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Polishop, Coteminas, Dia. Os casos mais recentes de empresas brasileiras que pediram recuperação judicial (ou extrajudicial) ilustram um cenário que está longe de terminar. Se em 2023 as tentativas de renegociar dívidas com credores aceleraram, nos quatro primeiros meses de 2024, um número ainda maior de empresas recorreu ao mecanismo para evitar a falência.
No acumulado do ano até abril, a quantidade de companhias que pediram recuperação judicial no Brasil cresceu 80% frente ao mesmo período de 2023, mostram dados da Serasa Experian. Foram 685 pedidos nos quatro primeiros meses, contra 382 no intervalo anterior. No ano passado, os pedidos já haviam acelerado 68,7% ante 2022.
As empresas de serviços – o setor mais representativo no PIB brasileiro – foram as que mais entraram com pedidos na justiça este ano, seguidas do comércio, indústria e setor primário. Os pedidos de falência também cresceram. Segundo a Serasa, em abril foram 90, alta de 69,8% frente ao mesmo mês do ano passado.
Relembre a seguir os casos mais recentes de pedidos de recuperação judicial e extrajudicial, no Brasil e Estados Unidos, envolvendo empresas conhecidas:
Polishop
No dia 20 de maio, a Justiça paulista aprovou o pedido recuperação judicial da varejista de eletrônicos Polishop. A rede havia feito o entrado na 2ª Vara de Recuperações Judiciais do Tribunal de Justiça de São Paulo no dia 17.
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A rede fundada pelo empresário João Appolinário em 1999 chegou em seu auge a ter cerca de 250 lojas em todo o Brasil. O número de unidades hoje está em cerca de 54, segundo o jornal Valor Econômico.
A empresa enfrenta dívidas estimadas em R$ 395,6 milhões. Com a aprovação do processo, a varejista terá suas obrigações congeladas por 180 dias e vai preparar um plano de reestruturação e para o pagamento de credores, a ser apresentado em até 60 dias.
Os problemas financeiros da empresa cresceram nos últimos anos, especialmente após a pandemia, pela dificuldade de pagar aluguéis nos shoppings.
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Coteminas
A Coteminas (CTNM4), que pertence ao empresário Josué Gomes da Silva, atual presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), apresentou no dia 6 de maio pedido de recuperação judicial. Segundo informação dada um dia antes pela empresa, a Justiça deferiu, em tutela de urgência, a suspensão de cobranças de dívidas do grupo – que atua no setor têxtil. A decisão foi da 2ª Vara Empresarial da Comarca de Belo Horizonte (MG).
Parceira da varejista chinesa Shein no Brasil, a Coteminas tem uma dívida líquida de R$ 1,1 bilhão e, agora, as conversas devem envolver mais de 15 bancos credores, incluindo grandes instituições, como Banco do Brasil, Bradesco e BTG, e menores, como Sofisa, Pine e ABC Brasil. A lista de credores consta do último balanço público da empresa, do primeiro trimestre de 2023, divulgado com meses de atraso.
Casas Bahia
A 1ª Vara de Falências e Recuperno final de abril o pedido de recuperação extrajudicial da rede de varejo Casas Bahia (BHIA3), que cita dívidas de R$ 4,1 bilhões. A varejista alcançou um acordo de reestruturação da dívida com seus dois principais credores: Bradesco e Banco do Brasil.
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Praticamente todo esse valor – decorrente de quatro debêntures e de CCBs (cédulas de crédito bancário) emitidas nos últimos anos – venceria até 2027. Com o reperfilamento, esses papéis devem ser consolidados em uma única nova debênture, com condições mais vantajosas.
Light
A Light (LIGT3) aprovou no dia 18 de maio os termos de um novo plano de recuperação judicial para renegociar dívidas de R$ 11 bilhões. O documento foi protocolado no processo de recuperação judicial em curso na 3ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro.
Entre as medidas previstas, estão o aporte de recursos por aumento de capital, capitalização de determinados créditos por títulos conversíveis e não conversíveis, e pagamento integral de credores com créditos de até R$ 30 mil.
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Enquanto a direção da Light tenta construir o seu plano de recuperação, parte dos credores tem buscado alinhavar uma proposta alternativa para a empresa. As discussões sobre a dívida da Light vêm desde o ano passado, quando a empresa entrou em recuperação judicial.
Dia
A rede espanhola de supermercados Dia fez em março deste ano um pedido de recuperação judicial no Brasil diante do que chamou de “persistentes resultados negativos”.
A decisão veio uma semana depois que a companhia anunciou que fecharia 343 supermercados e 3 centros de distribuição no Brasil, permanecendo apenas em São Paulo, após cerca de 23 anos de presença no país.
Gol
A Gol (GOLL4) recebeu em fevereiro aprovação de um tribunal dos Estados Unidos para um empréstimo de US$ 1 bilhão, depois de sanar preocupações de um grupo de credores que temiam ser preteridos na operação. A aérea já aguardava autorização para um empréstimo de US$ 950 milhões na modalidade “debtor in possession” (DIP) em seu plano de recuperação judicial nos EUA, em 25 de janeiro, ao recorrer ao Chapter 11. A companhia vinha sendo pressionada por dívidas elevadas ainda sob os impactos da pandemia, além de atrasos em entregas de aeronaves Boeing 737 Max para atender a um aumento na demanda.
Grupo Petrópolis
Em março de 2023, o Grupo Petrópolis, dono das marcas de cerveja Itaipava, Petra e Crystal, aderiu a um plano de recuperação judicial, com dívidas avaliadas em mais de R$ 5 bilhões envolvendo mais de 5 mil credores. Em setembro, a empresa apresentou um segundo plano à Justiça. O grupo alegou crise de liquidez em função de forte redução de receita ligada à queda nas vendas, que recuaram de 31,2 milhões de hectolitros de bebidas vendidos em 2020 para 24,1 milhões de hectolitros em 2022.
Segundo o grupo, o processo está caminhando “em conformidade com o previsto desde a homologação, aprovada em outubro de 2023”. Em janeiro deste ano, a cervejaria concluiu o pagamento integral para 20% dos credores.
Cepam e Village
A padaria Cepam, e sua fábrica de chocolates Village protocolaram no começo deste ano um pedido de recuperação judicial, alegando dívidas da ordem de R$ 73,4 milhões. Segundo a empresa, a pandemia afetou fortemente seu faturamento e que o ciclo pós-pandemia não tem sido favorável.
OSX
O TJRJ confirmou em janeiro o pedido para uma segunda recuperação judicial da OSX, do empresário Eike Batista, tendo como réu o Porto do Açu, controlado pela Prumo. A OSX é a única empresa do antigo grupo EBX que continua nas mãos de Eike. A primeira recuperação judicial da empresa começou em 2013, decorrente de dívidas de R$ 5,3 bilhões, e foi concluída em 2020 em um acordo de credores.