Lemann: não basta ter “faca nos dentes” ou “brilho nos olhos” para ser contratado

Cofundador do private equity 3G Capital falou sobre novo perfil de jovens que está contratando para empresas como AB Inbev, Burger King e Kraft Heinz

Mariana Fonseca

(Foto: Valéria Gonçales/Estadão Conteúdo/AE)
(Foto: Valéria Gonçales/Estadão Conteúdo/AE)

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SÃO PAULO – Os talentos de hoje são diferentes. Não têm apenas a “faca nos dentes”, ou o “brilho nos olhos”. Também sabem o que os clientes querem e são acostumados com o uso da tecnologia. A reflexão vem de um especialista em gestão meritocrática: Jorge Paulo Lemann, cofundador da empresa de private equity 3G Capital, que têm em seu porfólio empresas como AB Inbev (ABEV3), Burger King (BKBR3) e Kraft Heinz (KHCB34).

O economista e empresário falou sobre o novo perfil dos funcionários e sobre o empreendedorismo na próxima década durante o evento Latin America Investment Conference, promovido pelo banco de investimentos Credit Suisse. Henrique Dugubras, cofundador do unicórnio americano Brex, também participou do painel. Lemann foi um dos investidores no Brex, que fornece cartões de crédito corporativos para negócios em estágio inicial.

O perfil dos funcionários procurados por Jorge Paulo Lemann

Lemann conta que ele próprio mudou seu perfil como gestor ao longo dos anos. “Como trader do mercado financeiro, a mentalidade era de muito curto prazo: o que você vai comprar e vender no dia seguinte. Com o tempo, comecei a me irritar: não estava construindo nada para o longo prazo. Passei a pensar mais em o que fazer para empresas sobreviverem e crescerem no tempo”, disse o empresário.

Lemann foi sócio do Garantia até a venda do banco de investimentos, em 1998. O perfil de jovem funcionário na época era o de “ansioso por ganhar dinheiro”. “Esse era o objetivo principal. Gostávamos dos jovens que tinham a faca nos dentes e o brilho nos olhos. Dos fanáticos, que iam correr atrás das coisas”, afirma.

O perfil procurado pelo empresário hoje inclui essas características, mas adiciona outras. Para Lemann, “o fanático teve de se transformar em alguém com uma noção melhor do que seus clientes gostariam e alguém com mais ferramentas tecnológicas.”

A mudança no perfil dos talentos acompanha a evolução das empresas do 3G Capital. “Nossa fórmula de gastar pouco, ter boa logística e ser meritocrático não bastava. Percebemos a necessidade de saber o que seu consumidor quer e como tratá-lo. Também não estávamos tão conscientes quanto deveríamos da transformação para um mundo digital. Nossas empresas estão correndo atrás dessas duas questões. E não tenho dúvida que será assim daqui para a frente.”

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Dugubras também listou algumas características que pesam na contratação para o Brex, investida de Lemann.

“Um primeiro aspecto que olhamos é a mentalidade de crescimento [growth mindset]. É saber que não há nada em que você é intrinsecamente bom: você pode melhorar sempre. Como a empresa cresce muito, você sempre precisa olhar para pessoas que conseguem aprender rápido e mudar”, diz. “Outro fator que olhamos é um otimismo impaciente. É acreditar que temos oportunidades ao longo do tempo e, ao mesmo tempo, defender que tudo tem que ser para ontem. Isso porque outra pessoa pode fazer mais rápido.”

Como desenvolver a mentalidade de risco?

Já para os que procuram virar empreendedores, o cofundador do 3G Capital afirma que tomar risco é uma parte importante da vida e dos negócios. “Quem não arrisca, não faz nada”, diz Lemann.

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Para o empresário, a mentalidade de risco veio da influência familiar e também de sua carreira no tênis.

“[Essa mentalidade] veio de uma liberdade grande que minha mãe me dava. Depois dos 13 anos de idade, eu já podia viajar pelo país, participando dos torneios de tênis e experimentando coisas diferentes. Se você é criado num ambiente em que você faz bobagens e aprende com elas, mais tarde terá mais aptidão para os riscos”, diz Lemann. “O lado do jogo também pesou. Quando você compete, arrisca um pouco para ter resultados. Tem um aprendizado sobre dosar riscos que ajuda muito nos negócios.”

Essa mentalidade de risco se encontra com o desconforto, gerando o empreendedorismo. “Qualquer coisa que você olhe no Brasil, dá para melhorar. Temos muito desconforto, o que gera muita oportunidade”, diz.

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Dugubras, porém, ressalta que um nível mínimo de segurança ajuda a criar negócios mais bem sucedidos. “Se você for passar fome caso seu negócio dê errado, você tende a tomar menos risco. Já se estivermos em um nível financeiro mais acima, quando o risco é de estudos e carreira, a vontade [de resolver um desconforto] fala mais alto. Motivação não importa muito de onde vem – desde que você a tenha.”

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Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.