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Na transição para uma economia mais ‘verde’, o ‘custo Brasil’ continua sendo ameaça

País poderá ser um protagonista global do processo, mas profissionais reforçam que ainda há muito que se avançar

Rikardy Tooge

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É consenso entre empresários, economistas e políticos de que o Brasil está bem posicionado para ser um dos protagonistas na transição do mundo para uma economia mais “verde”, mas o histórico do país em desperdiçar oportunidade, afirmam os mesmos atores, não ajuda. Um dos principais detratores desse processo é a baixa competitividade brasileira.

Estudo recente divulgado pelo Movimento Brasil Competitivo (MBC), em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) mostra que o temido Custo Brasil, despesa adicional que as companhias brasileiras têm em relação aos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), chegou a R$ 1,7 trilhão em 2021, o equivalente a 19,5% do Produto Interno Bruto (PIB) daquele ano.

“O Brasil tem um atraso estrutural de mais de 30 anos em relação aos países desenvolvidos. Estamos há décadas discutindo a adoção do [Imposto sobre Valor Agregado, mote da reforma tributária em curso] e, se adotarmos, seremos o 175º país a fazer isso”, exemplifica Jorge Gerdau, presidente do conselho superior do MBC, durante o Congresso Brasil Competitivo, promovido em São Paulo. Gerdau diz que o Brasil tem uma possibilidade extraordinária com a economia verde, mas lembra que o país já desperdiçou outras chances, como já ocorreu com a produção de alumínio, que vem desacelerando ao longo dos anos.

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Para Patrícia Ellen, cofundadora da consultoria AYA Earth Partners, é justamente o valor agregado que pode virar o jogo para o Brasil, que é referência quando o assunto é commodities. No contexto da transição energética, o país já possui o trunfo de ser naturalmente produtor de energia limpa, o que poderia atrair plantas industriais de multinacionais de países desenvolvidos.

“O mundo precisa aumentar em 20 vezes nos próximos 20 anos a produção de energia limpa. Essa conta não fecha. Uma outra forma de olhar é levar a produção de parte desses insumos para os países do chamado sul global e especialmente para o Brasil, que é a grande referência hoje em energia limpa”, afirma Patrícia. Na mesma linha, João Paulo Resende, assessor especial do Ministério da Fazenda, traz a perspectiva de que o Brasil pode ser a “Arábia Saudita da energia limpa” ao fazer o paralelo com o maior produtor de petróleo do mundo.

Jorge Gerdau, presidente do conselho superior do Movimento Brasil Competitivo (MBC): país segue atrasado em comparação aos desenvolvidos (Divulgação)

Em uma visão mais pragmática, Leonardo Pontes, CEO da Cosan Investimentos, argumenta que o óleo não pode ser subestimado nessa equação. O executivo do grupo controlador da Raízen, maior produtora de etanol do país, lembrou que, em menos de um mês, ExxonMobil e Chevron movimentaram cerca de US$ 110 bilhões em aquisições no segmento de petróleo e gás. “Esses M&As demonstram que os fósseis seguirão relevantes por muito tempo”, reforça.

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Pontes acrescenta que, dentro desse racional, o etanol ganha papel importante na transição energética. “Nós sabemos que o etanol não é o ‘end game’ da transição, mas é a melhor solução para chegarmos lá”. Dentre os investimentos da holding de Rubens Ometto para uma economia mais ‘verde’, o executivo lista a Rumo, que gera menos emissões para o transporte de cargas do que algumas frotas de caminhões na estrada, como também a recente entrada do grupo na Vale que, segundo ele, tem como vantagem produzir um dos minérios de ferro mais limpos do planeta.

Se a produção do minério com menos emissões é um atrativo para o mercado, o aço mais sustentável não tem sido tão “sexy”, diz Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, líder na oferta de aço feito a partir de sucatas, processo que propaga menos CO2 na atmosfera. Ele lista duas grandes dificuldades para a siderurgia no momento. A primeira é o ocaso da indústria brasileira nos últimos anos, que vem esfriando a procura por aço.

“Estamos indo para o caminho mais fácil da descarbonização que é não ter mais indústria”, ironiza Werneck. Outro desafio é a invasão do aço chinês, que tem mais emissão de carbono que o produto brasileiro, no mercado nacional. A expectativa é que as importações do produto cresçam 50% neste ano, chegando a 5 milhões de toneladas, ou um quarto do consumo total do país. “Nós estamos pensando em um crescimento de demanda que não está ocorrendo.”

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Por fim, Andrea Álvares, vice-presidente de inovação e sustentabilidade da Natura, cita como desafio adicional a materialização das políticas de incentivo à preservação. Andrea lembra que os projetos que tratam do pagamento por serviços ambientais e mercado de carbono estão andando no Congresso, mas que os efeitos práticos dessas medidas ainda não são tão claros. “Precisamos ter definidos quais serão esses serviços, como serão remunerados e de que forma será estruturado esse mercado. Ainda estamos em um debate muito inicial”, conclui.

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Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br