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Startup que “ouve” vacas incorpora IA nas fazendas e quer dobrar de tamanho até 2026

Cowmed tem coleira de monitoramento e dispositivo para mapear índices que ajudam a elevar a produção leiteira no Brasil

Michele Loureiro

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O Brasil é o país com o maior rebanho de vacas leiteiras no mundo, com cerca de 16 milhões de animais, de acordo com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Porém, aparece entre os cinco maiores produtores globais. Para entender o que há de errado nessa equação, a startup gaúcha Cowmed decidiu “ouvir as vacas” e criou uma ferramenta de IA (inteligência artificial) que mapeia os animais e o ambiente.

Crédito: Divulgação/Cowmed

Com uma coleira colocada nas vacas leiteiras, é possível fazer a leitura de índices fundamentais para a produtividade, como tempo de ruminação, temperatura corpórea, umidade e nível de atividade do animal. “A produção média diária de uma vaca é de 35 a 40 litros, mas os animais monitorados chegam a 53 litros por dia com o uso das nossas soluções”, explica Thiago Martins, cofundador e CEO da Cowmed.

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O engenheiro, que criou a empresa com o irmão Leonardo Guedes em 2010, conta que o começo do negócio foi difícil por conta de uma cultura das fazendas de não se abrirem para novas tecnologias. “Apenas após perceberem os resultados e o valor agregado da solução que os produtores passaram a confiar no produto”, lembra. Além de oferecer a coleira, a empresa notou que precisava estar no dia a dia das fazendas e criou um serviço de alertas para intervenções rápidas e essa foi a virada de chave do negócio.

A empresa já recebeu aportes de R$ 16 milhões em três rodadas de investimento, atingiu o breakeven (quando os ganhos se igualam aos custos) e mantém uma equipe de 60 pessoas com sede em Santa Maria (RS). Com 50 mil animais monitorados em seis países, a companhia está em expansão e pretende alcançar 100 mil vacas usando suas coleiras nos próximos dois anos.

Crédito: Divulgação/Cowmed

Cerca de 200 mil animais são monitorados no país, o que coloca a Cowmed como um player importante no setor. Para Martins, cerca de 3,5 milhões de animais estão preparados para receber as tecnologias levando em conta a qualificação da cadeia leiteira, com grande concentração no Sul e Sudeste do país.

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As pesquisas apontam que a meta é viável. Relatórios divulgados recentemente pela Embrapa projetam um aumento de 20% na produção na cadeia leiteira nacional nos próximos cinco anos, impulsionado pela adoção de IoT (Internet das Coisas), inteligência artificial e automação.

O Estudo “Inovação Tecnológica na Pecuária Leiteira”, liderado pelo Departamento de Zootecnia da UFLA (Universidade Federal de Lavras), destaca que o impacto da tecnologia 4.0 em fazendas leiteiras melhora não só a produtividade e o bem-estar animal, mas também alinha o setor com as tendências de produção sustentável global que fortalecem a agenda ESG no agronegócio.

Para o CEO, não há como o setor agropecuário não se render às tecnologias se quiser ser sustentável. “O número de pessoas para serem alimentadas não para de crescer e as práticas de aumento responsável de produtividade são essenciais”, diz.

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Alertas em tempo real

Além de manter as coleiras nas vacas e mapear o conforto dos animais, o dispositivo da Cowmed dá os alertas em tempo real para os produtores. Com um serviço mensal de assinatura por animal, que parte de R$ 30 por vaca, os fazendeiros são avisados em caso de situações como possíveis doenças e aumento de temperatura e podem realizar intervenções rápidas. Com isso, tem a opção de ajustar a frequência de banhos, mudar a hora da alimentação ou ministrar medicamentos. “A coleira ajuda na redução da taxa de mortalidade dos animais e isso gera uma economia significativa ao produtor visto que cada animal custa em média R$ 12 mil”, diz Martins.

Crédito: Divulgação/Cowmed

Entre os cases da empresa, está uma fazenda que já tinha níveis elevados de produção, mas precisava entender se algum detalhe atrapalhava uma performance ainda melhor. Com a instalação das coleiras, as vacas ‘contaram’ que a falta de banhos durante a noite era um problema. “Mapeamos que os animais ficavam mais ofegantes entre 22h e 2h, pois não havia refrescamento nesse intervalo. O fazendeiro ajustou os banhos e incluiu um deles às 23h. Notamos um aumento de produção de 1,5 litro por dia em cada animal”, conta o executivo.

Em outro rebanho, o problema encontrado foi o horário da alimentação dos animais. Com a antecipação de apenas uma hora, houve alta de 30% do consumo das rações e ganho médio de 1 litro por dia em cada animal.

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Mapeamento de ambiente

Mesmo com as vacas mostrando suas preferências, a startup notou que ainda era possível melhorar os índices e recentemente criou o CowConfort, um dispositivo que fornece dados em tempo real sobre as condições de temperatura e umidade dos locais onde ficam as vacas leiteiras.

A ideia é atrelar as funcionalidades e combater o estresse térmico dos animais, um dos maiores desafios enfrentados pelos produtores de leite. Para se ter uma ideia, em uma temperatura acima de 18 graus já há queda na produção e as vacas leiteiras precisam de cerca de cinco banhos por dia, além de um sistema de refrigeração apurado.

Crédito: Divulgação/Cowmed

O estresse térmico não afeta apenas a produção de leite, mas também a ingestão de matéria seca e a saúde geral das vacas. Quando os animais estão expostos a altas temperaturas por longos períodos, tendem a comer e ruminar menos, o que pode levar a problemas de saúde. Com o CowConfort, a ideia é antecipar esses comportamentos e ajustar as condições ambientais para minimizar o impacto do calor.

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O novo dispositivo, que é do tamanho de um mouse e funciona sem fios, mede a temperatura e a umidade em diversos pontos da fazenda. A tecnologia utiliza IA para analisar os dados coletados e criar dashboards de fácil compreensão para gerar insights que colaboram com a gestão da fazenda. Além disso, há consultores que lidam de forma próxima com os clientes. “Nosso objetivo é ser um aliado do produtor e usar os dados para ajudar na transformação do agronegócio brasileiro”, finaliza Martins.

Michele Loureiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney