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Em meio às discussões sobre o fim da escala 6×1, estudos recentes estão embasando o argumento sobre o benefício da jornada reduzida — tanto aos trabalhadores quanto às empresas. No projeto piloto da 4 Day Week Brazil (4DWB), que analisou os resultados da escala 4×3, mantendo os salários e a produtividade inalterados, o resultado mostrou funcionários mais engajados e menor rotatividade, junto ao crescimento da receita e lucro das companhias.
Ao InfoMoney, Paul Ferreira, professor de Gestão Estratégica e diretor Acadêmico da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP), que foi um dos pesquisadores doutores responsáveis pelo 4DWB, explica que trabalhadores mais saudáveis e satisfeitos são menos propensos a faltar, apresentam menor rotatividade e estão mais engajados. “Engajamento é fundamental: quando os colaboradores sentem que a organização se preocupa com suas necessidades, eles retribuem com maior dedicação e desempenho.”
No estudo, realizado entre janeiro e junho deste ano, 21 empresas testaram a implementação da semana de trabalho de 4 dias. Elas tiveram a liberdade de adaptar o formato da rotina conforme suas necessidades, desde que cumprissem a seguinte proposta: redução de 20% da jornada e manutenção de 100% da remuneração e da produtividade. Das participantes, apenas 2 organizações desistiram do piloto no decorrer da pesquisa.
Entre os resultados obtidos, 65,6% dos colaboradores afirmaram que a pressão no trabalho se manteve igual, mas 20,1% sentiram um aumento. Para dar conta do dia a menos na jornada, quase a metade dos participantes (48,2%) percebeu um aumento no ritmo de trabalho, enquanto 46,6% afirmaram que a rotina se manteve estável.
Ainda assim, o nível de engajamento dos funcionários cresceu para 60,3%, e a produtividade aumentou para 71,5%. O comprometimento com a empresa também apresentou um número expressivo: 65,5%.
Condições de trabalho
Segundo Paul Ferreira, a demanda de trabalhadores por jornadas reduzidas e mais tempo de descanso vai além da proposta do fim da escala de 6 dias de trabalho e 1 de descanso e não está restrita ao Brasil. Essa se tornou uma demanda mundial, intensificada com a pandemia, e que transformou as expectativas em relação ao trabalho.
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“No contexto da escala 6×1, típica dos setores de comércio, varejo e serviços, adaptar para uma escala 5×2 poderia ser um passo na direção de melhorar as condições de trabalho”
Contudo, o professor da FGV reconhece que a mudança deve ser planejada de maneira estratégica, considerando a realidade desses profissionais e as particularidades de cada empresa. Ele aponta para a necessidade de soluções que equilibrem as necessidades de flexibilidade dos trabalhadores com a continuidade das operações, sobretudo aos setores que demandam atendimento constante. “Não se trata mais de uma questão de ‘se’ essas adaptações serão feitas, mas ‘quando’ e ‘como’ serão implementadas.”
Não por acaso, a pesquisa da 4DWB mostra que 16,7% dos participantes afirmaram que não mudariam de emprego, independentemente do valor oferecido, se isso significasse voltar a trabalhar 5 dias por semana. Junto a esse número, 40,4% relataram que seria necessário um aumento salarial superior a 50% para considerar retornar à antiga escala.
Ganho de produtividade (e do lucro) nas empresas
No caso das empresas que participaram do teste da escala 4×3, os resultados mostraram que, além da produtividade dos funcionários, houve ganhos econômicos. Ainda que 33% das participantes tenham contratado mais gente para dar conta da nova rotina, 72,7% disse que houve aumento na receita na comparação com o mesmo período do ano anterior. Além disso, 63,6% apontou que o lucro também cresceu.
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“Trabalhadores mais saudáveis e satisfeitos tendem a reduzir custos com rotatividade, absenteísmo e saúde. Isso pode impactar positivamente a eficiência operacional, diminuindo gastos adicionais relacionados a essas questões”, explica Paul Ferreira.
Outro ponto que o acadêmico destaca é que o estudo permitiu que as empresas revissem processos internos, adotando tecnologias e ferramentas que otimizem a comunicação e execução de tarefas, como o Slack e o Trello. “Essa otimização pode aumentar a produtividade, ao direcionar o foco dos colaboradores para atividades de maior valor agregado — sobretudo em indústrias, que permitem a automação de tarefas operacionais.”
Sob o ponto de vista humano, Ferreira frisa que a jornada reduzida, no curto prazo, gera um impacto na economia local, visto que há mais pessoas consumindo como forma de lazer. No médio e longo prazo, o tempo extra do trabalhador pode ser usado para a qualificação profissional e aumento da competitividade individual, melhorando a empregabilidade e as perspectivas de renda. “Quando esses efeitos individuais se somam, o impacto na economia, como um todo, tende a ser significativo, aumentando a produtividade e a competitividade do mercado de trabalho.”