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Concluída a reorganização societária que envolveu cerca de R$ 500 milhões, a Panatlântica S.A., uma das maiores distribuidoras e centro de serviços de aços planos do país, pavimenta o caminho para novo ciclo de crescimento, buscando outros mercados. Com atuação concentrada na região Sul, a empresa planeja avançar mais na região Sudeste e atingir o Centro-Oeste, na rota do agronegócio.
Com a saída de dois sócios do bloco de controle, a distribuidora passou a ter como principais acionistas o empresário Raul Maselli, um dos fundadores e com longa vivência nesse negócio, e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), de Benjamin Steinbruch. De 11,3% das ações desde 2010, a CSN passou a deter 29,9% do capital da Panatlântica e direito a assentos no conselho, além de renovar contrato exclusivo de fornecimento de aço.
Com o novo acerto societário, assinado no fim de outubro e concluído em 15 de janeiro, Maselli passou a ter o controle integral da holding L.P. Aços Participações, que agora detém 65,14% do capital total da Panatlântica. O empresário, pelo novo acordo, continuará na presidência do conselho de administração. As duas empresas firmaram um acordo de acionistas e o contrato exclusivo de fornecimento de aço, ambos pelo prazo de dez anos.
Maselli, que começou a trabalhar com o pai Nicola aos 15 anos, na década de 1950, tem uma rica história de atuação no mercado de distribuição de aço no país. Juntos, em 1959, fundaram a Limasa S.A., que foi uma das maiores do segmento de distribuição. “Fui o primeiro cliente da Usiminas, em 1960”, diz o empresário, que, aos 88 anos, mantém uma rotina normal e diária de trabalho. Muitos anos depois, em 1974, incorporou a gaúcha Panatlântica, fundada em 1952 em Porto Alegre. Maselli foi também um dos fundadores do Inda, entidade ligada à distribuição de aços planos, e seu presidente em 1970.
Na reorganização societária, a CSN comprou 18,61% de um dos sócios de Maselli, que detinha as ações por meio da Talavera Administração e Participação após rearranjo de saída no fim de outubro. A CSN vai desembolsar R$ 150 milhões no negócio, em seis parcelas: uma foi no ato do acordo final e cinco anuais, conforme comunicado ao mercado. O processo de reestruturação demorou nove meses. Maselli adquiriu o restante das ações na L.P. Aços, envolvendo o segundo sócio.
Maselli contou com financiamento do banco XP, da ordem de R$ 280 milhões, parcela em cinco anos, e completou pequena parte com imóveis rurais (fazendas) que tinha em conjunto com os sócios. A companhia é listada em Bolsa há quase 53 anos e adotou o nome Panatlântica S.A. em 1987. Atualmente, 4,95% das ações (a maioria preferenciais) estão no free float. O valor de mercado é de R$ 805 milhões e o patrimonial está em torno de R$ 1,2 bilhão.
Maselli ressalta a importância de reforçar a parceria com a CSN, que vem de 2010. Diz que optou na época pela siderúrgica por ela dispor de um leque amplo de produtos siderúrgicos e por abrir as portas para a Panatlântica fazer a logística de material de terceiros. Além do mais, conta com suporte de um grande grupo. “Hoje somos o maior cliente da CSN, com cerca de 10% do aço vendido no país; contamos com mais de 2 mil clientes ativos”. Por meio da Açolog, que faz logística, chega a transportar 48 mil toneladas de aço por mês.
Sobre a ampliação no capital da distribuidora, a siderúrgica afirmou, em nota: “O aumento da participação da CSN na Panatlântica consolida a estratégia da CSN de avançar na cadeia de valor da siderurgia, aumentando a competitividade ao reforçar seus canais de distribuição”. Atualmente, a siderúrgica atua por meio da Prada Distribuição em processamento e distribuição de aços planos e longos, atendendo os setores automotivo, de construção civil, de utilidades domésticas e de embalagens. No Sul e Nordeste, está presente como CSN Distribuição. Tem ainda uma base em Mogi das Cruzes (SP).
