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Perspectivas para Eneva e Vibra estimularam debate sobre fusão entre conselhos

Estratégia mais firme para a transição energética e menor dependência da Petrobras são pontos de convergência entre os boards

Rikardy Tooge

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As discussões em torno de uma fusão entre Eneva e Vibra Energia soam mais familiares aos envolvidos do que sugere a correspondência feita entre conselhos na noite do último domingo (26) e a tendência é de que seja aberta uma negociação entre as empresas nos próximos dias, disseram fontes ouvidas pelo IM Business. É consenso de que os termos iniciais não serão os definitivos em uma eventual combinação de negócios.

Embora tenha chamado a atenção o prazo curto de apenas 15 dias para que a Vibra responda à proposta da Eneva para uma fusão de iguais, os debates entre membros dos dois boards ocorriam há meses, conforme já noticiado. O cronograma determinado na proposta da Eneva está longe de ser uma “faca no pescoço” da pretendida, apenas uma mera formalidade, prosseguem as fontes.

“Estamos falando de conselhos onde todos são provados, ninguém começou ontem”, resume uma pessoa próxima das negociações. “Temos [Sergio] Rial, Nildemar [Secches], [Walter] Schalka… Ninguém enviaria uma proposta para brincar”, acrescenta.

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Ainda que, em um primeiro momento, ninguém esperasse uma união entre Vibra e Eneva, que poderá criar uma empresa com market cap próximo a R$ 50 bilhões, os desafios da transição energética tornaram-se pontos de convergência. “É a união do horizonte de projetos da Eneva com o balanço forte da Vibra”, reforça a fonte.

A avaliação é que a junção das apostas em distribuição de combustíveis, com o etanol da Vibra somado ao gás natural e à geração de energia da Eneva, protege os dois modelos de negócio nos próximos anos, dentro de uma estrutura de capital sólida. Enquanto a Eneva consegue trabalhar margens melhores, é mais diversificada e menos dependente de governo ou da Petrobras, a Vibra tem escala e um liability management mais forte para investir em novas frentes.

A Eneva encerrou o terceiro trimestre deste ano com dívida líquida consolidada de R$ 16,1 bilhões, com uma alavancagem em 4,22 vezes o Ebitda dos últimos 12 meses – vale destacar que indicador está abaixo dos covenants da empresa, de 5,5 vezes neste ano e de 5 vezes até o fim do primeiro semestre de 2024. Já Vibra está com a alavancagem em 1,9 vez o Ebitda, patamar considerado sustentável, e dívida líquida de R$ 10,2 bilhões.

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Se o endividamento é discrepante, a geração de caixa já está em níveis próximos. De janeiro a setembro, a Eneva viu seu Ebitda ajustado avançar 104,8%, para R$ 3,26 bilhões. No mesmo período, a Vibra entregou Ebitda de R$ 3,93 bilhões, em um avanço de 9,1% no comparativo. “E as distribuidoras vêm de um cenário muito atípico para os preços dos combustíveis, e hoje é difícil prever que vá continuar assim daqui para frente”, acrescenta.

A Eneva é a maior operadora privada de gás natural em terra (“onshore“) e a segunda em capacidade térmica — responsável por 11% da capacidade térmica a gás instalada no país. A empresa conta com um parque de geração térmica com 6,3 GW de capacidade contratada (67% operacional), sendo 4,9 GW a gás natural (78%) e 0,7 GW a carvão mineral (11%) e 0,7 GW fotovoltaica (11%) mais um pipeline de projetos licenciados de 7,2 GW. “O que eu sei é que daqui a três anos o Ebitda da Eneva será muito maior do que o da Vibra”, aponta outra fonte.

Os pontos principais de críticas do mercado são relativizados pela fonte. Sobre a atual diferença de valor de mercado entre as companhias – no último pregão antes da proposta da Eneva, a empresa de gás natural valia 25% menos do que a Vibra Energia –, há o argumento de que na maior parte do ano o cenário foi o inverso. Sobre a inclusão de quatro térmicas do BTG Pactual, um dos principais acionistas da Eneva, diz que o que há por enquanto é apenas um pedido do investidor, que será avaliado no futuro pela nova empresa. “Tudo será feito com a maior transparência, as duas empresas têm um grau enorme de governança”.

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Já em relação ao fato de não ser a primeira vez que a Eneva tenta uma fusão de seus negócios –- no passado, a empresa fez uma proposta hostil pelo controle da AES Tietê e boatos de uma fusão com a PetroReconcavo — a fonte diz que os contextos são diferentes. “São momentos diferentes e as situações de mercado mudam. Os acionistas envolvidos e a visão de perspectiva pesaram muito nessa conversa.”

Conforme o IM Business mostrou na manhã desta terça-feira (28), a avaliação de outras fontes a par do negócio é que as discussões sobre a fusão tendem a caminhar para uma barganha por preços, uma vez que o negócio em si estaria sendo bem digerido pelo mercado. No entanto, Eneva e Vibra ainda devem enfrentar oposição de minoritários, como a gestora Squadra, que afirmou que irá brigar contra a proposta.

A Dynamo, investidora das duas, não se posicionou publicamente, embora seja apontada como uma das mentoras intelectuais da fusão. Ronaldo Cezar Coelho, acionista relevante da Vibra, não sinalizou se dará aval ao negócio, ainda que tenha um acordo com a Dynamo para votos em conjunto no board da antiga BR Distribuidora.

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Em manifestação após o fechamento do mercado desta segunda-feira (27), a Vibra Energia afirmou que irá analisar a proposta de forma detalhada, visando o melhor retorno para seu acionista.

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Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br