Teste da Semana de 4 Dias de trabalho no Brasil acaba neste mês: veja resultados

21 empresas estão na fase de conclusão do experimento

Anna França

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O sucesso na implantação da Semana de 4 Dias no setor privado em Portugal, que estuda adotar o modelo de trabalho também na administração pública, animou os organizadores do projeto-piloto no Brasil. Por aqui, ainda neste mês, as 21 empresas que integram o experimento vão concluir os trabalhos previstos.

Foram três meses de preparo e mais seis de dedicação para mudar a forma como o trabalho é executado, com foco em bem-estar e aumento da produtividade. Os resultados serão tabulados até agosto, numa pesquisa coordenada pela 4 Day Week Brazil, em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV) e o Boston College.

Entenda

A Semana de 4 Dias começou em 2019, na Nova Zelândia, e se espalhou por vários países de Europa, África e Américas sob a gestão do movimento 4 Day Week Global, uma comunidade sem fins lucrativos. Segundo a entidade, já são quase 500 companhias pelo mundo testando a modalidade de jornada em que o profissional continua recebendo 100% do salário, mas trabalha 80% do tempo e, em troca, se compromete a manter 100% de produtividade, que ficou conhecido como 100-80-100.

No Brasil, o grupo de empresas que finaliza a implementação da modalidade conta com o apoio da consultoria Reconnect Hapiness at Work. Renata Rivetti, fundadora da Reconnect, explica que o projeto em Portugal começou diferente, porque por lá foi o próprio governo que subsidiou a iniciativa. “Eles queriam acompanhar de perto todo o processo e checar o resultado, que foi considerado bastante positivo”, explica. Segundo Rivetti, as empresas portuguesas tiveram três meses para um momento ‘tira-dúvidas’, mais três meses de preparação e outros seis de projeto, com envolvimento de 41 empresas e mais de 1.000 trabalhadores.

“As empresas de Portugal que conseguiram mudar de fato, com melhoria de processos, tiveram sucesso. Outras optaram até por diversificar a receita, criando a quinzena de nove dias de trabalho”, diz Rivetti. Entre as melhorias estão desde o uso de novas tecnologias até condições mais satisfatórias nas relações interpessoais e no cumprimento de prazos.

Por isso, mais da metade (52%) das companhias vão manter a Semana de 4 Dias e 62% daquelas que mudaram dois ou mais processos aumentaram seus lucros, de acordo com a consultora. “Todos esses dados mostram que o sistema funciona, se tiver mudanças efetivas nos processos. Quem se comprometeu em fazer mudança viu também o comprometimento pelo lado dos trabalhadores, consolidando maior maturidade na relação de trabalho de ambas as partes”, disse.

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E no Brasil?

No Brasil, com o projeto-piloto quase no fim, a percepção é parecida: quem estava disposto a fazer mudanças já atingiu solução, segundo Rivetti. “Uma empresa de contabilidade, por exemplo, disse que tem uma semana no mês que é mais complicada para parar. Então estabeleceu três semanas de 4 dias e uma de 5. Cada uma cria sua fórmula conforme a realidade”, conta.

Já há empresas que vão estender o prazo do experimento. “Vamos acompanhá-las até o final do ano, com todos os ajustes. E devemos pensar em outro piloto, para 2025, porque há novas interessadas. Muitas ainda têm medo, até pela legislação, mas é bom testar e ver que não precisa ser 8 ou 80”.

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Segundo a consultora, mais do que só tirar um dia de trabalho na semana, projeto busca ganho de produtividade. Não importa o tamanho nem o setor, mas comprometimento com a mudança na forma de se trabalhar. “Percebemos que antes, muitos não tinham nenhuma fórmula pronta para detectar a produtividade e, agora, conseguiram enxergar melhor seus processos graças à lupa que foi colocada sobre o trabalho”, disse Rivetti.

Anna França

Jornalista especializada em economia e finanças. Foi editora de Negócios e Legislação no DCI, subeditora de indústria na Gazeta Mercantil e repórter de finanças e agronegócios na revista Dinheiro