UltraCheese cresce com investimentos em expansão, tecnologia e “brasilidade”

Investimentos em melhorias e expansão de fábricas, ampliação das vendas ao food service e expansão de portfólio deverão fazer com que a UltraCheese, plataforma de queijos controlada pela gestora Aqua Capital, se torne um dos poucos players do segmento a fechar 2023 com crescimento de dois dígitos. A empresa encerrou 2022 com receita bruta de quase R$ 900 milhões, 22% acima de 2021. A expectativa é alcançar de R$ 1 bilhão a R$ 1,1 bilhão este ano, um avanço de pelo menos 11%.

De acordo com Edson Martins, CEO da UltraCheese, de janeiro a agosto o aumento da receita foi de 17% em relação ao mesmo período do ano passado. O lucro antes de juros, impostos, depreciação de amortização (Ebitda), por sua vez, aumentou 74% na comparação. Para o Ebitda, a previsão é de alta de 60% em 2023 como um todo – em 2022, foram R$ 46 milhões, 95% mais que no ano anterior.

Em 2022, o cenário estava mais favorável aos laticínios, com demanda firme e preços elevados. Nos primeiros meses deste ano, porém, os preços começaram a inibir o consumo e o aumento das importações, para barrar a alta das cotações do leite no mercado doméstico, ampliou a pressão. Com isso, as margens ao longo da cadeia caíram, mesmo com a queda de custos. “As importações continuam fortes. Normalmente representam 4% do consumo interno, mas atualmente esse patamar está em 10%”, disse Martins ao IM Business.

QUERO APROVEITAR

Segundo o executivo, investimentos de cerca de R$ 100 milhões desde 2021 em novas tecnologias, inovação e na expansão da capacidade das três fábricas da plataforma – localizadas em Santa Catarina, Minas Gerais e Goiás – tornaram a UltraCheese mais resiliente. E a demanda por queijos finos, principal foco da plataforma por causa do maior valor agregado e das margens de lucro mais atraentes, continua aquecida.

A UltraCheese começou a ser formada pela Aqua Capital no fim de 2017, com a aquisição da Lac Lélo, com vendas concentradas no Sul do país, pelo fundo II da gestora. Em 2019 foi fechada a compra da Cruzília, cujos queijos atualmente são comercializados em todo o Brasil, e em 2020 veio a Búfalo Dourado, uma marca de nicho, mas também de alcance nacional. A última compra foi a do laticínio Itacolomy, cujos queijos são encontrados sobretudo nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste.

Em 2019, a receita bruta conjunta das quatro marcas foi inferior a R$ 300 milhões. Mas, conforme Martins, a estratégia posta em marcha destravou o potencial de crescimento das empresas adquiridas. Novidades como linhas de envase de alta precisão e produção automatizada reduziram desperdícios e elevaram o rendimento fabril, enquanto aportes de R$ 40 milhões na instalação de duas novas unidades de produção de soro de leite, principal matéria-prima dos queijos, ampliaram a eficiência e a sustentabilidade das operações.

Nessas unidades, que processam 900 mil litros de soro de leite por dia, água, proteínas e gorduras retiradas da matéria-prima são reaproveitadas. Depois de tratada, a água volta a ser usada nas próprias fábricas, enquanto as gorduras são usadas nos queijos, cremes e manteigas da plataforma e as proteínas são vendidas a outras indústrias de alimentos. O soro produzido pela UltraCheese vem de outras indústrias parceiras e do processamento de 420 mil litros de leite por dia, recebidos de cerca de 700 produtores catarinenses e mineiros, a maior parte de pequeno porte.

Para garantir a qualidade do leite, a plataforma oferece assistência técnica aos fornecedores, que também contam com crédito da empresa. Outra ação que tem dado resultados, segundo Martins, é a assessoria em processos de sucessão. A grande maioria dos produtores é familiar e cerca de 20 deles já embarcaram no programa da UltraCheese. Para apoiar os investimentos e ações como essa, a plataforma emitiu, em maio, um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) no valor de R$ 60 milhões. Outro CRA deverá ser emitido até o fim do ano

A cereja da estratégia da plataforma, de acordo com o CEO, é a expansão do portfólio, marcada pelo que o executivo define como “brasilidade”. Nessa linha “autoral” estão, por exemplo, o queijo Angatu, cremoso e levemente picante, e um novo gorgonzola mais cremoso e com café na composição. São queijos vencedores de prêmios no país e no exterior, “artesanais” fabricados em escala industrial. Apenas o portfólio da Cruzília conta com quase 90 produtos, e boa parte dele é formada por queijos finos de diferentes tipos.