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“Nossa estratégia é fácil de explicar, mas difícil de executar”

CEO da BrasilAgro conta o que faz para diluir riscos no instável negócio de comprar e vender fazendas e produzir grãos e cana

Fernando Lopes

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A venda de duas fazendas, em abril, turbinou os resultados da BrasilAgro no quarto trimestre do exercício 2022/23, encerrado em junho. Missão cumprida, em linha com o foco estabelecido em 2006, quando a empresa foi criada e abriu seu capital no Novo Mercado da B3: gerar valor por meio da aquisição, desenvolvimento e operação da terra, que no Brasil é um ativo com grande liquidez corrente, como em nenhum outro lugar.

Mas na agricultura, nem sempre os ventos estão favoráveis. Há safras e safras. Variações de clima e preços fazem parte do jogo e, a depender de como se comportam esses fatores, a liquidez pode desaparecer. Há anos bons para vender fazendas, há anos bons para comprar.Mas oportunidades podem não aparecer. Como navegar?

“Nossa estratégia é muito simples de explicar, mas muito difícil de executar”, afirmou André Guillaumon, CEO da BrasilAgro, ao IM Business. Segundo ele, tão importante quanto acertar o momento de fechar uma operação com um ativo imobiliário (compra ou venda), é que a produção agrícola implantada nas fazendas seja eficiente e lucrativa para garantir os melhores resultados operacionais possíveis e manter as propriedades valorizadas. E, se tudo der certo, vendê-las após cinco anos de incremento da produtividade da(s) cultura(s) implantada(s).

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André Guillaumon, CEO da BrasilAgro (foto: Divulgação)

No quarto trimestre de 2022/23, a estratégia rendeu frutos. Mesmo com a queda dos preços de commodities como soja e milho, a venda das duas áreas levou a receita líquida da companhia a crescer 92% ante o mesmo período do exercício 2021/22, para R$ 673,5 milhões, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado aumentar mais de cinco vezes, para R$ 365,3 milhões, e o lucro líquido subir quase oito vezes, para R$ 242,7 milhões.

Engenheiro agrônomo formado na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP), Guillaumon assumiu o cargo de CEO em 2016, mas antes foi diretor de operações da companhia por nove anos. O executivo vem liderando nesses últimos anos o ajuste do perfil da produção agrícola da empresa, e, por conseguinte, os parâmetros para as aquisições ou arrendamentos de fazendas.

É tudo uma questão de equilíbrio e diluição de riscos. No front operacional, disse o executivo, o objetivo é ampliar a área agrícola entre 10% e 15% por safra, como nas últimas temporadas. Nos negócios imobiliários, o ideal é que a BrasilAgro seja capaz de girar 10% do portfólio todos os anos. “Quando vendemos terra, trocamos resultado operacional por imobiliário. Mas temos que fazer o lado operacional ser fonte recorrente de Ebitda, lembrando que uma terra vale 20 ou 25 vezes o múltiplo que ela gera”.

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Em 30 de junho, o patrimônio líquido da companhia alcançava R$ 2,197 bilhões, e o valor de mercado de suas propriedades era calculado em R$ 3,1 bilhões. Eram 19 fazendas em operação, 16 delas no Brasil (em seis Estados), uma no Paraguai e duas na Bolívia. A área total das propriedades chegava a 273,5 mil hectares (213,3 mil próprios e 60,2 mil arrendados).

A última fazenda adquirida, no exercício 2022/23, está situada em Querência (MT), e tem 10,8 mil hectares. Também durante o exercício foram arrendados cerca de 6 mil hectares de uma propriedade em Comodoro (MT). São áreas mais maduras de produção, justamente para maximizar os resultados operacionais. “De qualquer forma, a fronteira é, e continuará sendo, tecnológica. Fomos a primeira empresa a plantar soja no Chaco paraguaio [logo que surgiram as sementes de ciclo longo da oleaginosa adaptadas ao bioma] e, agora, estamos ampliando o cultivo de algodão no país vizinho”, lembrou Guillaumon.

Outra aposta da companhia que ganha força é a irrigação, sobretudo na Bahia. E a tecnologia, usada em lavouras de soja, milho e algodão, também estimula a produção de variedades de feijão com boa demanda em mercados externos como a Índia, por exemplo. Outros cultivos especiais, como o gergelim, estão na lista. Já a cana, última investida da BrasilAgro entre grandes culturas, deverá começar a proporcionar resultados operacionais mais expressivos a partir de 2017.

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Nesta safra 2023/24, cuja semeadura de soja e milho já está em andamento, a empresa projeta que sua área plantada total chegará a 185,7 mil hectares, ante 168,9 mil em 2021/22 e 168,7 mil em 2022/23. As áreas próprias operadas pela BrasilAgro responderão por 53% do total, as áreas arrendadas operadas pela companhia representarão 39% e a fatia das áreas próprias operadas por terceiros será de 8%.

Na divisão por culturas, a soja lidera, com participação de 40% da área, seguida por milho (14%), cana (14%), algodão (4%) e feijão (4%). Atividades no ramo da pecuária ocupam cerca de 8%. A empresa projeta crescimento nos volumes de produção de todas as culturas, apesar da queda dos preços dos grãos. No caso da soja, o avanço previsto é de 21%, para 248,5 mil toneladas. No do milho safrinha, são esperadas 102,6 mil toneladas, com aumento de 47%.

Na estratégia da BrasilAgro para mitigar riscos imobiliários, produtivo e mercadológico, outra frente que merece atenção é a de hedge. Em 30 de junho, quase 25% da produção esperada de soja em 2023/24 estava com preço travado (US$ 12,91 por bushel, em média, ante média de R$ 14,50 em 2022/23). No algodão, o percentual superava 28%, e no milho (total) chegava a 6%.

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Fernando Lopes

Cobriu o setor de energia e foi editor do semanário Gazeta Mercantil Latino-Americana até 2000. Foi editor de Agro no Valor Econômico até fevereiro de 2023