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Carlos Rotella se define como um “paulistano da gema”, mas há quase quatro anos trocou a megalópole pela Beira Mar de Fortaleza. A mudança de endereço veio junto com o desafio de assumir a presidência de um dos maiores conglomerados empresariais do Brasil: o Grupo Edson Queiroz (GEQ). A holding multisetorial “genuinamente cearense” existe há mais de 70 anos e, só em 2023, faturou R$ 12,2 bilhões. O costume de abrir números é relativamente novo para o grupo e tem relação direta com a chegada de Rotella, primeiro CEO a não fazer parte da família fundadora.
“De uns quatro anos para cá, o grupo vem mudando de posicionamento em termos de visibilidade. Passou a ter uma postura um pouco mais ativa no mercado”, explica o executivo. Rotella veio da Votorantim Siderurgia, onde atuou como CEO por quase seis anos, mas sua experiência no c-level vem de muito antes. Ao longo das últimas duas décadas, aliás, ele se tornou um especialista em turnarounds culturais e financeiros nos lugares por onde passou. “O financeiro é consequência do cultural”, diz.
Edson Queiroz, patriarca que fundou o grupo na década de 1950, tinha 57 anos quando faleceu em um trágico acidente aéreo. Ele era um dos 137 passageiros a bordo do voo 168 da companhia aérea Vasp, que colidiu com a Serra da Aratanha, na região metropolitana de Fortaleza, quando se preparava para pousar, em 1982. Rotella ingressou numa GEQ comandada pelos netos do fundador, que já tinham uma visão mais profissionalizada do negócio.
Ao chegar na holding, o CEO conta que foi orientado pelos próprios acionistas a implementar uma gestão mais moderna, com um novo projeto de cultura, sem abrir mão dos valores de seus fundadores.
Foi sob sua gestão que o grupo passou por um rebranding e adotou a sigla GEQ como marca oficial para resolver uma questão: fora do Ceará, as empresas do conglomerado são bem conhecidas – a holding em si, nem tanto. Sob o guarda-chuva do GEQ estão Nacional Gás, Minalba, Esmaltec e Sistema Verdes Mares de Comunicação (cuja TV é afiliada da Rede Globo).
“Cada empresa do grupo tem seu CEO. Porém as diretorias executivas do GEQ atuam diretamente nos negócios. Isso faz com que os executivos, incluindo eu, sejamos muito próximos das operações”, afirma Rotella.
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Atualmente, o conglomerado trabalha no desdobramento da Nacional Gás que será dividida em duas empresas: uma de revenda de botijões para domicílios e uma apenas para atender clientes empresariais, como indústrias e comércios. “São dois negócios que já têm vida própria e, em breve, serão duas empresas separadas”, diz o CEO.
Outra empreitada em curso é a construção de um terminal de tancagem de gás liquefeito de petróleo (GLP), que deve entrar em operação em 2027. O GEQ toca a estrutura, localizada no Porto de Suape, em Pernambuco, junto com a multinacional alemã Oiltanking e a Copa Energia, por meio de uma joint venture. O investimento é de R$ 1,2 bilhão.
A Copa, aliás, já havia juntado forças com o GEQ para a aquisição da Liquigás, vendida pela Petrobras, em 2019, por R$ 3,7 bilhões . Um ano antes, a holding dos Queiroz expandiu o portfólio de outra empresa do portfólio, a Minalba, com a compra da Nestlé Waters. Em entrevista ao InfoMoney, Carlos Rotella conta que novas aquisições estão no radar, revela o tipo de ativo que a empresa está procurando e a estratégia por trás da abertura de um escritório do GEQ em São Paulo.
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Esta entrevista faz parte do Guideline, série de entrevistas do InfoMoney com executivos e especialistas de referência sobre visões estratégicas em diferentes setores. Confira as entrevistas já publicadas:
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InfoMoney: Como é ser o primeiro executivo do mercado a assumir o cargo de CEO numa empresa que, há sete décadas, era gerida pela família fundadora?
