Os preços da energia não devem cair no curto prazo

Se já está difícil conviver com a alta dos preços dos alimentos e dos bens de consumo, ficará ainda mais complicado com a baixa expectativa na queda dos preços do combustível, da água e da energia

Eli Borochovicius

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A Empresa de Pesquisas Energéticas divulgou no último dia 29 de outubro, portanto, a resenha mensal mais recente, que o consumo de energia no Brasil em setembro foi o maior da série histórica para o mês. Foram consumidos no país 41.636 GWh. Para efeito de grandeza, o Brasil consumiu 640 terawatts no ano de 2019.

As usinas hidrelétricas respondem a 62% de toda energia gerada no país. Assim, neste momento de seca que estamos passando – considerado um dos mais drásticos desde que a medição dos índices pluviométricos foi iniciada – a oferta de energia ficou comprometida.

Como houve investimentos recentes em energia eólica, mais de 10% da energia do país advém dos ventos. Mas ainda há dependência das termelétricas: 8,7% de biomassa, 8,4% de gás natural, 5,1% do petróleo e 2% do carvão. A energia solar, que deveria ser incentivada por ser abundante, limpa e barata, responde a menos de 2% do conjunto de geração. E ainda temos 1% de geração de energia nuclear.

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Ainda que a situação seja delicada, é pouco provável que o Brasil sofra um apagão, como ocorreu em 2001, porque o país tem condições de transferir energia entre as suas regiões. No entanto, o Operador Nacional do Sistema Elétrico, que coordena a geração e transmissão de energia no Brasil, já sinalizou que a produção de eletricidade deverá ser insuficiente para atender a demanda e haverá necessidade de importar energia dos vizinhos Argentina e Uruguai.

Algumas empresas especializadas em energia buscaram entender o custo da geração de energia em agosto desse ano e concluíram que o preço médio do Mwh é de aproximadamente R$ 113 para a energia eólica, R$ 115 para a energia solar, R$ 183 para a energia hidrelétrica, de R$ 350 a R$ 1.000 para a energia termelétrica e mais de R$ 1.100 para a energia importada. Os valores podem sofrer variações, principalmente em função da volatilidade da cotação da moeda estrangeira, mas os dados são suficientes para compreender um dos motivos do brasileiro ter a percepção de aumento na conta de energia.

A falta de investimentos no setor, além de certo descaso dos governantes, desde a última crise hídrica em 2014, impactará no orçamento familiar. O Estado deveria ter incentivado a aquisição de sistemas fotovoltaicos para empresas e residências, visando geração de energia própria. Com menor necessidade de consumo de energia da rede, as termelétricas seriam menos demandadas, assim como seria necessária menor importação. Com isso, os preços não sofreriam essa alta escandalosa, reduzindo ainda mais o poder de compra do brasileiro.

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A Câmara dos Deputados aprovou em agosto a cobrança de tarifa pelo uso de fios de distribuição de energia para os consumidores que utilizam fontes de energia renovável. Em vez de incentivarem a instalação de sistemas de geração de energia própria, sugerem aumento do custo, reduzindo o interesse dos investidores. O projeto está parado no Senado e precisa ser mais bem discutido para não frear a ampliação de oferta de sistemas de geração de energia solar.

As maiores usinas de energia eólica e de energia solar, ficam no estado do Piauí: o complexo Lagoa dos Ventos possui duas unidades com 230 turbinas eólicas e uma terceira unidade com outras 72 turbinas está em construção, devendo gerar 1,1 Gw no total. Já o parque solar São Gonçalo possui 12 km2 e deve ter mais de 2 milhões de módulos solares bifaciais, que aproveitam a luz direta e a refletida pelo solo.

Também está em desenvolvimento o sistema de energia eólica a partir de turbinas flutuantes em alto-mar. Com isso, o Brasil dependerá menos dos terrenos em que as turbinas são instaladas e a eficiência energética deve ser maior, já que não haverá barreiras naturais ou edificações.

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Havendo conscientização coletiva e incentivo governamental para geração de energia própria, é possível que, no futuro, a demanda seja menor, a oferta seja maior e os preços caiam. Mas a expectativa no curto prazo é que os brasileiros continuem sofrendo com o alto preço da energia.

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Eli Borochovicius

Eli Borochovicius é docente de finanças na PUC-Campinas. Doutor e Mestre em Educação pela PUC-Campinas, com estágio doutoral na Macquarie University (Austrália). Possui MBA em gestão pela FGV/Babson College (Estados Unidos), Pós-Graduação na USP em Política e Estratégia, graduado em Administração com linha de formação em Comércio Exterior e diplomado pela ADESG. Acumulou mais de 20 anos de experiência na área financeira, tendo ocupado o cargo de CFO no exterior. Possui artigos científicos em Qualis Capes A1 e A2 e é colunista do quadro Descomplicando a Economia da Rádio Brasil Campinas