O menino das maçãs

Muitas pessoas buscam uma fórmula milagrosa para enriquecer e a história do menino das maçãs poderá servir como exemplo para quem deseja construir fortuna.

Eli Borochovicius

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Castelo 6

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Essa é a história do menino que ficou milionário.  

Tinha jeitão de pobre, vestia camiseta surrada, branca estampada com propaganda de loja. Usava calças cinza, largas, com a barra acima do tornozelo, tecido esgarçado e calçava chinelos de dedo com o calcanhar para fora, demonstrando claramente utilizar uma numeração não condizente com o tamanho de seus pés, que, aliás, desfilavam sujos pelas ruas e com unhas mal cuidadas. Estava só, sem família, sem destino.  

Final de semana perambulava pelas ruas do bairro pedindo dinheiro. Certo dia, mais precisamente quarta-feira, era dia de feira na região e o menino passou pela barraca de maçãs, vendidas ao preço de R$1,00 cada. Com uns trocos no bolso, entregou as moedas ao vendedor e adquiriu uma unidade.   Antes de comer, lavou a fruta, secou com um guardanapo limpo, lustrou e antes que pudesse dar a primeira mordida, topou de frente com uma senhora aparentando seus 50 anos de idade, com os cabelos ressecados. Os óculos escuros na cabeça prendiam os cabelos e ela trajava um vestido até os joelhos de cor azul marinho, branco e vermelho, sapato baixo e uma bolsa grande a tiracolo. Ofereceu-lhe R$2,00 pela maçã, a mais bonita da feira.   Com esse dinheiro, o menino voltou à barraca e comprou 2 maçãs. No mesmo ritual, lavou as maças, secou, lustrou e as vendeu, fazendo R$4,00. Comprou 4 maçãs e fez R$8,00, depois R$16,00, R$32,00 e assim passou o dia, semanas, meses, até que conseguiu ter a sua própria barraca.  

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Alguns anos depois, descobriram que o irmão do seu falecido pai havia se envolvido em um acidente e perdeu a vida tragicamente. Na abertura do inventário, encontraram o nome do menino como único familiar com vida. Ele recebeu a herança e assim fez fortuna.  

Essa não é uma história real.

Parece óbvio, já que seria praticamente impossível encontrar tanta gente disposta a comprar maçãs pelo dobro do preço ofertado no mesmo local. Além disso, penso que a mensagem passada é antiquada, dado que acredito na condição de enriquecer trabalhando e formando poupança. De qualquer forma, ela me faz refletir sobre dois pontos que desejo compartilhar com você.   

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O primeiro deles é que a maioria das pessoas torce pelo sucesso financeiro do menino, mas não se preocupa com o homem da barraca de maçãs, agora seu concorrente. Temos por costume não enxergar aqueles que não são protagonistas das nossas histórias. As pessoas com alto desempenho profissional não vivem de forma egocêntrica.  

O segundo ponto de reflexão é que os leitores ficam ansiosos pelo desfecho do menino empreendedor e se frustram com o final da história, mas em nenhum momento questionam a sua felicidade.

O dinheiro não deveria ser o foco da história, ele não traz os familiares de volta e não apaga as memórias de sofrimento.  

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Essa é uma história que sempre me motivou a ser um bom profissional, bom marido, bom pai, bom amigo e um bom ser humano. Ouvi enquanto criança e me fez dedicar mais tempo às relações sociais e à construção de uma vida de retidão.  

Não importa o desfecho e pouco importa o quão rico o menino ficou. O brilhantismo da história está nas suas ideias, em sua criatividade e no seu talento para progredir. É uma história que me faz refletir sobre como uso o meu dinheiro e de como aproveito o tempo com as pessoas que julgo serem importantes na minha vida.  

Aprendi que é mais importante encontrar uma fórmula milagrosa para fazer felicidade a uma que faça fortuna. Como não são coisas excludentes, se encontrar as duas, um tanto melhor.      

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Eli Borochovicius

Eli Borochovicius é docente de finanças na PUC-Campinas. Doutor e Mestre em Educação pela PUC-Campinas, com estágio doutoral na Macquarie University (Austrália). Possui MBA em gestão pela FGV/Babson College (Estados Unidos), Pós-Graduação na USP em Política e Estratégia, graduado em Administração com linha de formação em Comércio Exterior e diplomado pela ADESG. Acumulou mais de 20 anos de experiência na área financeira, tendo ocupado o cargo de CFO no exterior. Possui artigos científicos em Qualis Capes A1 e A2 e é colunista do quadro Descomplicando a Economia da Rádio Brasil Campinas