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A poucos dias de entregar a presidência do Flamengo, Rodolfo Landim deixa a cadeira com um “sentimento de missão cumprida”. Foram seis anos como mandatário do clube da Gávea em uma de suas eras mais vitoriosas, da qual o executivo se despede satisfeito com os resultados financeiros e esportivos.
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Nos primeiros minutos de conversa com o InfoMoney, uma das últimas entrevistas do presidente no cargo, Landim se diz mais tranquilo falando sobre resultados econômicos. “Fico muito mais confortável do que falar sobre lesões de jogadores”, brinca.
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Com longa carreira na Petrobras, o executivo chegou a ser indicado para presidir o Conselho de Administração da estatal em 2022 — mas abriu mão da disputa — e presidiu a BR Distribuidora (atual Vibra), entre 2003 e 2006.
À frente do Flamengo, foi a gestão que atingiu a faixa de R$ 1 bilhão em receitas recorrentes e estabeleceu um novo patamar para os resultados operacionais, na casa de R$ 200 milhões. O clube entra em 2025 com um caixa comprimido pelas despesas com atletas no decorrer do último ano, motivado pelo excesso de lesões em 2024, e a aquisição do terreno para a construção de seu estádio.
Desde que assumiu, Landim viu o clube erguer 13 taças no futebol profissional, dentre elas duas Libertadores da América, duas Copas do Brasil e dois Campeonatos Brasileiros. Houve períodos como 2023 em que o clube mais rico do Brasil não tocou em nenhum dos principais canecos.
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“É claro que eu gostaria de ter ganhado mais. Sempre dá para ser melhor, mas no futebol tem algo que se chama adversário, e ele está lá trabalhando e querendo ganhar também”, diz o executivo.
Ele se despede do cargo neste ano e vai conhecer seu sucessor após as eleições no dia 9 de dezembro, data das eleições no clube. Seu apoio vai para o candidato Rodrigo Dunshee, que disputa o pleito com Luiz Eduardo Baptista, o Bap, e Maurício Gomes de Mattos.
“Outro patamar”
Landim assumiu a presidência do Flamengo após seis anos de gestão do presidente Eduardo Bandeira de Mello, o nome forte da reestruturação que mudou a realidade financeira do clube. Foi um período marcado por austeridade e menor competitividade esportiva, na expectativa de sanear uma dívida que, em 2013, estava na casa dos R$ 750 milhões.
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“A grande mudança que nós queríamos era sair do ciclo vicioso para o ciclo virtuoso. Precisávamos começar a investir mais para poder tentar melhorar o resultado econômico do Flamengo”, lembra Landim, que embora tenha participado da gestão de Mello, concorreu como oposição.
A ideia era de que com as finanças estruturadas — o presidente assumiu um clube superavitário e com uma dívida já na casa dos R$ 400 milhões — fosse possível atingir outro patamar esportivo, o que resultaria em mais exposição comercial, melhores patrocínios, mais arrecadação com bilheteria.
Foi quando o Flamengo montou o estrelado elenco de 2019, campeão Brasileiro e da Libertadores sob o comando do português Jorge Jesus.
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EBITDA recorrente em R$ 200 milhões
EBITDA é a sigla em inglês para lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização. Ou simplesmente quanto lucro uma empresa gerou só com a sua operação — excluindo juros advindos de investimentos, perda de valor de estruturas físicas e tarifas.
No mercado do futebol, é importante olhar para o EBITDA recorrente porque ele exclui a negociação de atletas, uma fonte de receita menos previsível e que pode dizer pouco sobre a saúde financeira daquela agremiação (não é todo dia que nasce um Vinícius Jr.).
Em 2020, ele chegou a ser negativo em R$ 57 milhões para o Flamengo.
“Nos anos de 2019 até 2021, o nosso EBITDA recorrente é muito baixo. Ele chega até a ser negativo. Foi o período em que tivemos que fazer a grande mudança que nós queríamos”, conta Landim.
Para Landim, a aposta em elevar a exposição do Flamengo foi acertada e permitiu reverter o cenário do resultado operacional no segundo mandato, o que considera um de seu principais legados. “A partir de 2022, mudamos o patamar de EBITDA recorrente para um nível de R$ 200 milhões.”
O valor não tem comparação com qualquer outro clube da Série A do campeonato brasileiro, exceção feita ao resultado do Palmeiras em 2021, quando anotou um EBITDA recorrente de R$ 216 milhões em valores ajustados pela inflação — nível atípico na série histórica.
Parte do motivo é óbvia: o Flamengo é um canhão comercial com nada menos que 19,1% de toda a torcida do Brasil, segundo o último Datafolha.
De 2021 a 2023, a receita líquida do rubro-negro cresceu 29%, corrigida pela inflação, saltou de R$ 997 milhões para R$ 1,29 bilhão, segundo dados da consultoria Convocados.
Pelo mandato de Landim, a receita recorrente líquida saiu dos R$ 626 milhões para R$ 1,04 bilhão.
O executivo atribui as melhorias nos resultados operacionais e de receita a mudanças estruturais dentro do clube, como o estabelecimento de novos processos internos e investimentos em pessoas. “Notadamente, na área de marketing o crescimento da receita ocorreu por meio dessas melhorias”.
Desde 2019, as receitas comerciais do clube vêm em uma tendência de crescimento que deve levar a uma arrecadação na linha comercial de R$ 410 milhões em 2024, segundo a projeção. Entre os jovens até 14 anos, o clube calcula que tenha 30% dos torcedores, frente a uma torcida próxima de 20% levando em conta todas as faixas etárias.
“O maior legado que vamos deixar é esse”, diz o executivo. “Um percentual que beira 30% de market share nessa população. São pessoas que vão crescer rubro-negras, consumindo produtos do Flamengo, indo a jogos, comprando camisas. Fazendo parte da torcida que é essa base sólida do crescimento do clube.”
Redução no caixa
Landim usa os resultados operacionais como principal argumento às críticas sobre uma redução abrupta no caixa do clube neste último ano.
O caixa é a parte do ativo de uma empresa (ou, nesse caso, de um clube) que pode ser utilizada para tocar o negócio, aquele dinheiro disponível para ser movimentado no curto prazo.
No caso do Flamengo, que sofreu com uma sequência de lesões de jogares importantes no ano, parte desse caixa foi utilizado para reposições: foram quatro contratações apenas na janela de meio de ano e ainda um investimento de R$ 147 milhões pela aquisição do terreno em que construirá o seu estádio.
No terceiro trimestre de 2024, caixa e equivalente de caixa somaram R$ 45 milhões, uma queda de R$ 217 milhões na comparação com o mesmo período de 2023, segundo balanço do clube.
Nos negócios, o problema de uma compressão nessa linha é que a empresa passa a depender mais de recursos de terceiros, como bancos.
“O que nos dá sustentação é um EBITDA recorrente em torno de R$ 200 milhões. Esse é o grande saldo que temos, que sustenta todos os nossos movimentos”, avalia Landim. “Tem banco toda hora querendo nos emprestar dinheiro. Banco só empresta para quem não precisa, e nós não precisamos, estamos estruturados”, adiciona o presidente.
O Flamengo terminou 2023 com sua dívida bancária zerada.
A expectativa é de que algumas medidas seja tomadas para amortecer o impacto da compra do terreno e das contratações no balanço do próximo ano. O presidente diz que os investimentos em atletas podem se valorizar em futuras vendas.
Segundo Landim, o clube estuda ainda a estruturação de um fundo para vender mil cadeiras cativas do novo estádio, o que deve ajudar a recompor parte do caixa.
“Estamos fazendo orçamentos independentes para Flamengo e Estádio, porque nos comprometemos no conselho deliberativo em nada contaminar as receitas atuais com a construção do estádio”, diz. A reposição dos valores, segundo Landim, será feita em 2025, terminado o processo de estruturação do fundo.