Agora, afirma Rinaldi Maselli, filho que está à frente da Açolog e cuida da gestão da distribuidora junto com o empresário, a parceria permitirá discutir novas alternativas daqui para frente para a Panatlântica, reforçando sua atuação atual e abrindo outros mercados. Isso poderá envolver aquisições, fusões, novos produtos e construção de novas unidades de centros de serviços e distribuição.
A Panatlântica tem sua principal operação em Gravataí (RS), a 25 km de Porto Alegre, para onde mudou-se em 1976. Lá montou um centro de serviços (e onde passou a ser a matriz da companhia), considerado um dos mais amplos e mais modernos do país, ressalta o empresário. No todo, a empresa tem sete unidades operacionais, que distribui bobinas e chapas e faz perfis, telhas, tubos, painéis, entre outros itens beneficiados. Três dessas unidades estão no Rio Grande do Sul, duas em Santa Catarina, uma em São Paulo e outra, de menor porte, em Minas Gerais.
A operação de Campo Limpo Paulista (SP), na Grande São Paulo, foi adquirida da Usiminas em 2022. É uma fabricante de tubos que se encontrava fechada. A compra do ativo marcou a entrada da Panatlântica no mercado paulista. Foram feitos investimentos de modernização e expansão, ganhando capacidade de fazer até 10 mil toneladas de tubos ao mês, informa Rinaldi.
No ano passado, a distribuidora movimentou em torno de 320 mil toneladas, volume próximo das 330 mil de 2022 (de acordo com balanço financeiro daquele ano), quando também fez serviços diversos de cerca de 140 mil toneladas para empresas metal-mecânicas da região Sul. A previsão da empresa é de comercializar cerca de 10% mais neste ano, prevendo atingir ao menos 360 mil toneladas, impulsionada pela unidade de São Paulo. “Queremos voltar ao volume recorde de 2021”, afirma Raul Maselli.
O balanço de 2023 da Panatlântica ainda não foi finalizado: está na fase final da auditoria, informam os empresários. Em 2022, a receita líquida foi de R$ 2,33 bilhões, gerando Ebitda de R$ 114,4 milhões e lucro líquido de R$ 55,7 milhões. A dívida financeira total de R$ 620 milhões era quase coberta pelo saldo de caixa de R$ 598 milhões, conforme o balanço publicado. Segundo fontes do setor, a empresa se destaca por ter alavancagem quase zero, com caixa pouco abaixo da dívida financeira bruta.
No ano passado, todo o setor do aço no país viveu um ano difícil. As siderúrgicas e distribuidoras de aço enfrentaram aumento da competição de produto importado, recuo de vendas no mercado doméstico e queda de preços. A Panatlântica não foi exceção nesse mercado, onde disputa com concorrentes de peso. Alguns são controlados por siderúrgicas como Usiminas, ArcelorMittal, Gerdau e a própria CSN. Outros são grupos independentes, caso de Aço Cearense, Soufer, Paulifer e Açotubo.
Na avaliação da equipe do Banco XP que participou do processo de reorganização societária, concedendo suporte financeiro aos Maselli, a operação torna a empresa mais robusta para crescimento, tendo o peso da acionista CSN. A estrutura de capital familiar ficou mais clara, afirma. E, por ser uma empresa pouco alavancada financeiramente, vão poder quitar a dívida com fluxo de dividendos. O time do Strategic Transaction Group (STG) do banco destaca dois outros pontos: a Panatlântica tem garantia de 90% de fornecimento de aço pela CSN e não pode se endividar mais que duas vezes a geração de caixa. Para a siderúrgica, acrescenta, fez todo sentido ampliar a participação acionária na distribuidora.
Paulistano do Bom Retiro e neto de imigrantes italianos, Maselli, além dos negócio com o comércio de aço, enveredou na poesia nas suas horas vagas. Em 1988 publicou “Tarde Demais”, livro de poemas que reuniu seus escritos acumulados ao longo de muitos anos. Mas não parou por aí. “No momento, diz o empresário, há outro pronto para ser editado e um terceiro em fase de elaboração. “Ele é irrequieto. Está o tempo todo em atividade, se informando e participando de todas as decisões na empresa”, afirma Rinaldi.