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SÃO PAULO – Com a chegada da pandemia e a implementação forçada do home office devido ao isolamento social, os profissionais estão em um processo de adaptação.
Como conseguir equilibrar a produtividade, a segurança do emprego, a boa relação com a família e a saúde mental em um cenário tão incerto e complexo no Brasil e no mundo – e sem sair de casa?
O InfoMoney está produzindo uma série sobre o tema e neste terceiro episódio especialistas falaram sobre a importância de aprender a gerir o tempo, como os líderes podem fazer a diferença para criar um ambiente mais saudável para os funcionários, além de dicas para se organizar e fazer as reuniões renderem mais.
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Para assistir à live completa, basta ver o vídeo acima.
Confira os destaques:
1. Organize o ambiente e as tarefas
Ronaldo Loyola, sócio de capital humano da consultoria Grant Thornton, contou que em um primeiro momento a tendência é a produtividade aumentar durante o home office, segundo uma pesquisa feita no começo da crise, em março, pela consultoria em parceria com Fundação Dom Cabral.
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“Observamos que grande parte das pessoas aprovaram o home office assim que isso virou uma possibilidade. Houve um aumento de produtividade nos primeiros 40 dias entre 25% e 30%. Mas boa parte dos entrevistados informou também que sentia falta do trabalho presencial, do relacionamento humano, do café no corredor, das reuniões, da interação com os líderes”, pondera.
Segundo a pesquisa, que ouviu 705 profissionais no começo de abril, 76% das pessoas que estão trabalhando em casa disseram sentir falta da interação com colegas de trabalho.
Christian Barbosa, especialista em produtividade e administração do tempo, ressalta que o home office não é um estilo de trabalho para todos. “Nem todo mundo é mais produtivo em casa. Ainda mais nessa condição obrigatória. É um ambiente com filhos, barulho, distrações”, diz.
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Por isso, apesar da euforia inicial, com o passar do tempo o home office pode ser tornar improdutivo. “Os limites do home office são curtos: não tem pausa para o almoço, nem para o deslocamento. Antes havia uma troca de papel. Você saía do trabalho e chegava em casa, deixava a função profissional e pensava nos afazeres domésticos. Agora não. Tudo está acontecendo ao mesmo tempo”, diz.
Assim, Barbosa prossegue, o home office conta com três pilares básicos que podem ser desenvolvidos para impulsionar a produtividade dos profissionais: ambiente, iluminação e planejamento.
“Nem todo mundo tem uma estrutura em casa, mas pensar no ambiente é importante. A cadeira faz toda diferença. Depois de duas ou três horas trabalhando com a cadeira da cozinha, a dor nas costas começa a atrapalhar a pessoa”, explica.
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Em relação à iluminação, ele ressalta que é importante ter luzes adequadas. “Se não for suficiente, a pessoa começa a forçar a vista, não pisca o suficiente, gerando dores de cabeça, que vão atrapalhar o rendimento. São pequenas coisas que fazem a diferença”, diz.
Por fim, ele sugere que o profissional faça um planejamento de tarefas para três dias. “Organizar dia por dia não é o ideal. É muito mais eficiente planejar três dias para frente porque você tem espaço para reorganizar, adiantar ou atrasar tarefas, caso necessário”, diz.
2. Foque na entrega, não no expediente
O papel dos líderes nesse momento de mudanças é crucial. Roberto Aylmer, médico psiquiatra e especialista em desenvolvimento de líderes e gestão estratégica de pessoas, afirma que o chefe imediato tem uma função muito crítica.
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“É esse líder que pode trazer segurança psicológica, confiança e apoio. Essa relação é muito crucial para o funcionário ser produtivo. Quando o chefe tem conversas objetivas, metas claras e apoia a performance do time, cria um ambiente agradável. Na percepção da produtividade, não temos como isolar esse fator da equação geral”, afirma.
Ele diz ainda que a confiança é um ativo que dificilmente será criado neste momento. “Aumentar a confiança no meio dessa crise é muito difícil. Quem já havia construído uma relação em cima disso tem que manter e fortalecer, mas quem não tinha, não tem o que fazer. O ambiente de expectativas e tensões constantes impacta demais a produtividade”, explica.
