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No mandato da nova CEO da Ânima Educação, a ordem é retomar crescimento

Paula Harraca revela como está sendo a passagem de bastão na companhia, a chegada de um olhar de fora em uma empresa "de donos" e os detalhes do mandato de crescimento que assumiu

Mitchel Diniz

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A nova CEO da Ânima Educação (ANIM3) é uma argentina que, a princípio, não tinha muito interesse pelo Brasil. “Acho que por causa da rivalidade boba entre os países no futebol”, confessa Paula Harraca, que já vive há 13 anos em terras brasileiras. Por aqui, ela constituiu família. A primeira filha, hoje com 10 anos de idade, nasceu no Espírito Santo. A segunda, de 7, no interior de São Paulo. “São brasileiras com sangue argentino. Corrigem o meu português o tempo inteiro e falam espanhol como turista, pois foram alfabetizadas na pandemia”, conta. As restrições da Covid-19 impediram as viagens anuais da família a Rosário, terra natal da executiva.

É possível dizer que Paula conhece mais o Brasil do que muitos brasileiros – morou em diferentes cidades, em função de sua trajetória na ArcelorMittal, onde trabalhou por duas décadas. Começou como trainee na Acindar, empresa de aços longos da Argentina comprada nos anos 2000 pela Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, que, por sua vez, foi incorporada pela siderúrgica de Luxemburgo. Em sua jornada na indústria do aço, também morou em Trinidad & Tobago e na Espanha, sua última parada antes de desembarcar de vez no Brasil. 

Em outubro de 2022, quando ocupava a cadeira de diretora de inovação da siderúrgica ao mesmo tempo em que presidia a Fundação ArcelorMittal, Paula decidiu deixar a empresa. Queria se dedicar a novos projetos, mas ainda não sabia exatamente quais. Enquanto mergulhava em um processo de autoconhecimento, lançou “O Poder Transformador do ESG”, livro que se tornou best seller, e deu uma série de palestras sobre o tema. Ao mesmo tempo, participou de diversos conselhos consultivos – na Fundação Dom Cabral, Amcham (Câmara de Comércio Americana) e no Museu do Amanhã.

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Quando ainda estava na ArcelorMittal, Paula havia passado pelo conselho consultivo da Una, centro  universitário mineiro, que passou a fazer parte do ecossistema Ânima (ANIM3). Em dezembro de 2023, já fora da indústria do aço, assumiu um assento no conselho de administração da companhia de educação listada em Bolsa. Não demorou seis meses para que Paula recebesse dos fundadores da empresa, Daniel Castanho e Marcelo Bueno, o convite para participar da seleção para CEO. 

Agora oficialmente no cargo, Paula não só se tornou a primeira mulher a ocupar essa posição da empresa – a Ânima nunca havia sido presidida por alguém que não faz parte do grupo de fundadores.

Leia mais: Uma nova CEO, a primeira “de fora”: o que isso significa para as ações da Ânima?

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Ainda que tenha dedicado quase toda sua vida profissional à siderurgia, Paula sempre foi conectada à educação – teve o exemplo da mãe, professora universitária por 50 anos. “Saía de casa às 6 da manhã para dar aula até às 7 da noite”, conta.

Ao InfoMoney, a executiva revela como está sendo a passagem de bastão na Ânima, a chegada de um olhar de fora em uma empresa até então gerida pelos fundadores e o mandato de crescimento que assumiu como nova CEO da companhia.  

Esta entrevista faz parte do Guideline, série semanal de entrevistas do InfoMoney com executivos e especialistas de referência sobre visões estratégicas em diferentes setores. Confira as entrevistas já publicadas:

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Paula Harraca, CEO da Ânima Educação (Crédito: Divulgação)

InfoMoney: Como primeira CEO a não fazer parte do grupo fundador, qual acha que será sua marca?

Paula Harraca: Eu já estava em conversas avançadas para assumir a posição de principal executiva em uma unidade de negócios dentro do universo onde eu estava, do aço. Me sentia pronta para dar esse passo, embora soubesse das minhas limitações. Agora é a primeira vez que de fato assumo essa posição, em um setor no qual nunca tinha atuado antes. Chego com toda humildade, não tenho medo de perguntar sobre aquilo que não sei. E o que me move é transformar, criar impacto. Gosto de gente, tenho escuta ativa, mas também questiono o que é preciso questionar. A Ânima tem a missão de transformar o Brasil pela educação e agora sou uma voz que dá potência a esse tema, que precisa ganhar espaço, que deve ser pensado como alavanca de competitividade, de inovação. Quando uma empresa decide trazer alguém de fora, traz também um olhar neutro, de objetividade sobre questões que talvez não tenham feito parte da construção do negócio. Estou aqui para ser CEO, fazendo o melhor uso das potências da organização, não para ser uma super heroína. 

