Abel Ferreira, do Palmeiras: “Decisões difíceis tornam o futuro mais fácil”

Técnico se juntou a Bernardinho do vôlei para falar sobre desafios e estratégias de liderança ao público da Expert XP, em São Paulo

Michele Loureiro

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Quem lidera times nos negócios pode beber dos ensinamentos de quem tem esse papel no mundo dos esportes. Foi com base nessa premissa que os participantes da Expert XP 2024 lotaram a palestra de Bernardinho Rezende, técnico de vôlei, e Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, na noite de sexta-feira (30).

Os técnicos reforçaram a importância de assumir responsabilidades como líderes. Para Abel, “decisões difíceis tornam o futuro mais fácil e é este o principal papel da liderança”. Segundo ele, compreender a hora da necessidade de mudança é um dos maiores desafios. “As mudanças difíceis encerram ciclos e a gente pode seguir em frente. Um líder, um CEO, um treinador têm esse papel. É para isso que está na posição e é preciso pensar no melhor para a empresa, não só para o funcionário. O foco é pensar no ideal para o time e não para o atleta, por mais delicado que isso seja”.

Para Bernardinho, um dos momentos chave da liderança é não permitir a existência do que ele chamou de ‘cumplicidade perversa’. “É preciso pensar no coletivo. As relações pessoais não podem condicionar decisões. É muito difícil encerrar ciclos, mas a evolução requer mudança e toda mudança gera desconforto”.

Liderando as novas gerações

Os dois treinadores falaram sobre as diferenças de lidar com atletas da geração atual. Para Abel, a comunicação precisa ser mais incisiva e clara para se tornar eficaz. “Antigamente, o técnico falava e o jogador só executava. Atualmente, há questionamentos e gosto muito disso. Não sou adepto de uma liderança ditadora e não espero jogadores submissos. Acredito que um líder deve ser ouvido com base no exemplo e no conhecimento”.

Para Bernardinho, a dificuldade está em fazer conexões mais profundas. Segundo ele, o resultado nas Olimpíadas de Paris refletem isso. A seleção masculina de vôlei deixou a competição nas quartas de final ao perder para os Estados Unidos. Foi a primeira vez que o treinador não conduziu uma equipe ao pódio olímpico. “Uma das principais habilidades deve ser o que eu chamo de ‘escutatória’, a capacidade de escutar até o que não é dito. É papel do líder estabelecer essa conexão e não tive tempo de fazer isso com a geração atual. A responsabilidade, em última instância, é do líder”, disse.

Público lotou a palestra de Abel e Bernardinho no primeiro dia de Expert XP, em São Paulo (Foto: Divulgação/Expert XP)

A importância do elenco

Abel e Bernardinho comentaram sobre a importância da escolha do elenco para conquistar bons resultados. “Quem gere uma empresa ou um time costuma procurar fórmula mágica para o sucesso e eu digo que grande parte disso está nas pessoas. A base do planejamento é escolher quem estará comigo na jornada”, disse o técnico do Palmeiras. “Eu sou melhor se os que me rodeiam forem bons”, completou.

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Para o técnico de vôlei, não se trata de quem são os melhores atletas, mas de quem está disposto a evoluir. “Um grande projeto com pessoas erradas tende a não dar certo. A pergunta deve ser sempre: quem estará ao meu lado nesta jornada? Este é o segredo”. Os dois técnicos concordaram que talento e preparação técnica devem caminhar juntos para que haja um bom desempenho. Para Bernardinho, um atleta até pode nascer com um dom, mas o que o faz campeão é o desenvolvimento da performance. “O processo para se tornar um campeão inclui lidar com pressão, se aprimorar o tempo todo, viver em equipe e ter a confiança da consciência tranquila de quem investe na preparação”, afirmou.

Para Abel, a dificuldade de formar campeões está em se manter consistente. “Um fenômeno pode durar uma temporada, mas um campeão se mantém consistente por vários anos. Trata-se de saber quem está disposto a pagar o preço para ser excelência naquilo que faz”. Segundo ele, que no ano passado foi considerado o melhor treinador, há muitas renúncias. “Fiquei feliz com o título, mas fui o pior pai, o pior filho, o pior marido. Sempre há perdas no caminho e eu respeito quem não está disposto a isso”.

Entusiasmado com o carinho da plateia, Abel contou que quando era jogador tinha dificuldade para falar em público e não imaginaria estar diante de uma plateia com milhares de pessoas. “Uma vez um técnico me disse que eu era bem melhor do que achava e percebi que podemos ser nossos principais sabotadores. Por isso, tenho orgulho de estar aqui”, disse.

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Ele comentou ainda que doará o cachê recebido pela participação no evento para a Rede Nacional de Bibliotecas Públicas. “Fui agraciado com o valor e farei essa doação com muito gosto”, finalizou.

Michele Loureiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney