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SideWalk: recuperação judicial mostra que varejo brasileiro segue na mesma calçada

Marca de moda entrou com pedido no início desta semana; dívidas somam mais de R$ 25 milhões

Rodrigo Loureiro

Loja da SideWalk no Shopping Vila Olímpia (Foto: Shopping Vila Olímpia)
Loja da SideWalk no Shopping Vila Olímpia (Foto: Shopping Vila Olímpia)

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A situação da SideWalk pode ser vista como um retrato atual do varejo brasileiro. No início desta semana, a marca de roupas e calçados entrou com um pedido de recuperação judicial alegando dívidas de R$ 25,5 milhões. Com isso, a companhia se junta a outras empresas do setor que enfrentam dificuldades financeiras.

A lista contempla Coteminas (dona das marcas MMartan e Artex), Polishop, Grupo Petrópolis, SouthRock (responsável pela operação das marcas Starbucks, Eataly e Subway no Brasil), Grupo Casas Bahia, Dia, além da Americanas (AMER3) – neste caso, a crise envolve ainda acusações de fraude.

Em seu pedido de recuperação judicial, a SideWalk atribuiu os problemas ao desempenho das vendas na pandemia, a elevação dos custos de aluguel de lojas em shoppings, mudanças climáticas e até mesmo o aumento dos gastos dos consumidores com apostas online, as chamadas bets.

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Loja da SideWalk no Shopping Vila Olímpia (Foto: Shopping Vila Olímpia)

Sem conseguir se posicionar de forma relevante no e-commerce e com um público mais envelhecido, a SideWalk viu seu negócio perder relevância nos últimos anos para marketplaces e outras empresas de vestuário. 

“O modelo de negócio está ultrapassado”, diz Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores, consultoria especializada em varejo. “Há necessidade de reposicionamento. Quando isso não acontece, fica difícil.”

A marca de calçados não revela dados financeiros da operação, mas relatou na petição inicial que observou uma queda de 15% nas vendas. O pedido de recuperação judicial envolve 21 lojas, além de outras 12 que estão em processo de fechamento. Há ainda 20 franqueadas que não fazem parte do processo.

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Outras varejistas em crise

A SideWalk não é a única empresa de vestuário que sofre no ano. O Grupo Soma (SOMA3) teve queda de 63,7% no lucro líquido do primeiro trimestre deste ano, que ficou em R$ 21,3 milhões. Os resultados do segundo trimestre ainda não foram divulgados pela empresa que no começo do ano se fundiu com a Arezzo&Co, formando a Azzas 2154.

“Os varejos que dependem da captação de crédito estão sofrendo porque a expectativa que se criou para uma queda na taxa de juros não se cumpriu”, diz Tozzi. “O varejo é um negócio de capital intensivo em que você precisa de resultados bons para alavancar a receita e cobrir o endividamento.” 

O problema é que o pedido de recuperação judicial mostra que a SideWalk está em uma situação mais delicada que sua concorrente. A varejista pediu à Justiça a antecipação da proteção até que o pedido de recuperação judicial seja aceito e a manutenção de serviços essenciais, como luz, internet e telefonia.

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Crise sistêmica no varejo?

Em junho, o InfoMoney listou as 10 empresas em recuperação judicial com os maiores índices de endividamento. Na liderança do ranking, está justamente uma companhia do setor de varejo. A Americanas lidera a lista com débitos de R$ 50,8 bilhões.

Na bolsa de valores, as ações do setor também enfrentam dificuldades. O Magazine Luiza (MGLU3), por exemplo, acumula queda próxima de 35% no valor de suas ações desde o começo do ano. Desde a máxima histórica, em novembro de 2020, os papéis da varejista caíram 95%. A desvalorização das ações do Grupo Casas Bahia (BHIA3) ultrapassa 50% neste ano.

“A economia brasileira não cresce o suficiente para estimular uma alta consistente das ações relativas a empresas de varejo”, afirma Nelson Marconi, economista e professor da FGV. “A taxa de juros elevada inibe os investimentos e retrai o crescimento da economia.”

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Um levantamento realizado pela Quantum Finance com exclusividade para o InfoMoney mostrou que a maioria das ações das gigantes do varejo segue em baixa em 2024. 

A análise, feita com as dez maiores varejistas do Brasil, apontou que o retorno médio das ações foi de queda de 18,1% entre 2 de janeiro e 8 de agosto. As empresas analisadas foram Grupo SBF, Guararapes, C&A, Petz, Lojas Renner, Azzas 2154, Magazine Luiza, Casas Bahia, Lojas Marisa e Americanas. Para comparação, o índice Ibovespa teve queda próxima de 2% no mesmo período.

Sinais de recuperação

Sob a perspectiva de copo meio cheio, vale citar os bons resultados financeiros que algumas empresas do setor tiveram no segundo trimestre do ano. Em especial, no setor de vestuário, destaque para a Lojas Renner (LREN3). Lucro líquido de R$ 315 milhões no período, 37% acima do registrado no mesmo período do ano passado.

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No varejo como um todo, Casas Bahia e Magazine Luiza reverteram prejuízos registrados no segundo trimestre do ano passado com lucros de R$ 37 milhões e R$ 37,4 milhões respectivamente no segundo trimestre deste ano. Se isso será o suficiente para mudar a perspectiva dos investidores, só o tempo dirá.