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Os grandes M&A’s voltaram. Mas o melhor ainda está por vir

Segundo semestre marca o retorno de aquisições estratégicas, mas timing das negociações deve levar volume maior de negócios para 2024

Rikardy Tooge

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A segunda metade deste ano mostra um novo perfil para o ambiente de fusões e aquisições de empresas (“M&A”) no Brasil. Se, no início do ano, os negócios eram pautados pela busca por desalavancagem, agora transações ganham caráter estratégico, com cifras mais altas e maior participação dos estrangeiros. Reflexo disso está na agenda lotada de assessorias financeiras e consultorias que trabalham com M&As, que projetam um volume ainda maior para o início de 2024.

“Eu estou muito confiante em relação ao primeiro semestre do ano que vem. As conversas foram retomadas entre junho e julho. Se o processo começou nesse período, provavelmente, os negócios sairão entre dezembro e janeiro”, explica Daniel Wainstein, sócio da Seneca Evercore. “Até pelo ciclo de vida das negociações, vejo que muita coisa pode ser engatilhada neste ano para sair no primeiro semestre de 2024”, reforça Reinaldo Grasson, sócio de Financial Advisory da Deloitte.

De janeiro a agosto deste ano, foram 1,3 mil operações de M&A, que movimentaram R$ 151,2 bilhões, segundo dados do Transactional Track Record (TTR) compilados pela Deloitte. No comparativo com igual período de 2022, isso representa recuo de 27,5% em volume e 38,3% em receita.

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A despeito do recuo, o principal motivo para a visão postiva, reforçam os especialistas, é que os compradores estratégicos voltaram ao jogo, em especial os estrangeiros. “O investidor internacional não compra somente porque uma empresa está barata, isso é uma lógica do distressed. O estrangeiro vai comprar se ele vir uma oportunidade boa dentro de um contexto macroeconômico favorável”, afirma Wainstein, da Seneca, que transacionou US$ 3,8 bilhões nos últimos 12 meses, atrás apenas do Morgan Stanley. Mais recentemente, assessorou a Evertec na aquisição da Sinqia, em um negócio de R$ 2,5 bilhões anunciado em julho.

Entre os investidores internacionais, a Arábia Saudita chamou a atenção recentemente pela compra de uma participação de 13% no negócio de metais básicos da Vale por US$ 3,4 bilhões. Ou, na parceria com o Pátria Investimentos, na proposta vencedora de um lote de rodovias no Paraná, que demandará R$ 7,9 bilhões de investimento. No entanto, é um cheque difícil de se conquistar. “É um investidor mais demorado, há um convencimento maior. Eles prezam pelo processo, querem que você vá até eles apresentar o investimento. Então, não vejo como um fluxo constante. Mas existe o interesse, sim”, prossegue Daniel Wainstein.

Daniel Wainstein, sócio da Seneca Evercore: casa transacionou US$ 3,8 bilhões nos últimos 12 meses (Divulgação)

Em outra frente, ganharam fôlego também as saídas de fundos de private equity em um momento em que a janela de ofertas públicas iniciais de ações (IPO, em inglês) completa dois anos fechada. Além do deal Nestlé-Kopenhagen, que deu saída à Advent, a venda da Dori Alimentos para a Ferrara ou a compra dos 51% do fundo Leste na Bluefit pelo Mubadala são outros cases.

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Não por acaso, os grandes negócios do ano começaram a ser assinados após boa parte da incerteza política e econômica que rondava o mercado ser dissipada. Com uma onda de recuperações judiciais no início do ano, em especial de Americanas e Light, além de dúvidas sobre a política fiscal, os compradores ficaram em compasso de espera e os fundos de maior apetite ao risco, como os de special situations, “nadaram de braçada”.

“Os M&As não param nem na bonança e nem na crise, mas o timing foi maior e o perfil era diferente. Foram deals com pouco pagamento à vista e muita estruturação, como o uso de earn out”, lembra Renata Simon, advogada e sócia do VBSO na área de fusões e aquisições. “Não foram super transações, mas foram criativas. Até prejuízo fiscal virou fator de upside nessas avaliações.”

A venda da Luizaseg, do Magalu, para o Cardif BNP Paribas, por R$ 1 bilhão, a JSL comprando concorrentes menores, a InterCement vendendo suas operações na África ou, até mesmo, a tomada de controle da Light pelo empresário Nelson Tanure são exemplos de transações oportunísticas que ocorreram na primeira metade de 2023. Ainda existem empresas que buscam desalavancagem, como a BRF, com a venda de sua unidade de pet food, que segue em ritmo lento desde o primeiro semestre. Também está no radar um desfecho da negociação da participação da Novonor (antiga Odebrecht) na Braskem — Apollo e Adnoc, Unipar e J&F disputam o deal.

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Com o avançar do ano, a aprovação do arcabouço fiscal, o avanço da reforma tributária e o início do ciclo de corte de juros mudaram a avaliação. Reflexo disso está nos Credit Default Swaps (CDS), o chamado “risco Brasil”, que saiu de um pico de US$ 310 em outubro de 2022, vem recuando desde abril e hoje está em torno de US$ 165. “As agendas já foram dadas e o mercado já as absorveu. As pautas são conhecidas e, hoje, não existem fatos novos que nosso cliente diga que é uma preocupação a ponto de travar a negociação”, acrescenta Grasson, da Deloitte.

Na lista é possível citar ainda a recente compra da Kopenhagen pela Nestlé, por cifras em torno de R$ 4,5 bilhões, para acelerar sua estratégia no varejo e produtos de maior valor agregado. Outro exemplo foi a Minerva investindo R$ 7,5 bilhões para dar tração à sua produção de carne bovina para exportação na batalha contra a líder JBS, com a compra de 16 plantas da Marfrig – essa, por sua vez, optou pela estratégia de sair da carne commodity por alimentos processados, além de diminuir sua alavancagem.

Os setores que mais podem se beneficiar neste cenário, avaliam os especialistas, seguem sendo consolidações nas áreas tecnologia, saúde e educação. A diferença, talvez, seja a busca por teses mais específicas, como escolas de ensino fundamental e especialidades médicas, explica Alberto de Oliveira Neto, sócio da JK Capital. Outra alavanca seriam empresas que buscam realizar seu IPO irem às compras para validar ao mercado sua tese antes da abertura de capital.

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Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br