Portugal admite implantar Semana de 4 Dias na administração pública; entenda

Jornada reduzida de trabalho testada no país europeu gerou bons indicadores de saúde mental entre os trabalhadores, sem prejudicar o desempenho financeiro das companhias

Anna França

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Portugal anunciou nesta segunda-feira (1º) que é grande a chance de o país implantar a jornada reduzida de trabalho na administração pública. Os bons resultados obtidos ao longo de quase um ano de experimento da modalidade de trabalho apontam para esta direção, aponta o governo do país europeu.

Os pontos mais importantes relatados pelos funcionários das empresas privadas foram a melhora da saúde mental que, ao mesmo tempo, não prejudicou o desempenho das companhias com a jornada reduzida ao longo do teste.

Um relatório, que reuniu avaliações feitas junto aos próprios trabalhadores, mostrou que a  questão de saúde mental deu um salto de 15% para 30% nos itens “muito boa” ou “excelente”. Já na saúde física, o indicador passou de 20% para 27%.

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O levantamento mostra ainda que houve aumento de 11 minutos no tempo médio de sono e uma diminuição considerável da exaustão. Tudo isso impactou positivamente o ambiente de trabalho, que se beneficiou com ganhos de criatividade por parte dos funcionários.

Os resultados foram tão positivos que apenas quatro companhias decidiram voltar ao modelo tradicional. O primeiro-ministro Luís Montenegro, do Partido Social Democrata, teve acesso aos resultados e admitiu a implantação da modalidade também nos cargos públicos.

Como surgiu o projeto?

A Semana de 4 dias começou em 2019, na Nova Zelândia, e se espalhou por vários países de Europa, África e Américas sob a gestão do movimento 4-Day Week Global, uma comunidade sem fins lucrativos.

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Segundo a entidade, já são quase 500 companhias pelo mundo testando a modalidade de jornada em que o profissional continua recebendo 100% do salário, mas trabalha 80% do tempo e, em troca, se compromete a manter 100% de produtividade, que ficou conhecido como 100-80-100.

No Brasil, já existem 22 empresas implementando a iniciativa, que conta com apoio da Reconnect Hapiness at Work para realização do experimento no país.

Expectativa x realidade

Em entrevista ao InfoMoney concedida em 2023, David Carvalho Martins, advogado trabalhista português e sócio do escritório Chiode Minicucci/Littler, falou sobre os primeiros resultados da iniciativa que, no início, eram considerados mais modestos do que se imaginava. Segundo ele, a adesão ao projeto teria sido feita por um número pequeno de empresas, correspondendo a menos de 2% das pequenas, médias e de grande porte em Portugal.

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Martins acreditava que a Semana de 4 dias até podia funcionar em países mais desenvolvidos, mas em locais onde a renda é mais baixa, como Brasil e Portugal, um dos mais pobres da União Europeia, a medida poderia desencadear a oportunidade de os empregados acumularem outros empregos para complementar a renda.

A manifestação do advogado foi rebatida pela fundadora da Reconnect, Renata Rivetti. Para ela, mesmo com toda a realidade difícil no Brasil, as empresas que aderiram ao projeto estão mantendo a implantação e já há, inclusive, grandes companhias seguindo por esse caminho, como a mineradora AngloGold.

No projeto-piloto, elas passaram por várias adaptações para gerir melhor o tempo, sem perder a produtividade. Todo o processo passou por uma melhoria também da comunicação, adoção de novas tecnologias e revisão de rotinas.

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Primeiros resultados no Brasil

Nos primeiros três meses do projeto-piloto no Brasil, as empresas envolvidas obtiveram bons resultados. Pesquisa feita pela 4 Day Week Brazil, em parceria com a FGV e o Boston College, mostrou o que aconteceu desde o início da nova jornada de trabalho para 21 empresas que participam do projeto.

Nesse período, as empresas perceberam que era preciso ir além do corte de dias de trabalho elaborando uma nova forma de trabalho, com métricas bem definidas para quantificar a produtividade. “Foi um processo de amadurecimento, o que nem sempre é fácil para as empresas”, afirma a diretora da Reconnect.

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Segundo os dados oficiais, 62,7% dos indivíduos relataram redução de estresse no trabalho e 64,9% não se sentem desgastados ao final do dia. Além disso, 56,5% estão menos frustrados e quase 30% dos participantes não mudariam de emprego para trabalhar cinco dias por semana por salário nenhum.

O estudo também mostrou aumento de 78,1% na disposição dos colaboradores das empresas participantes para o tempo de lazer ou estar com a família e amigos, redução de 49,3% no desgaste emocional e queda de 64,5% nos sintomas de exaustão.

Para a conclusão do primeiro relatório, durante o mês de abril, foram coletadas 205 respostas, o que representa que 71% dos participantes responderam ao questionário.

Anna França

Jornalista especializada em economia e finanças. Foi editora de Negócios e Legislação no DCI, subeditora de indústria na Gazeta Mercantil e repórter de finanças e agronegócios na revista Dinheiro