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UnitedHealth muda de estratégia para vender a Amil e tenta negociar ‘o filé com o coxão duro’

Solução pode ser a compra por outro player global, mas há entraves importantes para o negócio; carteira de planos individuais pesa na operação

Lucas Sampaio

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Controlador da Amil, o UnitedHealth Group (UHG) tem entraves importantes em sua saga de vender a operação no Brasil. A empresa voltou à carga para se desfazer do negócio, que há anos tem dado dor de cabeça para a maior empresa de saúde do mundo.

O grande entrave para a venda de toda a operação no Brasil é a carteira de planos de saúde individuais da Amil, que tem mais de 300 mil vidas, é deficitária e tem reajustes controlados pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). O UHG já tentou se desfazer do ativo em 2022, pagando R$ 2,3 bilhões ao comprador para se livrar do problema, mas a ANS ordenou que a empresa desfizesse o negócio e reassumisse a operação.

Já a rede de hospitais e clínicas da Amil é lucrativa. Um alto executivo de uma empresa relevante do setor confirmou ao IM Business que procurou a UHG para comprar alguns ativos, mas a resposta foi que “era preciso vender a parte boa com a parte ruim, senão ninguém compraria a parte ruim” e não houve conversa.

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A avaliação no mercado é que, como a empresa tem uma operação verticalizada, o “todo vale mais que a soma das partes” e uma venda fracionada não faria sentido – e poderia, inclusive, destruir valor. Por isso a tentativa de vender “o filé com o coxão duro”, após a empresa não conseguir se desfazer do seu maior problema (a carteira de planos individuais).

Uma saída poderia ser a venda para um outro grande grupo internacional que deseje entrar no Brasil, mas há ceticismo no mercado em relação a este caminho.

“Acho improvável um comprador internacional, pois o mercado de saúde brasileiro é meio ácido para novos entrantes. Tem uma série de especificidades e a foto atual é muito ruim”, afirma Harold Takahashi, sócio da Fortezza Partners e que atua há anos em M&As na área da saúde. “Além disso, um grupo de fora provavelmente colocaria um cheque menor que os players estratégicos locais, que teriam sinergias para absorver. O estrangeiro teria de construir uma base nova no Brasil”.

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A “foto ruim” a que Takahashi se refere é o momento atual do setor, em que as operadoras de saúde têm sofrido com uma alta na sinistralidade no pós-pandemia, devido a uma série de fatores que envolvem maior uso dos planos de saúde pelos beneficiários, inflação médica e crescimento das fraudes.

Outra dificuldade para a venda pode ser o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e a própria ANS de novo, caso o comprador seja um grande concorrente nacional, como a Rede D’Or, o Bradesco ou a Dasa – os players que teriam “bolso fundo” para fazer uma aquisição deste porte. Além disso, as empresas estão endividadas, digerindo aquisições recentes, e os juros ainda estão em patamares restritivos.

A solução para a UHG pode ser uma venda “a qualquer custo”, para se livrar completamente da operação, e isso poderia atrair fundos de private equity ou até de distressed assets, para uma reestruturação e posterior venda. “Fundos de private equity eu só vejo só se a Amil for ‘rifada’ por um preço baixo”, afirma o sócio da Fortezza, que trabalhou muitos anos com M&As no Fleury.

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O UHG tem sede nos Estados Unidos e atende a cerca de 140 milhões de pessoas em mais de 130 países. A empresa comprou a Amil por quase R$ 10 bilhões em 2012, dos quais R$ 6,49 bilhões foram para os controladores (a família Godoy Bueno) e o restante, para fechar o capital da empresa na bolsa brasileira.

O plano era ampliar o market share da Amil, que tinha cerca de 6 milhões de beneficiários e menos de 10% do mercado na época, de forma orgânica e inorgânica. Mas a operação nunca decolou, mesmo com uma rede própria de atendimento (são 19 hospitais e 52 unidades ambulatoriais, como clínicas, consultórios e unidades de pronto atendimento e diagnósticas), e a empresa viu concorrentes crescerem com a consolidação do setor.

Hoje, a Amil tem cerca de 5,4 milhões de beneficiários (3,1 mil em planos de saúde e 2,3 milhões em planos odontológicos), menos do que há dez anos, e em planos de saúde já foi ultrapassada pela Hapvida (que se juntou à NotreDame Intermédica e tem cerca de 8,2 milhões de vidas) e pelo Bradesco (3,7 milhões). A SulAmérica vem logo atrás (2,67 milhões de beneficiários) e também é uma ameaça real, sobretudo depois da compra pela Rede D’Or.

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Além disso, a empresa teve o pior resultado entre as grandes operadoras de saúde no primeiro semestre deste ano, segundo dados divulgados pela ANS na sexta-feira (1º). Ela registrou um prejuízo líquido de R$ 889 milhões, depois de já ter fechado no vermelho nos anos de 2022 (R$ 1,6 bilhão) e 2021 (R$ 991 milhões), apesar de o setor como um todo ter tido um lucro de R$ 2 bilhões na primeira metade do ano.

A Amil é um dos maiores players do Brasil, mas virou um problema – e uma distração – que não fazem sentido para o tamanho da UHG. Enquanto a operação brasileira teve uma receita de R$ 21,9 bilhões no ano passado (e um prejuízo de R$ 1,6 bilhão), o UnitedHealth Group teve uma receita de US$ 91,93 bilhões e um lucro líquido de US$ 5,77 bilhões só no segundo trimestre deste ano.

Os cálculos do valor da empresa brasileira, para uma possível venda, variam muito. Falam-se em valores de R$ 10 bilhões a R$ 20 bilhões, mas fontes do setor afirmam que é muito difícil precificá-la (e chegar a esses patamares). “A ‘parte ruim’ pode até consumir todo o valor da empresa, dependendo da idade média da carteira Pessoa Física [de planos individuais]”, afirma, em condição de anonimato, um executivo de uma operadora de saúde relevante do setor. “O Bradesco tem uma provisão de R$ 5 bilhões para 125 mil vidas em planos individuais, e a Amil tem mais de 300 mil vidas PF”.

Procurado para falar sobre uma possível venda da Amil, o grupo UnitedHealth Brasil disse que não comenta rumores de mercado.

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.