Pela primeira vez na história, 54% das principais empresas da B3 possuem pelo menos uma mulher no conselho

Apesar do avanço, mulheres representam apenas 11% dos cargos em conselhos; estudo também analisa as práticas ESG e a gestão de risco

Giovanna Sutto

(Unsplash)
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SÃO PAULO – Mais da metade (54%) das companhias brasileiras abertas brasileiras possuem pelo menos uma mulher em seus conselhos de administração. É a primeira vez que isso acontece desde que o “Estudo de Governança Corporativa” do ACI Institute, em parceria com a KPMG Brasil, começou a considerar o recorte de gênero, em 2013.

Os dados foram enviados com exclusividade ao InfoMoney. Essa é a 15ª edição do estudo, que considera 241 empresas, as principais listadas na B3, sendo 100% do Novo Mercado, B2 e B1 e as 50 empresas de maior receita líquida do chamado mercado Básico.

Segundo o estudo, o resultado de 2020 representa um aumento de 15% na comparação com o número de empresas que tinham mulheres em seus conselhos em 2019, quando a porcentagem era de 47%, e cerca de 63% maior do que em 2013, quando era de 33%.

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Veja a evolução por ano: 

(Divulgação/KPMG)

Outro dado trazido pelo estudo é que a porcentagem de cargos de conselho ocupados por mulheres passou de 9,5% no ano passado para 11% em 2020. Em 2013, a representatividade era de 5,6%. Veja:

(Divulgação/KMPG)

Apesar do avanço visto nos últimos anos, ainda há muito o que melhorar. “É necessário celebrar o progresso, então, mais empresas estão incluindo mulheres no conselho, mas o número ainda é muito baixo. O avanço de 2019 para cá é pequeno e indica que ainda precisamos falar muito sobre o assunto”, explica Regina Madalozzzo, professora associada do Insper, PhD em economia pela Universidade de Illinois e sua área de pesquisa é em economia do trabalho com foco no mercado de trabalho de mulheres.

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Ela explica que um bom caminho para começar a mudar de forma mais consistente esse cenário é as empresas se empenharem de forma mais ativa na busca por mulheres prontas para ocuparem os cargos nos conselhos. “Isso quer dizer que quando a vaga no conselho surgir, a empresa deve ter como objetivo preenchê-la com uma mulher preparada. Essas mulheres existem, mas não necessariamente são facilmente encontradas pela rede e contatos tradicional do mercado – que foi construída por homens. Então, essa busca ativa é muito importante”, explica a professora.

Além disso, ela pontua a necessidade dos conselhos e da alta gestão das empresas entenderem o que a diversidade de gênero vai trazer de ganho para a empresa como negócio. “Essa reflexão e avaliação que precede a tomada de decisão de trazer mais mulheres em si pode tornar mais consistente e rápida a busca. Quando os diretores e membros do conselho entendem a importância de ideias diversas o assunto ganha espaço e prioridade na gestão”, avalia.

Efeitos do ESG

O estudo ressalta que o mercado de capitais vem passando por um avanço do ponto de vista de diversidade, como mostra o avanço no recorte de gênero, e boas práticas de governança muito em função da pressão dos investidores e stakeholders por um melhor adereçamento do ESG, sigla que  representa a busca por melhores práticas ambientais, sociais e de governança, e virou referência no mundo dos investimentos.

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A maioria das empresas analisadas (56%) divulgou informações socioambientais.

“A pressão crescente de investidores e demais públicos de interesse por transparência e qualidade na divulgação de informações relacionadas ao ESG veio para ficar. Essas questões, juntamente com diversidade, inclusão e equidade, já são critérios decisivos para a destinação ou não de investimentos em uma empresa. Dentro desse cenário, ter uma prática de governança corporativa sólida faz com que as empresas não só se adaptem a essa nova realidade repleta de desafios, mas se estruturem pensando na sua perenidade”, avalia afirma Sidney Ito, CEO do ACI Institute e sócio da KPMG no Brasil.

Ito pontua que as empresas começaram a refletir sobre ESG e os benefícios que ter diversidade, pensar no ambiente e ter uma boa governança podem trazer.

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“Mas não adianta a empresa contratar mais mulheres, eleger mulheres no conselho, ou defender outra bandeira de diversidade ou meio ambiente se internamente a empresa não tem preocupação de verdade com o tema. Fazer o marketing porque o tema está em alto não é sustentável no longo prazo”, diz.

Segundo ele, para o ESG ser realidade precisa estar embutido na cultura da empresa. “Ou seja, precisar estar embutido no modelo de negócio, nos processos internos, na forma de liderar os funcionários. Ainda estamos dando os primeiros passos, vai levar tempo”, explica.

Gestão de risco

Ito destaca que as empresas estão cada vez mais atentas à gestão de risco. “A sociedade ainda vai conviver por muito tempo com o legado da pandemia e, no ambiente corporativo, não será diferente. Uma visão holística e permanente de gerenciamento de riscos já é uma exigência em qualquer empresa e a aceleração da digitalização nos negócios é questão de sobrevivência”, avalia.

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Segundo o estudo, 69% das empresas têm uma área específica para esta finalidade, índice superior aos 62% do ano anterior e mantendo a tendência de crescimento dos últimos anos.

Outro dado é que 72% informaram ter uma política formalizada de gerenciamento de riscos, sendo que o maior percentual estava no Nível 1. Ainda, sobre auditoria interna, houve um aumento de 80% em 2019 para 85% em 2020 das empresas que divulgaram contar com a área de auditoria interna.

“Entre avanços e retrocessos, riscos e oportunidades, curto e longo prazo, estabelecer práticas sólidas de governança continua sendo um caminho seguro para as companhias que pretendem emergir ainda mais fortes da crise e usar este momento de tantas mudanças – econômicas, tecnológicas e nos modelos de negócio – para acelerar sua própria transformação”, afirma Fernanda Allegretti, sócia-diretora do ACI Institute e de Markets da KPMG Brasil.

De acordo com Ito, ter uma área de risco estruturada não evita que uma Greve dos Caminhoneiros aconteça novamente, muito menos uma pandemia, mas ajuda a reduzir os impactos desses tipos de eventos.

“Tem alguns eventos que ninguém mapeou, como a Greve dos Caminhoneiros, o navio Evergreen encalhado e a pandemia, mas a partir deles podemos fortificar alguns pontos do negócio, como a logística, por exemplo. A gestão de risco não é um exercício de futurologia, mas sim de aproveitar eventos do passado para estruturar o negócio para potenciais problemas similares no futuro”, diz.

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Giovanna Sutto

Jornalista com mais de 6 anos de experiência na cobertura de finanças pessoais, meios de pagamentos, economia e carreira. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.