IM: Na sua visão, o que a Ânima ganha em termos de governança ao trazer uma profissional de fora?

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PH: Ganha mais clareza, né? Como uma empresa de 21 anos, a governança da Ânima evoluiu e ficou mais madura. A companhia percebeu que estava pronta para dar esse passo agora. Quando o Marcelo Bueno assumiu como CEO seis anos atrás, tinha a missão de dar forma à cadeira para uma pessoa do mercado. Eu chego em um momento no qual as coisas estão bem definidas.  

IM: Qual vai ser o foco da sua gestão no primeiro momento? 

PH: Talvez minha principal missão neste momento seja cuidar de dois senhores: pragmatismo e propósito. E garantir que um não vai dominar o outro. O pragmatismo sem propósito não faz sentido. O propósito sem pragmatismo é impotente. O desafio é equilibrar uma empresa muito pautada em propósito, que tem muitas iniciativas, com uma empresa muito empreendedora, que coloca todas essas ideias em uma estratégia, em um modelo de gestão. E eu trabalhei 20 anos no universo do aço criando essa conexão. 

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IM: Ao seu ver, do que a Ânima mais precisa agora?

PH: A Ânima tem um story making muito bom e nós precisamos trabalhar o storytelling. Temos muitas histórias bacanas que precisam ser contadas. O valor, antes de ser capturado e gerado, precisa ser percebido. Também é necessário entender como o presente financia projetos futuros. Isso é vital para qualquer organização e sobretudo para a Ânima, que sempre foi pioneira e inovadora. Eu diria que são 20% de ajustes que podem destravar 80% de valor, são ajustes finos de combinar o core do negócio com uma gestão mais simples e ágil. Não é uma empresa que precisa de um turnaround, pelo contrário, ela fez um progresso incrível nos últimos dois anos, depois de tantas tormentas que o setor atravessou. Teve o pós-pandemia, a própria integração com a Laureate que foi um processo imenso e as pessoas não fazem ideia do que representou em termos de integrar sistemas. Hoje a empresa está pronta para voltar a dar força às suas marcas e trabalhar esse top line de maneira mais estratégica. 

IM: Como tem sido a troca com o Marcelo Bueno [o fundador da Ânima dividirá o comando da empresa com Paula até o final do ano]? 

PH: Tem coisas que eu provoco, questiono e que não estavam no olhar dele. É natural que isso aconteça, se compararmos de onde eu vim para o mundo em que estou atuando agora. O Marcelo é um mentor para mim e tem essa missão de abrir caminhos. Me levou a vários roadshows e me deu bastante autonomia nessas ocasiões. O desapego é difícil, mas esse é um processo que ele já vem trabalhando há algum tempo e eu também tento exercitar minha empatia. As pessoas costumam jogar muita luz em cima do sucessor, mas esquecem de pensar em como fica o sucedido. De alguma maneira, estamos todos aprendendo juntos. 

IM: A Ânima vem passando por um processo de desalavancagem, sobretudo no último ano. Como você pretende gerenciar essa questão, assim como a possível venda de operações?

PH: Eu recebo uma empresa que fez seu dever de casa, que tem essas questões equacionadas. O meu mandato é de crescimento sustentável, é um novo ciclo, mas que respeita e continua olhando com cuidado para a estrutura de capital, os desafios de alavancagem. Naturalmente, há um olhar sobre oportunidades que existem, mas a empresa hoje pode tomar suas decisões em melhores condições. Agora é importante começar a direcionar a estratégia para o top line, do tíquete, da receita. Temos desafios no setor, mas também alguns indicadores que trazem boas perspectivas. O desemprego está caindo e isso naturalmente leva as pessoas a buscar qualificação para conseguir uma progressão de salário em sua jornada. É um indicador que a gente acompanha, assim como a queda da inflação, o aumento real do salário médio e a disponibilidade de recursos para se investir em educação. O programa Pé-de-Meia [do governo federal, de incentivo financeiro para que estudantes da rede pública do ensino médio permaneçam na escola] vai contribuir, naturalmente, para reduzir a evasão, que tem sido um dos maiores obstáculos de penetração no ensino superior. No Enem, já estamos falando de 5 milhões de candidatos inscritos. Todo setor tem desafios, altos e baixos, o importanteé saber navegar nesses momentos e focar naquilo que a gente consegue controlar, não depender só dessas variáveis.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados