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Rede baiana de supermercados ocupa espaço deixado por multinacionais e abre lojas no exterior

Hiperideal inicia operações em Portugal após compra de participação em "player" local

Mitchel Diniz

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Enquanto as grandes redes nacionais e multinacionais de supermercados desaceleram investimentos e fecham lojas, os players regionais avançam. Na Bahia, onde o Carrefour está em processo de encerramento de operações de seus hipermercados, a rede Hiperideal, pouco conhecida fora da capital baiana, vai na direção contrária, ocupando, inclusive, espaços deixados pela concorrente. A varejista, com foco no consumidor das classes A e B, domina os bairros nobres de Salvador, com lojas que ficam a uma distância curta entre uma e outra e deixam pouco espaço para a entrada de competidores. O Hiperideal decidiu expandir suas operações para fora da Bahia este ano e deu um passo ambicioso, partindo direto para uma estratégia de internacionalização.

Atualmente, o Hiperideal tem 25 lojas na região metropolitana de Salvador. Três foram abertas no ano passado, sendo duas em locais que eram ocupados pelo Big, do Carrefour. Outras duas unidades devem ser inauguradas em 2024, incluindo uma no interior da Bahia. Todas seguem o modelo operacional de mercado de vizinhança e possuem entre 700 e 1.500 metros quadrados de área de venda — tamanho acima da média para esse tipo de operação, mas ainda inferior ao dos hipermercados.

“Onde cabia loja com perfil de cliente da classe A e B nós já ocupamos. Salvador está praticamente saturada”, afirmou João Gualberto, sócio-fundador do Hiperideal ao IM Business. “Fora que, cada loja que a gente abre tira 20% de venda de outras lojas nossas que são próximas [à nova unidade]”. Mesmo com esse impacto, o empresário defende a estratégia que levou à concentração de lojas da rede nos bairros de maior poder aquisitivo da capital baiana.

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“Uma concorrente tiraria 30% das vendas, então melhor competirmos com nós mesmos”, afirma. “Nós fechamos esses espaços. [A concorrência] pode até querer abrir uma outra loja, mas ao fazer estudos, vai ver que não vale a pena.”

No início da década de 1990, Gualberto foi dono de uma outra rede de supermercados em Salvador, o Peti Preço. À época, a varejista também cresceu ocupando espaço deixado pela concorrência — no caso, a da Rede Unimar, dona da bandeira Paes Mendonça, comprada pela GP Investimentos em 1994. Com a concorrente fechando lojas e migrando para o modelo de “atacarejo”, o Peti Preço passou a atender a um segmento mais premium, até Gualberto decidir vender a rede em 1999. A primeira loja do Hiperideal foi aberta logo três anos depois.

A princípio, a ideia era levar a expansão do Hiperideal para São Paulo, mas a varejista percebeu que lá enfrentaria uma forte concorrência de outros grupos regionais. Foi então que a empresa decidiu ampliar suas operações no exterior e escolheu Portugal para colocar em prática sua estratégia de crescimento.

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Além da presença maciça de brasileiros no país, no varejo português ainda predominam as lojas de vizinhança, já que o modelo de “atacarejo”, que dominou o Brasil, ainda não é muito popular por lá. O Hiperideal também queria fortalecer relações com seus fornecedores na região, de onde importa produtos que são comercializadas nas lojas da Bahia.

No território português, a ideia inicial era adquirir um terreno e levantar uma loja do zero. Mas a varejista baiana acabou comprando a parte de varejo da M. Cunha, um player local que desejava se desfazer do negócio de supermercados para focar nas operações de atacado. O valor da transação não foi revelado.

“Comprar uma parte dessa empresa foi muito conveniente para entender como funciona esse mercado. Está sendo um laboratório”, afirma Gualberto.

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João Gualberto, fundador do Hiperideal

Este mês o Hiperideal começou a operar na cidade do Porto com cinco lojas da bandeira Triplo, no modelo de vizinhança, e uma unidade de cash & carry da M.Cunha em Leiria. Pelo acordo, o Hiperideal poderá operar com as marcas da empresa adquirida por seis meses. A varejista manteve a mesma equipe local, que já trabalhava na operação dos supermercados. “As lojas vão ser transformadas em Hiperideal e a ideia é abrir novas unidades em Portugal”, diz Gualberto. Nos próximos anos, o crescimento no exterior deve estar no foco da estratégia da companhia.

Segundo Gualberto, o Hiperideal tem financiado sua expansão majoritariamente com recursos próprios e 25% dos investimentos são feitos via empréstimos bancários.

Ainda de acordo com o empresário, o faturamento da empresa nos últimos cinco anos tem obtido crescimento médio anual de dois dígitos. A rede de supermercados fechou 2023 com receita de R$ 900 milhões e, ainda que não haja um guidance formal, a expectativa é bater o primeiro R$ 1 bilhão agora em 2024.   

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados