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Reajuste da gasolina estimula vendas de etanol hidratado, e encher o tanque pode acabar em pizza

Alta dos preços do combustível fóssil anima empresas como a São Martinho

Fernando Lopes

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O reajuste dos preços da gasolina nas refinarias da Petrobras (PETR4), anunciado na terça-feira (15) pela estatal, tende a destravar as vendas de etanol hidratado no país. E pode, portanto, estimular uma melhora dos resultados das empresas do segmento sucroalcooleiro, que vinham dependendo cada vez mais do açúcar para garantir margens.

A partir desta quarta-feira (16), o preço médio de venda da gasolina A para as distribuidoras de combustíveis subirá 16,27%, para R$ 2,93 o litro. Com isso, a defasagem em relação às cotações internacionais do combustível fóssil, que chegou a superar 25% nas últimas semanas, deverá cair pela metade, estimulando a melhora dos resultados da própria Petrobras e ampliando a vantagem econômica do etanol hidratado nas bombas.

“Num primeiro momento, o preço do etanol poderá ficar abaixo de 60% do preço da gasolina, o que deverá incentivar as vendas do biocombustível. Se antes quem enchia o tanque com etanol, e não com gasolina, já estava ganhando uma pizza com a diferença, agora vai ganhar uma pizza e um refrigerante de dois litros. A diferença vai superar R$ 100”, brinca Fabio Venturelli, CEO da São Martinho (SMTO3), uma das maiores empresas brasileiras do segmento sucroalcooleiro.

No mercado, costuma-se calcular que o etanol é mais vantajoso economicamente para os motoristas quando seu preço vale até 70% do valor cobrado pela gasolina. Em razão das evoluções tecnológicas das últimas décadas, contudo, há quem diga que a paridade já subiu para cerca de 80%.

Com o reajuste da Petrobras, a expectativa agora é que, mesmo na entressafra da cana, que se aprofundará no início do ano que vem, a paridade alcance cerca 70%, e que as vendas de hidratado fluam a um ritmo mais acelerado, observou Felipe Vichiatto, CFO da São Martinho. Segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bionergia (Unica), que representa as usinas do Centro-Sul do país, as vendas do biocombustível somaram 5,26 bilhões de litros de abril, início desta safra 2023/24, até o fim de julho, uma queda de 8,84% em relação ao mesmo período do ciclo passado.

Fábio Venturelli, CEO da São Martinho: vantagem do etanol sobre a gasolina será ainda mais sentida no bolso (Divulgação)

Como as vendas de gasolina até agora estão em alta, a produção de etanol anidro, misturado ao combustível fóssil em proporção de 27%, subiu 14,91% na comparação, para 4,33 bilhões de litros, mas esse aumento aliviou pouco a queda na comercialização de hidratado. Dessa forma, para as usinas foi o açúcar, cujas cotações estão elevadas nos mercados doméstico e externo, que puxou os resultados no primeiro trimestre da safra.

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Graças ao açúcar, à valorização de ativos biológicos e outros efeitos contábeis sem reflexo no caixa, a São Martinho encerrou o período entre os meses de abril e junho com lucro líquido de R$ 220,3 milhões, praticamente o mesmo patamar do primeiro trimestre da temporada 2022/23 (R$ 221,6 milhões). Mas, por causa do etanol, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado caiu 36,4%, para R$ 557,3 milhões, e a receita líquida recuou 20,7%, para R$ 1,353 bilhão.

No período, a produção de açúcar da São Martinho cresceu 1,9%, para 423,4 mil toneladas, enquanto a produção total de etanol (anidro e hidratado) aumentou 3,2%, para 335,8 mil metros cúbicos. A produção de etanol de cana caiu 8,2%, para 298,8 mil metros cúbicos, e o aumento foi garantido pela entrada em operação da usina de etanol de milho, que colaborou com 37 mil metros cúbicos.

Na soma das vendas no país e no exterior, a receita líquida da empresa com açúcar registrou alta de 49,2% no primeiro trimestre da safra 2023/24 ante um ano antes, para R$ 766,5 milhões – e o cenário global indica que os preços continuarão firmes. Já a receita líquida total obtida com etanol caiu 58,4%, para R$ 434,6 milhões.

Fernando Lopes

Cobriu o setor de energia e foi editor do semanário Gazeta Mercantil Latino-Americana até 2000. Foi editor de Agro no Valor Econômico até fevereiro de 2023