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Na semana passada, o jornal O Estado de S. Paulo publicou matéria baseada em dados divulgados pelo Tesouro Nacional revelando que o Brasil, dentre 74 países, ocupava a sétima posição no quesito “remuneração de empregados”, rubrica que no Manual de Finanças Públicas do FMI expressa o montante gasto no pagamento ao funcionalismo público.
Esse montante se divide em duas partes. A principal inclui salários e vencimentos, definidos como “pagamentos em dinheiro e/ou em espécie, efetuados pelo governo aos empregados em troca da prestação do serviço”. Ou seja, não apenas os salários, mas também “vantagens fixas de pessoal civil e militar, bem como a contratação por tempo determinado”, isto é, também “penduricalhos”.
A segunda inclui as contribuições sociais, ou seja, “pagamentos (…) feitos por unidades do governo (…) a sistemas de seguridade social que proporcionam aos servidores (…) o direito a receber prestações sociais, incluindo pensões e outros tipos de aposentadorias.”
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Como notado pelo Tesouro, “são pagos pelos empregadores em benefício de seus empregados e, portanto, são registrados como um componente de remuneração”.
Houve, contudo, críticas, no meu entender infundadas, à inclusão das contribuições sociais como custo da remuneração de empregados.
Parte destas contribuições é efetiva, como, por exemplo, os pagamentos feitos à Funpresp. Mas parte são contribuições “imputadas”, isto é, uma estimativa de quanto o governo teria que pagar para que seus funcionários hoje na ativa pudessem usufruir suas pensões quando se aposentassem.
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Embora o critério do FMI me pareça correto, decidi investigar como ficaria o cálculo caso considerássemos apenas a primeira parcela da remuneração de empregados, isto é, “salários e vencimentos”. Os resultados aparecem no gráfico abaixo.
Fonte: FMI (https://data.imf.org/?sk=a0867067-d23c-4ebc-ad23-d3b015045405&sId=1544448210372)
Como se vê, o Brasil ainda se manteria nas primeiras posições do ranking, agora em 11º lugar entre 68 países (nem todos divulgam a abertura da conta de remuneração de empregados).
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Mesmo ignorando, portanto, a questão das contribuições à previdência, à qual retornaremos no final do artigo, ainda somos um país que gasta muito com seu funcionalismo.
Esta informação, embora importante, deixa de fora dois aspectos essenciais para o entendimento.
Em primeiro lugar, a questão do custo para a população com a manutenção do funcionalismo, ou seja, o gasto por habitante. Para fins de comparação internacional, uso os dados de 2019, devidamente convertidos a uma unidade comum, no caso o dólar.
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Não utilizo as taxas de câmbio correntes, mas as estimadas pela paridade de poder de compra (PPC), ou seja, taxas de câmbio que equalizam o custo de uma determinada cesta de produtos entre países.
Fonte: FMI
Como se vê, o Brasil (ponto preto acima) gasta mais por habitante do que os países em sua faixa de renda per capita (os pontos em cinza), exceto a África do Sul, cujo gasto é praticamente igual ao nosso.
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Fonte: Autor com dados do FMI e Fund for Peace
Já o gráfico acima trata da segunda questão, ainda mais relevante: o que obtemos em troca deste gasto?
Para responder a esta pergunta, usamos um índice de qualidade de serviços públicos calculado pelo Fund for Peace que busca capturar tanto o fornecimento de serviços (como saúde, educação e água), quanto a capacidade do governo de proteger seus cidadãos contra a violência (dados obtidos aqui).
O índice original varia de 10 (pior qualidade) a zero (melhor qualidade), mas, para facilitar o entendimento, redefini a escala de zero (pior) para 10 (melhor).
Os dados confirmam o que já se intuía: a população brasileira recebe muito pouco em troca do que paga ao funcionalismo, mesmo se considerarmos apenas salários e vencimentos.
Embora a África do Sul se assemelhe a nós neste aspecto, vários outros países, como a Bósnia (destacada acima), oferecem serviços de melhor qualidade em troca de gasto similar ao nosso, ou mesmo bastante inferior.
Isto dito, é ilusão acreditar que o custo do funcionalismo reflete apenas o pagamento de salários.
O governo brasileiro em seus três níveis gastou em 2019 cerca de 5% do PIB em pagamentos de aposentadorias e pensões para seus funcionários inativos, disparado o maior valor da amostra, seguido (de longe) pelo Reino Unido, Tailândia e Nepal (todos na casa de 2% do PIB) e, mesmo com a reforma previdenciária aprovada naquele ano, há ainda um enorme contingente de funcionários ativos que irá se aposentar em condições similares, o que deve manter nossa dianteira nesta nada honrosa corrida.
Posto de outra forma, a remuneração do funcionalismo na ativa não compreende apenas os salários e vantagens da função, mas também um fluxo correspondente ao seu direito a aposentadorias em condições melhores do que o resto da sociedade, ou seja, os números acima subestimam (e muito) o custo efetivo do funcionalismo público (civil e militar).
Apesar, portanto, do lobby contrário, é cada vez mais clara a urgência de uma reforma administrativa profunda, isto é, algo totalmente distinto da proposta atual.
Não se trata apenas de adequar o gasto à nossa renda, mas de assegurar serviços de qualidade congruente ao muito que pagamos.
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