Em linha com o médico, Barbosa explica que muitos líderes são antiquados. “Tem muito chefe que é relógio de ponto, e acha que tempo é mais importante que a entrega. As pessoas vendem seu talento e em troca recebem o salário. Se o profissional entrega suas tarefas em três horas, ótimo! Tem cinco horas a mais para passear com a família. O mundo está evoluindo para uma produtividade integrativa entre trabalho e vida pessoal”, diz.
Loyola concorda que está há uma mudança de cultura em curso durante a pandemia, que deve ser absorvida pelas lideranças de maneira geral. “O chefe de ‘comando e controle’ está ficando para trás. As novas gerações não legitimam mais esse tipo de liderança. É preciso buscar novos mecanismos para mensurar performance”, defende.
3. Colabore, negocie e escolha as batalhas
Aylmer destaca que o momento que estamos passando envolve cenários que mudam muito rápido, seja no âmbito do trabalho, no contexto global ou no psicológico. É um momento de altos e baixos.
“Primeiro, o home office traz a sensação de conforto e organização, depois vira insatisfação e insegurança. Medo de perder o emprego, medo da incerteza. Tudo isso gera mais ansiedade, perturbação de sono e pode evoluir para a síndrome de burnout, que é mais sério. Toda a sociedade é impactada de forma sistêmica”, diz.
Ele reforça que a sensação de que as coisas estão dando certo vem do resultado. “Se não tem resultado positivo, gera instabilidade. Por isso, cada vez mais criar uma relação entre líder e liderado de ‘conta comigo’ é crucial. É a parceria que faz a diferença, ninguém é melhor que ninguém”, diz.
Além disso, ele dá algumas dicas. “Melhore seu sono, tome mais água, reduza o álcool, coma menos carboidratos. Parece simples, mas qualquer aumento de energia já ajuda nesse período”, diz.
Ainda, ele diz que saber gastar a energia nas coisas certas é a chave para atravessar esse período. “Escolha as batalhas que você acha que valem a pena. Negociação é o que todos precisam ter em mente. Você negocia horário, tempo, atenção. Todos precisam de todos, no trabalho e em casa, e todas as demandas são fundamentais”, diz.
Por fim, ele sugere que líderes e liderados simplifiquem processos e regras que não fazem mais sentido. “É um momento de reformulação no trabalho e na vida. Veja o que faz ou não sentido para você. O que é fundamental?”, diz.
4. Reuniões
Outro elemento problemático na equação equilíbrio vida e trabalho durante o home office é a quantidade excessiva de reuniões. Loyola disse que já prestou consultoria a empresas nas quais o funcionário chegava a ter nove reuniões por dia.
“É muito comum o líder se preparar para falar com o chefe, mas não se preparar para falar com a própria equipe. Gasta um tempo a mais desnecessário porque não é objetivo e o tempo com a equipe fica menos produtivo. Busque uma mensagem clara para falar com o seu time. Com começo, meio e fim. Além de gerar segurança psicológica, deixa clara a próxima trincheira e como prosseguir a partir disso”, explica Aylmer.
Segundo ele, o fenômeno que ficou conhecido como “Fadiga de Zoom” ou “Zoom stress” prejudica a vida no home office porque na reunião presencial é possível modular a comunicação a partir das reações e expressões faciais das pessoas. Mas na modalidade virtual, com várias pessoas na tela, fica mais difícil se concentrar com tanta informação ao mesmo tempo.
“O cérebro tenta se calibrar automaticamente a todo momento para ler todos do grupo. Esse processo é muito exaustivo”, diz.
Barbosa acrescenta que as reuniões de acompanhamento de tarefas não são necessárias. “Se o líder precisa disso ou ele está deficiente [em termos de ferramentas que medem a produtividade] ou não se comunica com o time de forma eficiente. O foco deve ser em reuniões mais curtas e objetivas”.
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