CFP: Planejar atualiza conteúdo para certificação de planejador financeiro; veja o que muda

Revisão passa a valer em 2025 e inclui noções de psicologia a finanças criptográficas

Martha Alves

Pessoas respondem a prova (Foto: Shutterstock)
Pessoas respondem a prova (Foto: Shutterstock)

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A CFP (Certified Financial Planner), certificação necessária para o profissional que busca atuar como planejador financeiro no Brasil, vai passar por uma atualização. E quem busca obtê-la precisa ficar atento aos novos conteúdos que serão inseridos na prova.

A mudança abarca as novas normas de planejamento financeiro global que visam acompanhar a evolução do mercado financeiro para um melhor atendimento às necessidades dos consumidores. As atualizações entram em vigor a partir de janeiro de 2025 e incluem os seguintes conteúdos:

A revisão da CFP atende uma determinação do FPSB (Financial Planning Standards Board), órgão detentor da certificação internacional e responsável pelas normas da profissão de planejador financeiro. Para aprimorar as habilidades do profissional no relacionamento com o cliente, a entidade realizou uma pesquisa com 16 mil profissionais com CFP dos cerca de 213 mil certificados em 26 países – 8.881 deles no Brasil.

Fátima Teixeira, gerente de certificação e educação da Planejar (Associação Brasileira do Planejamento Financeiro), entidade autorizada a conceder a certificação no país, explica que a FPSB realiza uma pesquisa global a cada cinco anos sobre a prática atual e futura da profissão de planejador financeiro. “A pesquisa ressaltou a necessidade de algumas adaptações e adequações principalmente no mundo pós-pandemia com relação ao comportamento do cliente em situações de crise e o impacto disso porque muitos planejadores não estão preparados para lidar com essas emoções.”

A gerente de certificação da Planejar afirma que o grande diferencial das mudanças será no escopo da formação dos profissionais, com a inclusão da psicologia do planejamento financeiro, área com conceitos práticos e teóricos de comportamento humano. Segundo ela, é uma formação superficial, mas que vai dar algum suporte para o novo profissional atuar com conceitos de finanças comportamentais, coaching, comunicação e escuta ativa.

“Essa parte da psicologia veio para ajudar esse profissional a tentar auxiliar o seu cliente a identificar as suas próprias crenças, os próprios valores, inclusive, para as suas melhores decisões. O profissional deve buscar cada vez mais essa parte psicológica para lidar com as emoções do cliente para poder auxiliar nas soluções”, explica Teixeira.

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Outra mudança importante na CFP é que o profissional deverá se concentrar em indicar as melhores soluções para o momento de vida que o cliente está. Teixeira diz que os profissionais ouvidos na pesquisa indicaram a necessidade de formação para lidar com as emoções dos clientes. “O mundo todo está voltado para esse lado do comportamento humano. Eu acho que a introdução da tecnologia é outra coisa que vai auxiliar o planejador na forma de atuação como uma aliada e, ao mesmo tempo, se preparando para lidar melhor com o cliente.”

Na área de investimentos, ela diz que foi incluído um novo módulo com conteúdo sobre criptoativos e ESG – ativos de sustentabilidade. O planejador financeiro vai aprender ainda como é feito na prática um planejamento financeiro na visão holística, como saber coletar as informações, identificar as necessidades do cliente e fazer as recomendações. “O profissional tem que estar preparado dentro das práticas do planejamento financeiro para desenvolver habilidades mais humanas de como coletar informações, perceber, identificar e analisar as necessidades do cliente”, diz Teixeira.

A gerente de certificação da Planejar afirma que as mudanças atendem a realidade do mercado brasileiro que, diferentemente de outros países, tem a maioria dos profissionais vinculados a instituições financeiras. Ela diz que o planejador financeiro terá uma bagagem de conhecimento para a instituição que ele atua e esse será o principal diferencial. “Essa certificação prepara o profissional para atender o cliente. Acredito que fica bem aderente à realidade e traz um diferencial grande para quem atua nas instituições financeiras.”

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Teixeira garante que as atualizações da CFP não vão aumentar o números de questões nem tornar a prova ainda mais difícil – apenas 15% dos 10 mil candidatos que fazem anualmente as provas da Planejar conseguem ser aprovados. Ela diz que os módulos serão reajustados dentro das 140 questões da prova e tudo que for alterado será comunicado com antecedência.

“A partir deste semestre e no ano que vem vamos divulgar um novo programa detalhado. Vamos comunicar todas as partes interessadas com antecedência, inclusive, para as escolas preparatórias poderem incluir nos seus materiais estes módulos e preparar os seus alunos”, afirma.

Profissionais aprovam atualizações

Planejadores financeiros independentes ouvidos pelo InfoMoney aprovaram as atualizações das normas do CFP para acompanhar as evoluções do mercado. Para eles, a inclusão dos módulos de psicologia, criptomoedas e as habilidades humanas são importantes na formação e na prática da profissão.

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O planejador financeiro independente Darx Amaral, 36, afirma que mesmo antes da pandemia de Covid-19, a psicologia sempre foi um pilar fundamental porque as decisões financeiras estão totalmente relacionadas ao modelo mental.

“Existem pessoas que quando estão bem-humoradas têm um comportamento e mal-humoradas têm outra. A questão da psicologia sempre foi fundamental e a pandemia acelerou a relevância disso dentro do contexto do planejamento financeiro”, afirma Amaral.

A planejadora financeira independente Julienne Simões, 37, também considera a psicologia no planejamento financeiro importante. Segundo ela, o profissional precisa dessa área para entender o cliente e em qual ambiente social ele foi inserido durante anos, porque isso fala muito sobre a tomada de decisão da pessoa.

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Simões acrescenta que deveria ser inserido nas atualizações conhecimentos de neurociência para o profissional ajudar o cliente a entender como a tomada de decisão acontece. “A gente vai entender como são os gatilhos daquele comportamento. A neurociência vai transferir também alguns mecanismos para que a gente consiga se defender disso porque todos nós somos cheios de vieses.”

Segundo Amaral, o importante é apresentar à pessoa como funciona na prática os criptoativos e chamar a atenção delas para os conflitos de interesses que existem no mercado financeiro. “[Os influenciadores] vendem aquilo que convém a eles, não para a audiência. Eu acho que esse é o ponto crítico e as criptomoedas surfaram nessa onda.”

Simões destaca ainda que o grande diferencial do planejador financeiro é a habilidade humana e isso precisa ser trabalhado na formação. “O planejador financeiro está do outro lado olhando para o que entendeu do contexto de vida da pessoa para conseguir criar uma ferramenta que funcione para a rotina dela direcionando os objetivos.”

Martha Alves

Jornalista e Mestre em Comunicação. Foi repórter nos jornais Folha de S. Paulo e Agora São Paulo e acumula experiência em comunicação corporativa