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Outfield faz tabelinha entre consultoria e gestora de olho em expansão do mercado

Empresa entra no mercado de capitais e pretende surfar onda de SAFs e tecnologia no esporte

Iuri Santos

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Na onda do fortalecimento do mercado de esportes e entretenimento no Brasil, a Outfield Inc está ajustando sua rota. Os resultados recentes e projeções de que essa indústria atraia cada vez mais investimento fizeram a empresa, antes dedicada exclusivamente à consultoria para instituições esportivas, se lançar com seis fundos no mercado de capitais.

Criada em 2016, a Outfield diz ter dobrado anualmente de tamanho e passou de uma consultoria estratégica e de M&As focada em esporte para uma holding, incluindo uma gestora em seu guarda-chuva em 2019.  “Naquele momento, era impensável que a curva de crescimento que gostaríamos que o mercado apresentasse chegaria agora”, diz Pedro Oliveira, cofundador da Outfield.

Segundo o relatório “Convocados” desenvolvido em parceria da gestora Galapagos Capital com a própria Outfield, o futebol, mercado esportivo mais relevante do Brasil, cresceu em uma média anual de 6,79% nos últimos 10 anos, contra 0,24% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

A relação construída com os clubes nos últimos anos serve como porta de entrada para o novo braço no mercado de capitais. A área de consultoria, que projeta um faturamento de R$ 10 milhões em 2024 e representa cerca de 70% do total da holding, é responsável por projetos como a gestão do plano de sócios-torcedores e toda a estratégia de vendas B2C do Red Bull Bragantino, atual vice-líder da Série A do campeonato nacional, mas também já teve Flamengo, Atlético Mineiro, Ceará, Goiás e Bahia como clientes.

Do ponto de vista de investimentos em startups, a Oufield olha para companhias relacionadas à esporte e entretenimento com soluções em tecnologia. É o caso recente da investida na Bepass, empresa de autenticação responsável pelo reconhecimento facial utilizado no acesso ao Allianz Parque, estádio do Palmeiras.

bola de futebol
(Peter Glaser/Unsplash)

Já para os clubes, há veículos diferentes. Na onda das SAFs, a Outfield espera se posicionar como uma espécie de compradora pulverizada. A ideia da empresa é entrar com participações inferiores a 10% em novas SAFs ou clubes que já tenham passado para o modelo de sociedade anônima.

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“Pela lei, se você controla uma SAF, não pode ter participação em nenhuma outra. Mas o que a lei prevê no outro extremo: até 10% você não tem restrição. Então estamos nesse outro lado, como gestora, procurando bons investimentos minoritários”, explica Oliveira. Ele diz que a empresa espera participar das negociações junto a eventuais investidores majoritários e aposta em agregar a experiência no mercado para contribuir nas investidas.

A Outfield já tem participação na SAF do paranaense Maringá Futebol Clube e está na mesa de negociações para investir em um clube que faz parte dos 20 maiores do Brasil e já se tornou empresa. A negociação ainda não pode ser aberta, mas o veículo para essa aplicação levantou entre R$ 150 e R$ 200 milhões. Diferentemente do que se viu na primeira onda de SAFs, em que clubes como Botafogo, Cruzeiro e Vasco foram comprados por valores entre R$ 400 e R$ 700 milhões devido às suas altas dívidas, os valuations para compras agora devem ser mais elevados.

Outra parte da estratégia se apoia em uma fragilidade do futebol nacional: as dívidas e o acesso a crédito. Com problemas financeiros crônicos, os clubes brasileiros enfrentam dificuldade em acessar empréstimos nos bancos tradicionais: a forma mais comum é por meio de antecipação de direitos de transmissão. “Nós usamos garantias como bilheteria, e renda de sócio-torcedor, que em 90% dos casos são recebíveis que o clube nunca usou como garantia para o estímulo de operação”, diz Oliveira.

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Em parceria com a Galapagos, gestora com apetite a ativos estressados, a Outfield também adotou uma estratégia de compra de dívidas em trâmite na Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD), órgão criado pela CBF. Essas dívidas têm potencial de gerar impactos esportivos nos clubes, como o transfer ban, equipamento da FIFA que impede o clube de fazer novas contratações em função do não pagamento de transferências internacionais.

A aposta da empresa é que as sanções esportivas decorrentes das dívidas seja um trunfo para o sucesso do fundo. “É a hora que de fato dói no core business do cara. Então a gente fica com esse passivo e muitas vezes até renegocia isso com o clube, partindo de novo da premissa de que entendemos o fluxo de caixa dele melhor”, explica Oliveira. Os dois veículos, de crédito e dívida, tem R$ 150 milhões para alocação.

A gestora utiliza inteligência de dados para elencar boas opções de investimento: a partir de uma base de dados com mais de mil empresas, fruto da atuação da companhia no ramo de esportes nos últimos anos, são selecionadas possíveis investidas que façam sentido para a tese da companhia.

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Para não ferir nenhuma regra da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ou da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), os times da gestora e da consultoria são completamente separados. “O que acontece é o time de projetos identificar uma demanda, passar para o time da gestora e a gestora fazer uma outra abordagem. Mas a partir daí os times nem conversam”, explica Oliveira.

Iuri Santos

Repórter de inovação e negócios no IM Business, do InfoMoney. Graduado em Jornalismo pela Unesp, já passou também pelo E-Investidor, do Estadão.