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Usuários do X não perderam tempo para encontrar uma alternativa à rede social após sua suspensão pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Poucos dias depois, um dos principais destinos, a Bluesky, viu brasileiros quebrarem o recorde de novos usuários e chegarem ao topo da lista de países com mais usuários ativos.
Desde a última semana, a rede social registrou um grande fluxo de novas contas brasileiras registradas. Em nota ao InfoMoney, a empresa afirmou que mais de um milhão de novos usuários do país haviam entrado na rede até o último sábado (31). Agora, o número já passa de 1,93 milhão.
“O fluxo brasileiro também está estabelecendo novos recordes históricos de atividade na rede, como o número de seguidores, curtidas, etc. Temos mais de 8 milhões de pessoas no Bluesky no total”, disse a empresa em nota. Os dados do último fim de semana levaram o Brasil ao topo da lista de usuários ativos na plataforma, que também tem participação relevante no Japão e nos Estados Unidos.
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O mesmo pai
A Bluesky nasceu atrelada ao próprio Twitter, ainda em 2019, quando seu idealizador Jack Dorsey ocupava o cargo de CEO do que veio a se tornar o X. O projeto idealizado por Dorsey se baseava no desenvolvimento de uma tecnologia capaz de descentralizar conversas públicas (ao formato das linhas do tempo de redes sociais) por meio de um código aberto.
Dorsey havia convidado o atual CEO da Bluesky, Jay Graber, para comandar o projeto, financiado por meio de receitas do Twitter. Embora tenha se tornado independente já em 2021, a empresa continuou prestando serviços à rede social – em quem teria o principal cliente para sua tecnologia – até 2022, quando Elon Musk a adquiriu e cortou relações com a companhia. No mesmo ano, a companhia arrecadou US$ 8 milhões em uma rodada de investimentos liderada pela aceleradora de startups Neo.
“Portabilidade”
Batizado de AT Protocol, a tecnologia que Dorsey esperava implementar no Twitter e finalmente conseguiu levar a público com a Bluesky é um protocolo de código aberto que permite aos usuários migrarem suas publicações e dados de perfil de uma rede social para outra. Como a própria empresa explica:
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“Toda vez que você cria uma conta em uma plataforma social, é como se mudasse para uma nova cidade. Você faz amigos e cria postagens, o que é como encher sua casa com móveis que você mesmo fez. Mas nas plataformas sociais centralizadas, se você sair, é como deixar todos os seus amigos para trás, sem poder contatá-los, e deixar sua casa sem poder levar nada com você. Sair de um site centralizado e começar do zero é muito difícil”, diz a Bluesky em sua página.
O curioso é que, caso a parceria tivesse continuado e a rede social aderisse à tecnologia AT Protocol, os usuários que perderam acesso ao Twitter em decorrência da decisão de Alexandre de Moraes possivelmente conseguiriam migrar seus dados para outra plataforma, desde que ela utilizasse o mesmo protocolo.
Pesquisador do NetLab, Felipe Grael explica que um dos pontos centrais da tecnologia é o processo de indexação, similar ao que buscadores como o Google fazem ao relacionar os links disponíveis na internet para um usuário. Nesse caso, as publicações ficariam salvas na internet e poderiam ser resgatadas por meio do protocolo por qualquer empresa ou pessoa disposta a criar um feed.
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Basicamente, um concorrente do Bluesky pode adotar o protocolo, criar uma página com seu próprio layout e regras de moderação, e exibir as mesmas publicações que usuários têm feito na outra rede social.
“Seria bem mais difícil fazer uma suspensão. Imagine um caso nem tão extremo quanto suspender o Twitter inteiro. Imagine só as decisões de bloquear um perfil. Não é tão fácil, teria que pegar todos os indexadores e fazer com que eles não fizessem a varredura de um determinado perfil, ou que todos os desenvolvedores de feed não exibissem o perfil de determinada pessoa”, afirma Grael.
Tendência?
A ideia de uma rede social descentralizada não é nova e tem se tornado a tendência das postulantes a substitutas do X desde que a chegada de Elon Musk levou usuários a criticarem o novo formato da rede.
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Qualquer um que acesse o Mastodon (outra concorrente do Twitter), lerá a descrição de “rede social descentralizada”. Sob uma tecnologia diferente, chamada ActivityPub, a empresa também permite o compartilhamento de dados com outras plataformas.
Essas redes costumam se posicionar como “federações”, um empréstimo de nomenclatura da política que serve para explicar sua característica de conjunto de entidades com algum nível de unidade.
“É difícil falarmos se essas tecnologias são o futuro, algo dominador no mercado. Alguns protocolos muito bons, com sacadas geniais, são criados, alguns ficam e outros são esquecidos”, explica Grael. “Não depende tanto da qualidade técnica do protocolo, mas da massa crítica de adoção para que ele perdure”, diz.
Basicamente, para se popularizar, o AT Protocol deveria ser adotado massivamente, a exemplo de outro famoso protocolo: o HTTP, aquele que permite que todos acessem páginas na internet por meio de um navegador.
Em dezembro de 2023, o fundador da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou em seu perfil no Threads que estaria “começando um teste em que publicações do Threads estarão disponíveis no Mastodon e outros serviços que usam o protocolo ActivityPub”. O bilionário afirmou na publicação que a interoperabilidade daria mais possibilidades para usuários interagirem e entrarem em contato com mais pessoas.
Ainda assim, a descentralização parece fugir à tendência de consolidação das mídias sociais nas mãos de big techs. No caso do X, Elon Musk tomou uma série de medidas para centralizar a rede e reduzir a transparência de informações quando assumiu a empresa. Entre elas, o executivo fechou o acesso gratuito às APIs (sigla em inglês para Interface de Aplicação de Programas) usadas por desenvolvedores, profissionais de marketing e empresas para direcionar publicidade ou desenvolver robôs capazes de ler e interagir na rede.
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