IA ameaça assessor de investimento? Veja como transformá-la em aliada – e não inimiga

Especialistas afirmam que profissão não vai acabar, mas profisisonais que não se adaptarem ao uso da IA podem ser impactados

Giovanna Sutto

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A assessoria de investimentos vem passando por uma ascensão nos últimos anos: são mais de 25 mil assessores, segundo dados mais recentes da Ancord, órgão responsável pela certificação dos profissionais — alta de 13,5% em 2023 contra 2022.

E em meio ao aumento do número de investidores nos últimos anos e do interesse pelo planejamento financeiro do patrimônio, a inteligência artificial pode vir a ser grande aliada dos profissionais que souberem usá-la a seu favor, sinalizam especialistas ouvidos pelo InfoMoney.

“A profissão não vai sumir, mas a inteligência artificial depende muito do companheiro humano para ser potencializada em nosso benefício. O lado bom é que o profissional terá mais acesso a dados, análises ampliadas e mais velocidade para realizar tarefas do dia a dia. Mas o assessor precisará aprender a utilizá-la para se manter no mercado no longo prazo”, afirma Rebeca Toyama, especialista em estratégia de carreira e educação corporativa.

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Para Rodrigo Marcatti, CEO da Veedha Investimentos, a IA não vai tomar decisões, nem fará interpretações. E é aí que o assessor pode se destacar. “Dentro do nosso processo diário, seja de prospecção de cliente, de vendas, de marketing, de análise de carteira, de análise de cenário de produto, de recomendação de portfólio, de revisão de carteira, entre outros, podemos pensar em como aplicar inteligência artificial para ganho de escala, assertividade e velocidade”, avalia o executivo, que também é CFP.

(Fonte: Divulgação/Veedha Investimentos/ Rodrigo Marcatti)

Na visão de Derick Raiocovitch, diretor de tecnologia do SVN Investimentos, a IA vai ajudar o assessor a ganhar autonomia em processos, o que vai resultar em mais tempo pra atender o cliente e fazer relacionamento — duas das principais atividades do profissional. “A melhor forma de atender o cliente é conhecendo e estar mais próximo dele. Quando você o conheceu há cinco anos era uma situação, agora pode ser outra: mais filhos, outro emprego, outra cidade, entre outras coisas. O diferencial é estar próximo para acompanhar o dia a dia e ajudá-lo com o patrimônio. É um trabalho de longo prazo”, afirma.

Ana Guimarães, diretora na consultoria Robert Half e especialista em mercado financeiro, ressalta que a IA pode ajudar os assessores no mapeamento de clientes, por exemplo, seja por perfil de investidor ou por ativo investido. “Apesar das boas projeções, o processo todo ainda é incipiente. E o assessor pode aproveitar esse período para ir buscando aprender sobre a IA e como ela pode beneficiá-lo porque esse formato fará parte da evolução dele daqui para frente”, diz.

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Fase de testes (e os desafios)

No SVN Investimentos, os projetos com IA estão na esteira de produção e validação e devem ser lançados em etapas, a partir de julho deste ano. Pioneiro no tema, o escritório desenvolve soluções internas que visam introduzir a IA para ganho de tempo em afazeres diários. “Estamos desenvolvendo dentro da nossa intranet uma espécie de ‘ChatGPT’, mas alimentados por nós e com dados do escritório. A IA consome nossos materiais, análises e informações dos nossos especialistas e bancos de dados. E nosso assessor, por sua vez, pode conversar com esse chat para buscar informações — em vez de, por exemplo, ter que ligar para alguém ou buscar a pessoa no escritório. Isso pode agilizar a rotina de quem está começando ou tem dúvidas simples ou mais institucionais”, conta Raiocovitch.

Outra solução permite que o próprio assessor busque por uma seleção de ativos por base de clientes. “Imagine um ativo de renda fixa que vá vencer na próxima semana. O assessor pode pedir para o sistema a lista de clientes em sua carteira que possuem o ativo para que ele os contate avisando do vencimento e já com outra opção para aplicação, por exemplo. Isso permitirá que o assessor se organize melhor no começo da semana. É possível filtrar qualquer ativo e cruzar com a nossa base”, afirma o executivo.

Mas nem tudo são flores. Raiocovitch identifica desafios culturais: nem todo profissional é adepto da tecnologia ou quer experimentar algo novo. “A cultura do trabalho tem sua rotina. E quem não se adaptar vai ter dificuldades. Por isso, o que estamos fazendo é tentar mostrar como as nossas soluções vão facilitar a vida do assessor. Conquistar o time com o encantamento e a facilidade para impulsionar o uso. Vamos reduzir tempo em atividades mecânicas e apostamos em jornadas simples, com plataformas fáceis de usar para que eles enxerguem ganho logo de cara. A gente tenta gerar curiosidade para que eles usem”, afirma.

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Marcatti, por sua vez, afirma que a Veedha vem monitorando oportunidades, mas que tem cautela com a implementação. “O custo de entrada ainda não vale a pena. Vamos esperar o mercado evoluir para saber mais sobre ferramentas, o que pode ser desenvolvido e o que pode gerar benefícios para o time”. Ele acrescenta que um dos desafios em trazer a inteligência artificial para o negócio é a escassez de profissionais. “Se eu quiser contratar hoje um profissional que esteja minimamente por dentro do assunto para criar aplicações, significa investimento altíssimo. A demanda está alta”, diz.

No SVN, Raiocovitch diz que o escritório optou por realocar seu time e puxar profissionais de outras áreas para montar a equipe de tecnologia, entre outros pontos, justamente para evitar custear novas pessoas.

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(Fonte: Divulgação SVN Investimentos/ Derick Raiocovitch)

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.