O sobe e desce da economia

As pessoas precisam ter conhecimento financeiro para receber as ferramentas necessárias para se organizar no momento da subida da economia

Silvia Alambert Hala

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Vista de comunidade no Brasil (Getty Images)
Vista de comunidade no Brasil (Getty Images)

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A economia é cíclica e muitas pessoas não percebem que ela se move como uma roda gigante: quando ela está subindo, as pessoas acreditam que continuará assim para sempre e que podem ficar ali, tranquilas, apreciando a paisagem. Mas elas se esquecem que, em algum momento, começará a descida.
Altos e baixos. É assim que a economia se comporta.

Houve o “Milagre Econômico”, entre 1969 e 1973; depois, o confisco do dinheiro da poupança em 1990; o Plano Real em 1994; o “Efeito Samba” em 1999; de 2007 a 2010, o elevado crescimento do PIB brasileiro comparado ao PIB mundial; a crise de 2008, que teve início nos Estados Unidos, mas que desacelerou a economia nacional; a forte crise que levou à recessão econômica entre 2014 e 2016; e a recente recessão em decorrência da pandemia que teve início em 2020.

Não são poucos os momentos históricos da economia. O fato é que toda crise deixa suas sequelas pelo caminho.

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Quando a economia inicia sua descida e, por vezes, rapidamente, muitas pessoas não entendem o seu mecanismo, isto é, nem os porquês e nem como isso acontece, e só sentem seus efeitos quando ela já está lá embaixo, quando o desemprego já bateu à porta ou quando percebem que a mesma quantia de dinheiro já não consegue mais pagar prestações, contas e comprar alimentos.

Quando a recessão causada pela Covid-19 atingiu a economia em março de 2020, por exemplo, o mercado de trabalho já estava fragilizado.

Cerca de 52 milhões de brasileiros já estavam vivendo na linha da pobreza em 2019. Desses, cerca de 23 milhões viviam abaixo dela, segundo a pesquisa Desigualdade de Impactos Trabalhistas na Pandemia, coordenada pelo diretor da FGV Social.

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Segundo este mesmo levantamento, publicado em outubro de 2021, por causa da ajuda do auxílio emergencial mais alto, em setembro de 2020, o número de pessoas abaixo da linha da pobreza, ou seja, famílias com renda per capita até R$ 100, caiu para cerca de 10 milhões de brasileiros.

Porém, quando o auxílio emergencial foi suspenso, no primeiro trimestre de 2021, e o Bolsa Família foi devolvido, esse movimento atingiu 34 milhões de pessoas. Depois, com o retorno do auxílio emergencial, o número voltou a cair, atingindo 28 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza. Porém, um número ainda maior do que antes da pandemia.

Esses números refletem bem mais do que os estragos deixados pelo histórico de crises externas e internas, como a longa crise de 2014-2016 – chamada de “Grande recessão brasileira” – que continuou arrastando consigo 55 milhões de brasileiros para a linha da pobreza e extrema pobreza ainda em 2017.

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Mas os dados chamam a atenção para um quadro assustadoramente perigoso quando se pensa em perspectiva de crescimento futuro e de prosperidade de uma Nação, já que, para a população que vive nessa condição, o subsídio pago pelo governo muitas vezes é a única entrada de recurso financeiro dessas famílias.

Há, ainda, outros números que apontam o alto nível de brasileiros dependentes financeiramente do governo, fruto também, mas não somente, da falta do comprometimento e investimento na educação por parte dos governantes e da falta de programas de educação financeira à população brasileira, já que a cada crise também vemos a camada intermediária da população sendo achatada, por não possuir nem mesmo o mais básico dos investimentos, que é a poupança. Com isso, fica nítido o aumento do abismo entre as classes sociais.

Segundo um estudo do Instituto Locomotiva publicado em abril de 2021, o percentual de brasileiros na classe média caiu de 51% para 47%, o que representa que cerca de 5 milhões de famílias da classe média caíram para a classe baixa.

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Isso significa que mesmo as famílias com renda mensal entre R$ 668 e R$ 3.755 por pessoa foram empurradas para a linha da pobreza, já que não tinham recursos guardados, para atravessar essa crise e não se encaixavam no grupo de pessoas que podiam contar com o auxílio emergencial.

A única certeza em meio aos números é que uma crise sempre impactará a vida financeira das pessoas. Infelizmente, o cobertor sempre encolherá para aqueles que já tem o cobertor curto. Por isso, as pessoas precisam receber o conhecimento financeiro, para que possam não apenas se preparar com antecedência ao movimento de descida da economia, ainda que “preparar-se” não signifique estar livre dos impactos que uma crise sempre traz consigo ou que não precisem se preocupar com ela, mas significa receber os ensinamentos básicos e as ferramentas necessárias para que possam se organizar no momento da subida da economia, para saber passar pelos momentos de crise com mais dignidade.

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Silvia Alambert Hala

Sócia, co-fundadora da Creative Wealth™ Intl (USA), empresa americana fundada em 2002 e proprietária dos programas de educação financeira para crianças e jovens The Money Camp™, Camp Millionaire™, Moving Out! ™ e The Money Game™ que se dedica à formação de educadores financeiros escolares e mentores e tutores de crianças e jovens ao redor do mundo. Silvia atua há 15 anos como educadora financeira de crianças e jovens em escolas e nas famílias, coach especializada em finanças comportamentais, palestrante, formadora de educadores financeiros escolares no Brasil, co-autora do livro “Pai, ensinas-me a poupar!” (Ed. Rei dos Livros) publicado em Portugal, representante da APOEF™ (Associação de Profissionais Orientadores e Educadores em Finanças) nos Estados Unidos da América e coordenadora do projeto de educação financeira para jovens atletas de alto desempenho da empresa Sports To Go™. Instagram: @silviaalambert_edufin www.silviaalambert.com www.creativewealthintl.com