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Sigma Lithium obtém linha de crédito junto ao BNDES para construção de segunda fábrica no Brasil

Investimento orçado para nova planta é de R$ 492 milhões (cerca de US$ 100 milhões).

Ivo Ribeiro

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Enfrentando um cenário de preços em queda para produtos de lítio grau bateria, devido à desaceleração da indústria de carros elétricos no mundo, a Sigma Lithium foi buscar financiamento no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para viabilizar a expansão de suas operações de industrialização do mineral no Vale do Jequitinhonha, região noroeste de Minas Gerais. Em comunicado nesta segunda-feira (12), a empresa informa que recebeu do banco de fomento uma carta de intenções para financiar a construção da segunda unidade “Greentech” de produção de concentrado lítio.

Segundo a companhia, a carta do BNDES é uma espécie de pré-contrato para linha de crédito voltada para e financiamento da construção e engenharia de sua segunda planta industrial de lítio. O investimento orçado é de R$ 492 milhões (cerca de US$ 100 milhões). A nova linha faz parte do projeto de lítio grau bateria na Grota do Cirilo, fazenda que concentra a maioria das reservas minerais da companhia. 

O financiamento, segundo a Sigma, vai viabilizar uma unidade “Greentech” com tecnologia mais moderna e capacidade para produzir 240 mil toneladas ao ano de concentrado de lítio (contendo 6% de óxido de lítio). A companhia já opera a primeira linha desde abril do ano passado, apta a fazer 270 mil toneladas anuais do produto. Dessa forma, a capacidade total da Sigma de oferta de concentrado no mercado mundial sobe para 510 mil toneladas por ano a partir de 2025, quando deverá entrar em operação. 

Conforme a Sigma, a carta do banco de fomento brasileiro não é vinculativa. A efetivação da linha de crédito está sujeita as certas condições, como políticas operacionais atuais do BNDES durante a revisão do projeto da empresa, revisão da estrutura  de financiamento proposta por ela ao banco e oferta de garantias satisfatórias por parte da companhia. A aprovação do financiamento passará pelo crivo do  Comitê de Crédito do BNDES.

A empresa observa que as condições de fechamento da operação não estão atreladas ao comportamento do mercado de lítio e variações de preços, que estão fora do controle da empresa. E apontou que o BNDES afirmou na carta que “o financiamento de projetos de aumento da capacidade industrial de produtos críticos minerais é uma das prioridades da estratégia de longo prazo do banco”, principalmente para “base industrial verde e inclusiva”. 

O valor do concentrado de lítio espodumênio saiu da faixa de US$ 8 mil a tonelada, em meados de 2023, para cerca de US$ 850 a tonelada no início de fevereiro. O carbonato de lítio grau bateria, com 99,5% de pureza, que é refinado a partir do concentrado, é negociado entre US$ 14 mil e US$ 14,5 mil a tonelada nos mercados de China, Japão e Coreia do Sul, segundo dados da Fastmarkets. Em 2022, atingiu pico de US$ 84.071. Também grau bateria, o hidróxido de lítio tem cotação entre US$ 12,5 mil e US$ 14 mil a tonelada nos mesmos mercados. 

Até agora, a empresa tinha recorrido apenas uma vez a recursos de bancos públicos de fomento para seu projeto – um financiamento de baixo montante do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Na fase 1 do projeto, os investimentos totais, até a conclusão há um ano, somaram cerca de R$ 1,2 bilhão.

Desde 2022, enquanto montava a primeira linha, a Sigma já planejava fazer a expansão de seu projeto de lítio em Minas, para ser montado enquanto a primeira planta entrava em roda de produção. As fases 2&3 vinham, desde então, em estudos de viabilidade técnica e econômica, com investimentos estimados em cerca de US$ 130 milhões. Mas o cenário de demanda e preços mudou, o projeto ficou nos estudos e a nova linha virá menor do que a primeira. O plano das  unidades  2&3 previa produzir 496 mil toneladas, totalizando 766 mil anuais toneladas (ou 104,2 mil toneladas de carbonato de lítio equivalente-LCE).

