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Yduqs deixa casa pronta para retomada, mas não quer Fies ‘milagroso’

Dona da Estácio e do Ibmec vê setor com alavancagem operacional para aproveitar retorno do programa de financiamento do governo federal

Rikardy Tooge

Eduardo Parente, CEO da Yduqs (Divulgação)
Eduardo Parente, CEO da Yduqs (Divulgação)

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Consistência é uma palavra frequentemente utilizada pelo CEO da Yduqs, Eduardo Parente. Engenheiro de formação, o executivo é pragmático ao tratar da transformação promovida na empresa de educação desde que assumiu, no fim de 2018. De lá para cá, o grupo passou a ser menos dependente do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e diversificou suas fontes de receita.

“Se me perguntarem os planos para os próximos cinco anos, vou dizer que é a mesma fórmula do que fizemos nos últimos cinco: medicina, tecnologia EAD e M&A’s”, diz Parente, em conversa com o IM Business. “Temos que pensar em longo prazo, nossa base de 25 mil acionistas não quer resultados que não se sustentam.”

Se consistência pauta a estratégia do CEO da Yduqs, da mesma forma é seu raciocínio para o Fies. Visto pelo mercado como um ponto de inflexão para o setor de educação, o incentivo do governo ao ensino superior é tratado como algo positivo por Eduardo Parente, que pondera, no entanto, que o momento é de corrigir algumas distorções do programa.

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“Hoje, o governo exige uma coparticipação do aluno e um desempenho no Enem que não é condizente com o público-alvo do programa”, diz o executivo. Isso gera reflexos no próprio acesso ao programa. Vale lembrar que, das cerca de 100 mil vagas ofertadas neste ano pelo Fies, sobraram 60 mil, que serão novamente distribuídas pelo governo federal. “Corrigir essa distorção já seria um golaço”.

Em outra frente, os ensinamentos do encolhimento do programa mostraram, na visão de Parente, que é necessário construir um Fies mais previsível e sustentável. “Precisa ser pensado a longo prazo, nenhuma empresa vai melhorar do dia para a noite. Para o Fies influenciar, de fato, na receita das empresas vai levar quatro anos para mais”, acrescenta.

Um dos pontos de atenção é com relação à inadimplência do Fies, uma vez que o governo encontra dificuldade em cobrar os alunos formados pelo programa. Prova disso é que o percentual de repasse das instituições de ensino ao Fundo Garantidor do Fies (FG-Fies) saiu de 15% no início da sua implementação para 34% neste ano. “Não é justo que traga para as empresas o custo de uma ineficiência de cobrança”. A questão do FG-Fies chegou a gerar um ruído no mercado durante a temporada de resultados do segundo trimestre, mas para Eduardo Parente houve mais um movimento técnico das ações do que de fundamentos. “Os analistas sabem muito bem como funciona o fundo garantidor”, afirma.

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Eduardo Parente, CEO da Yduqs: setor está com a casa em ordem para receber aumento de demanda (Divulgação)

Com a necessidade de ajustes estruturais no Fies, o CEO da Yduqs afirma que o setor não precisa ter pressa, desde que a volta do programa seja consistente. “As empresas arrumaram a casa a partir do declínio do Fies e da pandemia. Estamos com alavancagem operacional e, agora, tudo que vier é para cima”, reforça Parente. A Yduqs é um bom exemplo disso, afirma. Ao assumir a companhia, cerca de um terço da receita estava atrelada ao programa de financiamento estudantil e, atualmente, essa participação chega a 3%.

As apostas bem-sucedidas vieram da formação em medicina e também do ensino à distância, o popular EAD. A estratégia garantiu uma diversificação importante para a Yduqs e essas são as duas principais fontes de faturamento da companhia. Enquanto o curso de saúde tem um ticket médio mais alto, de R$ 9,2 mil por mês, e maior resiliência durante o período de juros altos, a vertical de EAD dá escala e margem atrativa, atualmente em 43%. De 2018 para cá, o faturamento anual dos cursos premium, Ibmec e medicina, saiu de R$ 100 milhões para R$ 1,2 bilhão, enquanto o ensino à distância saltou de R$ 400 milhões para R$ 1,6 bilhão.

Das frentes de negócio, a única que ainda falta voltar à normalidade é a de graduação presencial. Parente afirma que há capacidade ociosa no setor, a despeito da redução no número de campi – no caso da Yduqs, essa redução foi de 120 para 88 nos últimos anos. Outro problema tem sido a margem ainda baixa do segmento, que fechou o segundo trimestre do ano em 23%, ante uma média histórica de 30%. “O sonho da maior parte das pessoas é fazer graduação presencial. Mas sabemos que são cursos mais caros e que nem todo mundo pode pagar.”

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Para isso, o CEO da Yduqs crê que o governo pode ajudar o setor. “Estamos muito animados com o novo governo, não necessariamente por questões do setor de educação. O governo tem como característica apoiar um público mais frágil do ponto de vista socioeconômico. E, ao melhorar a vida deste público, melhora a vida do meu cliente. Então, podemos dizer que nossa expectativa é quase que indireta”, conclui.

No primeiro semestre deste ano, a Yduqs registrou lucro líquido de R$ 181,5 milhões, mais de 10 vezes o reportado em igual período de 2022 (R$ 12,7 milhões), com o faturamento líquido crescendo 10,4% no mesmo comparativo, para R$ 5,6 bilhões. No ano, as ações da empresa são um dos destaques do Ibovespa, com valorização de mais de 90%, valendo algo próximo a R$ 20.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br