Votorantim Cimentos avança na operação internacional e amplia ‘hedge natural’

Empresa retomou margens e viu sua receita no exterior ultrapassar a do mercado local, jogando 40% do faturamento para moeda forte

Rikardy Tooge

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No primeiro balanço após a troca de comando, a Votorantim Cimentos (VC) voltou a reportar um desempenho positivo nas principais linhas do demonstrativo em relação ao segundo trimestre de 2022. Mesmo com uma estreia positiva, o novo CEO da empresa, Osvaldo Ayres Filho, prega continuidade da estratégia encabeçada nos últimos anos por Marcelo Castelli, hoje no conselho de administração.

“Nosso mandato estratégico segue o mesmo da época do Castelli. O nosso objetivo é continuidade com aceleração. Temos potencial para criar valor em novos negócios, mas também vamos manter nossa disciplina financeira, com forte gestão de custos”, afirma Ayres Filho, que assumiu o comando da VC em meados de maio, após mais de uma década como diretor de operações da companhia.

No segundo trimestre deste ano, a Votorantim Cimentos, líder do segmento, ampliou seu lucro líquido em 28% na comparação com o mesmo período de 2022, para R$ 470 milhões. O Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado alcançou R$ 1,6 bilhão, com alta de 17% no comparativo. A margem Ebitda avançou 3 pontos percentuais, para 23%. “Com o arrefecimento na inflação de custos, conseguimos retomar as margens. Mas o resultado também foi fruto de uma captura maior de sinergias de nossas operações internacionais”, explica o CEO.

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Enquanto diretor operacional, Ayres Filho foi um dos líderes da expansão da Votorantim Cimentos em outros mercados do mundo, ilustrada pela aquisição de uma planta em Málaga, na Espanha, em novembro do ano passado, que foi marcou também último movimento de M&A da empresa até o momento. Nos últimos dois anos, a empresa investiu R$ 5 bilhões em aquisições e agora quer avançar na captura de sinergias.

A VC está presente em dez países além do Brasil: Argentina, Bolívia, Canadá, Espanha, Estados Unidos, Luxemburgo, Marrocos, Tunísia, Turquia e Uruguai e o primeiro efeito da estratégia de expansão territorial já pode ser visto no resultado do segundo trimestre deste ano. Dos R$ 6,9 bilhões de receita líquida, alta anual de 3%, cerca de R$ 3,7 bilhões vieram das operações internacionais, com crescimento de 12% na América do Norte e de 16% na operação que contempla Europa, Ásia e África, enquanto a operação brasileira ficou estável em R$ 3,2 bilhões. Com o avanço internacional, atualmente 40% da receita da VC está atrelada a moedas fortes.

“Isso nos oferece um hedge natural, conseguimos equilibrar nosso perfil de dívida de maneira adequada a cada moeda e evitamos fazer operações especulativas”, lembra a CFO da Votorantim Cimentos, Bianca Nasser.

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Osvaldo Ayres Filho, CEO da Votorantim Cimentos: aquisições no exterior começam a surtir efeito nos resultados (Divulgação)

A diretora financeira lembra ainda que a geração de caixa mais robusta no trimestre melhorou ainda mais a estrutura de capital da VC. Ao final do segundo trimestre, a alavancagem (índice que mede a dívida líquida pelo Ebitda ajustado) ficou em 1,64 vez, com redução de 0,35 vez em relação ao mesmo período de 2022.

“O Ebitda foi um suporte importante para essa queda na alavancagem, mas é importante destacar que ampliamos nossos capex [investimentos] em 38% no período. Então parte desse resultado também veio de nossa disciplina financeira”.

Para o decorrer do ano, Ayres Filho demonstra cautela com a demanda por cimento no mercado interno. A associação que representa os cimenteiros (SNIC) estima que o crescimento na procura possa chegar a 1% até o fim do ano – no primeiro semestre de 2023, a demanda recuou 1,8%. “Nós estamos preparados para o pior, mas esperando o melhor. Existem iniciativas de construção, como o Minha Casa Minha Vida, que tendem a puxar a procura por cimento. Mas é algo que vamos ter que monitorar mês a mês”, explica.

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Enquanto a esperada retomada do setor de construção não chega na ponta da Votorantim Cimentos, a empresa segue com seu plano de ampliar a oferta de produtos com maior valor agregado, como argamassas e rejuntes, itens que fazem parte da linha de novos negócios da companhia.

Descarbonização

Em outra frente, a VC obteve mais funding para avançar com sua meta de descarbonização. Por meio de um financiamento ‘verde’ US$ 150 milhões com o IFC (braço do Banco Mundial), a companhia irá investir na modernização de sua fábrica de cimento em Salto de Pirapora (SP).

Vale lembrar que por conta da utilização de altos-fornos para a queima de calcário e argila para a fabricação do cimento, os níveis de emissão de gases de efeito estufa das cimenteiras é alto. Diante do problema, as empresas do setor vêm buscando formas de reduzir a emissão por meio da substituição de combustíveis fósseis por biomassa e resíduos sólidos nesses altos-fornos.

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“Além do ganho ambiental, há um custo menor, já que importamos os combustíveis do Golfo do México”, afirma Álvaro Lorenz, diretor de sustentabilidade da Votorantim Cimentos. A meta da empresa é chegar em 2030 com a emissão de 475 kg de CO2 por tonelada de cimento produzida – atualmente, o índice está em 579 kg por tonelada.

“É um instrumento importante que, além do dinheiro, nos dá um selo de qualidade para conseguir outras operações neste sentido. Se cumprirmos as metas, a partir de 2026 teremos um custo de financiamento menor”, afirma Bianca Nasser.

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Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br