Carlos Rotella: A minha chegada foi fruto do amadurecimento dos acionistas. Precisa de muito desprendimento para dar esse passo. E eu imagino que ninguém tenha me contratado para manter o que estava sendo feito. Estar preparado para fazer um turnaround é uma característica minha, da minha base de formação E o processo de mudança também é encomendado. Normalmente, nas empresas familiares, é a proximidade com as pessoas que faz a gestão. Já hoje, o nosso sistema é absolutamente colegiado, atrelado a governança, se dá por processos e qualificação. […] É o mesmo sistema de gestão aplicado nas quatro empresas do grupo – e os resultados culturais e financeiros apareceram logo. Um dos marcos que a gente teve nesse processo foi implantar um sistema de meritocracia. Hoje, no Grupo Edson Queiroz, os 10 mil colaboradores têm remuneração variável, o que é absolutamente pouco comum no mercado.
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InfoMoney: Como os negócios do GEQ foram reorganizados na sua gestão?
Carlos Rotella: Havia um negócio imobiliário, um landbank importante, que foi desvinculado do grupo e passou a ser diretamente gerenciado pela família. Também descontinuamos o negócio de agro, que tinha diversas fazendas e foram colocadas à disposição do imobiliário. Também é a família que trata disso. Assim, temos hoje quatro negócios do perímetro de atuação do grupo.
IM: De que forma a nova marca ajuda o grupo a ganhar mais visibilidade?
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CR: GEQ é a forma que chamamos o grupo aqui no Ceará, mas sabemos que podia soar diferente no sudeste, por exemplo. Somos conhecidos nacionalmente por nossas marcas, isso já acontece. O Edson Queiroz, como grupo, passou a se expor mais recentemente. Então a gente passa a assinar cada uma das nossas empresas, nossos produtos e começa a ter, pouco a pouco, uma visibilidade maior. O grupo jamais divulgava os seus números e começou a fazer isso em 2021, ano em que eu cheguei.
IM: Há planos de ter mais empresas no portfólio?
CR: No futuro, a gente deve fazer algumas aquisições. Muito provavelmente, elas serão adjacentes aos nossos negócios atuais. A ideia não é colocar no portfólio algo muito diferente daquilo que a gente já atua. Certamente, devemos migrar a Nacional Gás para uma plataforma de energia. Na Minalba, a gente deve fazer alguma expansão, porque a gente vem evoluindo muito com a empresa no mercado. Estamos falando de expansão tanto dos ativos atuais, quanto de alguma aquisição. Na Esmaltec, nós acabamos de lançar uma nova linha de produtos – algo que não fazíamos há muito tempo. Quando eu entrei no grupo, a empresa estava à venda. Desistimos da ideia e passamos a investir na modernização de ativos e produtos do negócio. Acabamos tendo um ganho importante de produtividade e de otimização de todos os recursos. Em resumo, tudo o que conversar com os nossos negócios, estamos abertos a avaliar e expandir. Tenho fé que a gente vai conseguir isso nos próximos três anos. Não sei quando vai surgir, mas certamente deve acontecer alguma coisa.
IM: Por que vocês gostam de trabalhar dessa forma?
CR: As quatro empresas são muito relevantes nos setores onde atuam e há muito ainda o que se fazer em cada uma delas. Precisamos aproveitar a nossa expertise, é uma vantagem competitiva entrar em um negócio que você já tem conhecimento ou um certo domínio. O Grupo Edson Queiroz é um grupo que tem uma geração de caixa forte. Nosso setor de planejamento estratégico está em constante avaliação de oportunidades e no momento que surgir uma oportunidade que faça sentido, devemos anunciar alguma coisa.
IM: Quais são as ambições do grupo de estar mais presente em outras regiões do país?
CR: Acabamos de inaugurar o nosso escritório em São Paulo, para receber nossos parceiros. Agora somos uma empresa que está estabelecida em São Paulo, o que é uma diferença muito grande para um grupo que antes estava só Ceará, como headquarter [sede]. São Paulo é onde as coisas acontecem do ponto de vista empresarial. Pouco a pouco, vamos ocupando espaços e fazendo com que o grupo seja cada vez mais conhecido.