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Queridinho das Festas Juninas, milho tem deflação e impulsiona negócios com etanol

Preços globais da commodity tiveram queda com recuperação da produção na última safra

Renata de Carvalho

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Ingrediente indispensável dos pratos de Festas Juninas, pela primeira vez em quatro anos, o milho contribuiu para diminuir – e não aumentar – a inflação da cesta de compras dos festejos, que chegam ao auge neste fim de semana no Nordeste e em quase todos os estados. Longe da farra, a commodity tem ganhado impulso em negócios menos tradicionais, como a produção de etanol.

Levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE) mostra que os três itens pesquisados – milho em conserva, fubá e milho de pipoca – tiveram deflação no período de 12 meses entre junho de 2023 e maio de 2024.

No entanto, as quedas de preços, de 1,41%, 2,86% e 6,63%, respectivamente, não foram suficientes para reverter as altas de mais de 30% nos 12 meses anteriores.

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Acompanharam, porém, o indicador de preço de mercado da ESALQ/BM&FBovespa que também esteve no menor patamar para o período de quatro anos nos primeiros cinco meses deste ano.

Variação dos preços do milho (em %)

 ProdutoJun 2022/
mai 2023
Jun 2023/
mai 2024
Milho em conserva33,35-1,41
Fubá de milho35,72-2,86
Milho de pipoca33,85-6,64
Fonte: FGV IBRE

De acordo com a ESALQ/BM&FBovespa, apenas em junho o indicador que acompanha o preço da saca de 60 quilos superou a marca de 2023, a menor do período. Ainda está distante, porém, das elevadas médias de 2021 e 2022.

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A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) explica que, no cenário global, há excedente do produto. Dois dos maiores exportadores – Estados Unidos, líder global na produção do grão, e Argentina – registraram recuperação da produção na última safra, o que reduziu os preços globais da commodity.

Uso energético não impacta preços

O mercado doméstico brasileiro segue acompanhando o comportamento externo, apesar da crescente demanda do grão para produção de biocombustíveis.

O Balanço Energético Nacional (BEN) 2024, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e divulgado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) na quinta-feira (20), mostra que o milho respondeu por 16% da produção de etanol (anidro e hidratado). Em 2021, apenas 7,8% do etanol anidro e 13,1% do hidratado foram produzidos a partir do grão.

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Colheita de milho em fazenda perto de Brasília – 22/08/2023 (Foto: Adriano Machado/Reuters)

“O aumento da produção do grão, dedicando a segunda safra principalmente para a produção de etanol, tem favorecido esse crescimento. O milho, como matéria-prima, apresenta vantagens significativas, incluindo a possibilidade de produção em regiões que não são tradicionais produtoras de cana-de-açúcar, além de ter capacidade para ser produzido durante o ano todo, já que pode ser armazenado”, informa o MME.

“Nos últimos 5 anos, a média de crescimento do consumo de milho para a produção de etanol foi de 46,9% ao ano, destacando-se o aumento do uso de DDG em substituição de milho e sorgo na alimentação animal, que é extraído como coproduto na produção de etanol de milho”, explica a Conab.

Da mesa junina ao tanque e à churrasqueira

A produtividade do etanol a partir do milho é bem menor que a da cana de açúcar, mas o DDG é um subproduto da produção de etanol de milho com alta concentração de proteínas. Nos Estados Unidos, tem sido largamente adotado na alimentação de bovinos, inclusive com impacto nas emissões de metano.

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No Brasil, um exemplo de negócio que explora essa oportunidade é a nova fábrica de etanol de milho da Neomille em Maracaju, Mato Grosso do Sul, que começou a funcionar este ano e foi inaugurada na terça-feira (18). O investimento do grupo CerradinhoBio foi de R$ 1 bilhão e a unidade tem capacidade de produzir 266 milhões de litros de etanol, 161 mil toneladas de DDG e 10 mil toneladas de óleo a partir de cerca de 600 mil toneladas de milho.