preços agora, mais concentrado nos produtos afetados pelo dólar, contamine os demais. Nesse sentido, foi importante o posicionamento expresso na Ata.

Pessoalmente, acredito que, face à severidade do choque, há certamente o risco de o BC não encerrar o ciclo de aperto em 6,5%, conforme planejado, chegando um tanto acima deste patamar. Parte por força dos desenvolvimentos que já conhecemos; parte ainda maior por conta da dinâmica da sucessão presidencial que aponta para um quadro de políticas econômicas impalatáveis dentre os favoritos ao cargo.

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Alexandre Schwartsman

Alexandre Schwartsman foi diretor de assuntos internacionais do Banco Central e economista-chefe dos bancos ABN Amro e Santander. Hoje, comanda a consultoria econômica Schwartsman & Associados. Formou-se em administração pela Fundação Getulio Vargas, fez mestrado em economia na Universidade de São Paulo e doutorado em economia na Universidade da Califórnia em Berkeley.