Ana Cristina Cabral, CEO e co-presidente do conselho de administração da companhia, afirma na nota que a linha de crédito do BNDES, prevista na carta de intenção, “tem potencial para melhorar significativamente nossa estrutura de capital devido à duração típica mais longa, taxas de juros e períodos de carência significativamente mais baixos” Ela acrescenta que tendo o BNDES como credor representa o apoio do governo brasileiro à expansão industrial da Sigma em seus planos no Vale do Jequitinhonha.

Segundo a empresária e executiva, apesar da recente deterioração nas perspectivas para a demanda de lítio no curto prazo, a Sigma, com estrutura de capital adequada, viabilizada com financiamento do BNDES, terá a “oportunidade de solidificar sua liderança competitiva industrial global em produtos pré-químicos sustentáveis e de baixo custo de concentrado de lítio”. Cabral acredita que, junto com banco de fomento, poderá se tornar um vetor para atrair ao país outros players industriais globais na cadeia de fornecimento de matérias-primas para fabricação de baterias de veículos elétricos, em linha com a questão climática.  
 
Sediada em Vancouver, Canadá, e com operações apenas no Brasil, a empresa informa também que já obteve, em 31 de janeiro, as licenças ambientais prévia (LP), de instalação (LI) e de operação (LO) para a nova unidade por parte do conselho ambiental independente do Copam, órgão que emite as licenças em Minas Gerais. Com esse aval, diz, poderá expandir a capacidade para beneficiar e processar minerais de lítio de suas reservas para 3,7 milhões de toneladas por ano. 

A previsão da Sigma é iniciar a construção da nova planta ainda neste trimestre, após o final da estação de chuvas na região e também da decisão final de investimento por parte do  conselho de administração. Acrescenta que a nova unidade Greentech terá inovações que permitirão elevar a eficiência do processo industrial do minério tipo espodumênio em concentrado pré-químico de lítio, extraída em rochas duras de suas reservas.

Em suas informações ao mercado, a empresa apregoa que obtém em suas unidades industriais, em Araçuaí e Itinga, um produto sustentável e de alta pureza – sem produtos químicos perigosos, sem geração de carbono, 100% de água reutilizada, 100% de rejeitos empilhados a seco e 100% de energia limpa. Garante que, por isso, “produz o lítio mais sustentável do mundo”. No ano passado, a companhia produziu e exportou em torno de 102 mil toneladas de concentrado  – abaixo da meta traçada de 130 mil toneladas. Os números oficiais serão informados no balanço de demonstrações financeiras de 2023, a ser publicado até 30 de março.  

A Sigma está listada nas bolsas de Toronto (Canadá) e na Nasdaq (Nova York-EUA). Seu atual valor de mercado, pela cotação do papel na Nasdaq (US$ 14,64 na sexta-feira), é de US$ 1,62 bilhão. O valor da ação da empresa desabou 53,57% desde o início de janeiro deste ano. Em parte, segundo avaliações, pela demora da empresa em concluir a revisão estratégica societária e de projeto da companhia, anunciada em setembro, em parte pelo enfraquecimento do mercado mundial de lítio.

Os acionistas da Sigma abriram um processo de venda do controle da empresa há uma ano, atraindo de refinadores de lítio e fabricantes de baterias de carros elétricos até montadoras de automóveis, caso da Tesla, de Elon Musk, e da chinesa BYD. O processo ganhou mais força em setembro com o anúncio da revisão estratégica, que incluía a contratação do BTG Pactual e Bank of América como advisers na modelagem da operação. 

Essa operação previu, conforme anunciado, algumas alternativas:  venda total da empresa (Sigma Lithium), venda somente do projeto Grota do Cirilo ou se desfazer da controlada brasileira Sigma Brazil (que detém a posse de todas reservas de lítio). No último movimento informado, em dezembro, a empresa comunicou que iria listar a Sigma Brazil na Nasdaq e na Bolsa de Cingapura como forma de facilitar a operação. 

O principal acionista da Sigma é o fundo brasileiro A10 Investimentos – tem em torno de 43,5% das ações. Outros investidores da companhia são BlackRock, FitPart Advisors, Synergy, Núcleo Capital,  Thomist Capital, JGP, ACE Capital, VanEck, Janus Henderson e family offices, entre dezenas de fundos institucionais e de investimentos.