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Por protagonismo em veículos elétricos, Brasil precisa de “bateria” de investimentos

“Nós já temos as hidrelétricas, nós já temos energia solar e eólica. Agora, precisamos entrar na segunda onda de transição energética que é a eletrificação”, diz diretora do BNDES

Mitchel Diniz

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A busca por carros elétricos no Brasil mais que dobrou nos sete primeiros meses deste ano e o dado joga luz sobre uma indústria que disputa investimentos à unha. Os principais players do setor automobilístico que trabalham com modelos elétricos e híbridos enxergam potencial de protagonismo no país em transição energética, mas reconhecem que existem inúmeras barreiras, tanto do ponto de vista da acessibilidade desses veículos quanto a necessidade de regulamentação. 

Luciana Costa, diretora do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), diz que o Brasil se depara com uma janela de oportunidade inédita em termos de transição energética. “Nenhuma grande economia, nem um país do G20 possui a vantagem competitiva que nós temos”, afirmou, durante o painel “O papel da eletrificação na transição energética”, esta sexta-feira (30), durante a Expert XP 2024.

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Segundo Luciana, o BNDES é o maior financiador de energia renovável do mundo.

“Nós já temos as hidrelétricas, nós já temos energia solar e eólica. Agora, precisamos entrar na segunda onda de transição energética que é a eletrificação”, complementou. 

Estratégia das montadoras

Na General Motors, “o direcionamento é 100% elétrico”, afirmou Raquel Mizoe, diretora de engenharia de produtos da GM na América do Sul. A companhia acabou de lançar um SUV elétrico no mercado brasileiro e em breve vai trazer o Equinox, da Chevrolet. 

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SUV elétrico lançado pela GM no Brasil (Crédito: InfoMoney)

Na Stellantis, um grupo jovem, porém formado por empresas experientes do setor automotivo (Fiat Chrysler e Peugeot Citroen), a preocupação com descarbonização vai além do que sai do escapamento do veículo. “Avaliamos todo o ciclo, desde a mineração, metais, plástico e alumínio [que compõe o automovóvel] do ponto de vista de emissão de CO2”, explicou João Irineu Medeiros, vice-presidente de assuntos regulatórios da empresa. 

“O Brasil tem todas as oportunidades de fazer uma transição energética, equilibrando diferentes níveis de eletrificação e combustíveis renováveis para fazer essa transição de forma equilibrada”, complementou o executivo. 

A chinesa BYD se apresenta como a maior produtora de painéis solares do Brasil, mas se tornou popular no país pelos carros de passeio 100% elétricos. A companhia disputa com a Tesla a liderança em vendas de carros elétricos no mundo. No Brasil, a companhia tem recebido apoio do BNDES para eletrificar a frota de ônibus – hoje, com mais de 100 mil veículos, sendo que menos de 300 são elétricos. 

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“O Brasil tem chances de ser o protagonista global da transição energética”, afirmou Alexandre Baldy, vice-presidente sênior da BYD no Brasil. Ele e Luciana, do BNDES, defendem um marco regulatório para a eletrificação da mobilidade urbana. 

Ele destacou o recurso de matérias-primas para a eletrificação, como minerais usados na fabricação de baterias e cana-de-açúcar – o Brasil, no momento, conduz pesquisas para a conversão de etanol em hidrogênio verde, “combustível” de carros híbridos, incluindo os eletrificados. “Temos todas as condições aqui para um protagonismo”, disse o executivo. 

Disputa por investimentos

O principal desafio, segundo Luciana, é competir por investimentos com outros players como Estados Unidos, Europa, China e Índia, países em que são cada vez mais frequentes planos de incentivo e subsídios. “O Brasil tem uma limitação fiscal nesse momento”, lembra a diretora do BNDES. 

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Luciana explica que o mundo vai precisar de uma média de US$ 4 trilhões por ano, até 2030, para investir em transição. “Os bolsos de liquidez vão ser variados e todos vão ter que ser acessados”.

O acesso a esses veículos também é outro desafio. Para Medeiros, da Stellantis, os diferentes níveis de hibridização vão dar poder de compra para o cliente brasileiro. “O biocombustível e diferentes níveis de eletrificação vão compor o portfólio da Stellantis nessa nossa ambição de descarbonização em 50% até 2030, o que para indústria automotiva é amanhã e, em 2038, fazer o net zero”.  

A BYD investe na produção de um motor híbrido para que o consumidor tenha “vias de escolha”, segundo Baldi. 

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Raquel Mizoe concorda que o carro híbrido tem um papel importante na transição energética, mas afirma que é preciso trabalhar para “um futuro elétrico”.“Precisamos trabalhar para aumentar a escala dessas novas tecnologias para torná-las economicamente sustentáveis. E eu acredito que o Brasil pode vir a ser um polo produtor e exportador dessas tecnologias através de economia de escala”, disse. 

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados