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Os microclimas da Serra Gaúcha contribuem com a rica variedade de uvas produzidas na região. No topo, onde as temperaturas são mais amenas e o clima é mais seco, as safras são principalmente voltadas à produção de vinhos finos. As variedades cultivadas em altitudes mais baixas, com mais umidade, abastecem, sobretudo, a indústria de sucos e vinhos de mesa. Mas o regime de chuvas, cada vez mais irregular nos últimos anos, tem impactado as videiras de diferentes formas. E as enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul em maio deste ano também deixaram seu rastro de destruição na região, apesar da altitude.
À época da catástrofe, os parreirais estavam em fase de dormência. Toda a uva já havia sido colhida e a brotação começaria só dali a alguns meses, quando chegasse a primavera. Mas os mais de mil milímetros de chuva em poucos dias custaram mais do que safras. Deslizamentos levaram terrenos inteiros serra abaixo. A família de Luciano De Mari, em Bento Gonçalves, viu quatro hectares de terra – 40% de sua área produtiva – desaparecer do dia para a noite.
“A produção de uvas aqui na propriedade começou 50 anos atrás, com meu falecido avô”, conta Luciano. Os De Mari produziam 280 mil toneladas de uva por safra. São cooperados da Vinícola Aurora e a história deles, infelizmente, não foi uma exceção dentro do grupo. Ao todo, 86 produtores ligados à cooperativa foram atingidos – uns mais, outros menos – pelas chuvas de maio. Um total de 12 hectares de terra foi completamente perdido, pois o solo deslizou levando todos os nutrientes da área.
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“Para a gente conseguir ter uma produção plena dessas áreas de uva novamente, vamos demorar pelo menos mais uns cinco anos”, afirma Maurício Bonafé, gerente agrícola da Vinícola Aurora.
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Um nó na cabeça dos produtores
Dentro do universo da cooperativa, o impacto das enchentes foi limitado. O grupo tem 1.100 produtores cooperados em 11 municípios da Serra Gaúcha. Mas o clima tem dado um nó na cabeça dos produtores e reverbera nos números há algum tempo. A cooperativa costuma trabalhar com 75 milhões quilos de uva por safra. Na passada, porém, foram colhidos 50 milhões – e as cheias ainda não tinham acontecido.
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Mas a recente quebra de safra também foi resultado de um excesso de chuva, em setembro do ano passado, período de brotamento das videiras. A umidade nesse período do ciclo é porta aberta para fungos, que atingiram os parreirais.
Pouco antes, para se ter uma ideia da instabilidade do clima, a produção de uva na Serra Gaúcha vinha sendo afetada por uma escassez hídrica – a ponto de algumas propriedades estarem implementando sistemas de irrigação pela primeira vez.
“São ajustes que as mudanças climáticas estão impondo”, afirma Rodrigo Arpini, diretor de marketing e vendas da Aurora. “Estamos entendendo como isso funciona em outras partes do Brasil para trazer tecnologia para cá.”
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Expansão além da Serra Gaúcha
Os executivos da Vinícola Aurora explicam que a cooperativa busca fazer novas alterações em seu estatuto social, que podem permitir a ampliação do grupo para além da Serra Gaúcha. “Com certeza o Brasil tem um vasto campo. Além da Serra, temos a região da Campanha, na fronteira. Petrolina também é algo em que a Aurora vai colocar o olho”, explica Arpini.
Atualmente, a Aurora já compra alguns produtos prontos dessas regiões, como base para sucos e espumantes. Segundo o presidente do conselho da Aurora, Renê Tonello, a reforma estatutária da cooperativa só deve ser feita em abril do ano que vem, quando a próxima safra for colhida (sem expectativas de quebra desta vez).
“Não descartamos a possibilidade de permitir que o nosso associado produza em outras regiões fora da Serra Gaúcha”, afirma. A ideia, a princípio, não é trazer novos cooperados. “A ideia é que os daqui possam ampliar [a produção] em outros lugares e não o contrário”.
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*A reportagem viajou para Bento Gonçalves a convite da Cooperativa Vinícola Aurora