Todos seremos substituídos por robôs? Os mitos e verdades sobre o futuro do trabalho

Consultoria Page Personnel analisa o cenário da evolução tecnológica nos empregos

Giovanna Sutto

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SÃO PAULO – Com a evolução da tecnologia, cada vez mais se pensa em como será o futuro do trabalho. Pensar que os homens podem substituídos por robôs ou que não haverá mais empregos num futuro próximo geram algumas angústias nos profissionais. Uma das principais responsáveis por esses questionamentos é a inteligência artificial (IA), ciência que estuda a capacidade das máquinas pensarem como seres humanos.  

“A IA vai mudar a forma como os seres humanos pensam e atuam no trabalho, no conceito mais profundo de ocupação profissional, e não podemos confundir a substituição de tarefas com a invalidação da mente humana”, alerta Ricardo Basaglia, diretor executivo da Page Personnel, consultoria de recrutamento.

A empresa fez um levantamento sobre os mitos e verdades dos impactos da inteligência artificial para o futuro do trabalho e das carreiras, de acordo com a análise de Basaglia. Confira:  

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Mitos

A inteligência artificial vai substituir os gestores

Há um tempo atrás, os gestores detinham o conhecimento mais valioso, em partes específicas, dentro de um negócio. Hoje, os sistemas detêm mais informações, dados e capacidade de processamento do que qualquer um de nós.

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Porém, as qualidades da mente humana não serão automatizadas ao ponto de toda a cadeia de trabalho prescindir de virtudes exclusivamente humanas: empatia, altruísmo, sensibilidade para distribuição de responsabilidades, entre outras, segundo Basaglia.

Mesmo em setores que já estão sofrendo um imenso impacto tecnológico, como o varejo e as indústrias, é ilógico imaginar modelos de gestão independentes do fator humano, apesar do crescimento exponencial da IA.

“Podemos admitir que no futuro boa parte da força humana seja obrigada a assumir habilidades de gestão, até mesmo em seu dia a dia, pensando na hipótese da IA ter dominado as tarefas mais físicas e operacionais dos negócios. Portanto, não há como substituir um gestor”, analisa o especialista.

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 A IA já é mais criativa que o cérebro humano 

Os avanços da neurociência nos mostram que ainda estamos longe de compreender alguns mistérios do cérebro humano, entre eles, a nossa incrível capacidade de criar, destruir e refinar ideias, ou seja, o que chamamos de criatividade.

“A IA é mais competente do que nós em tarefas de análise, organização e até resolução de alguns problemas, mas ainda não é capaz de melhorar a si mesma, em diversos campos, e aprender coisas novas sem informações prévias. Grandes empresas já estão trabalhando na chamada ‘deep learning’ (aprendizagem profunda), um dos mais promissores campos da IA, que pretende fazer dos sistemas entidades capazes de aprender evolutivamente”, explica o especialista. Mas, segundo ele, ainda não é possível, e talvez nunca será, eliminar o fator humano, entre outros pontos, da própria avaliação dessa disciplina tecnológica.

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A robótica será capaz de substituir humanos em todas as atividades complexas

“Temos o exemplo da computação cognitiva, dos robôs que podem administrar procedimentos cirúrgicos e até reger orquestras, mas em primeiro lugar, a substituição completa do fator humano só seria possível se a oferta de robôs fosse barata e acessível em larga escala”, afirma Basaglia.

as segundo ele, “fora dos extremismos tecnológicos”, esse não parece ser o caminho. No mundo real ninguém pode afirmar que a robótica poderá eliminar todas as formas de trabalho e as carreias dos seres humanos. Hoje essa possibilidade não faz sentido.

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A IA vai substituir humanos em áreas como vendas, atendimento ao cliente, operações e marketing digital 

“Estes campos sofrerão enormes impactos, ao lado da indústria de modo geral”, diz o especialista.

“Mas, mesmo que a IA consiga substituir seres humanos em todas as etapas das áreas citadas, temos que fazer uma simples pergunta: este é o desejável? Certamente, não. O atendimento ao cliente é o melhor exemplo, pois trata-se de algo de simples execução. É saudável robotizar a interação clientes/empresas e pessoas/serviços? Não. O marketing digital, fortemente influenciado pela IA, não é capaz de iniciar uma campanha, de criar personagens e roteiros sobre marcas e pessoas. O mesmo vale para vendas e operações”, afirma.

Segundo Basaglia, a IA forçará a qualificação do fator humano, mas não podemos pensar na completa substituição. 

Verdades

A inteligência artificial será capaz de determinar o quanto um negócio/comércio/empreendimento será competitivo no mercado

“Sim, e independe do segmento de mercado. A IA será determinante para o sucesso dos negócios, mesmo que não possa substituir ou automatizar processos”, diz o especialista.

Esse tipo de tecnologia será preponderante para a finalização de uma compra, troca de um produto, escolha de serviços ou para a manutenção de algo, por exemplo. Neste ponto, não haverá outra alternativa para empresas a não ser compreender a inovação e quais serão as brechas que a IA não poderá suprir, e partir daí, buscar o reforço do fator humano.

Estudos, isentos da especulação, mostram a expectativa de eliminação de empregos na sociedade em médio prazo 

“O Banco Mundial acredita que a IA vai eliminar até 65% das modalidades de trabalhos existentes hoje nos países em desenvolvimento e o Brasil está incluso”, diz Basaglia. Mas segundo ele, não existe uma prazo definido para que isso ocorra.

Ele explica que maior desafio das empresas será “reinventar a noção de carreira”, quando os profissionais poderão investir tempo e aprendizado para se desenvolverem e conquistar reconhecimento dentro uma mesma empresa.

A IA pode ajudar pequenas e médias empresas a conseguirem novos clientes ao identificar oportunidades com mais chance de fechar negócio

“As redes de e-commerce já estão nesse caminho. Em breve, pequenos negócios também terão a IA como aliada para interpretar opções de compras e o histórico de preferências de seus clientes”, explica.

A IA vai revolucionar carreiras historicamente associadas à subjetividade humana, como Educação, Medicina, Direito e Psicologia

“Essa questão está confundindo um pouco a opinião pública. A Educação ganhou o componente do EAD (ensino à distância), uma ferramenta de auxílio, poderosíssima, mas complementar, pois não pode eliminar a figura central do professor”, acredita Basaglia.

Já existirem cursos ministrados por um software de inteligência artificial, mas são orientados por pessoas, e não apenas baseados em algoritmos. “A Medicina Preventiva receberá milhões em investimento, pois a capacidade da IA em diagnosticar possíveis doenças e oferecer opções é muito superior à humana, o que também não invalida a figura do médico ou profissional da saúde”, diz. Para o Direito, é a mesma coisa: programas serão capazes de consultar leis, normas e novas regulações, mas nã faz sentido pensar que a figura do advogado vai desaparecer.

“Não haverá a eliminação nem dos profissionais e nem das oportunidades, seja pela enorme demanda ou pela essência por trás desses segmentos”, afirma Basaglia.

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Giovanna Sutto

Jornalista com mais de 6 anos de experiência na cobertura de finanças pessoais, meios de pagamentos, economia e carreira. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.