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Na Ibema, sócia da Suzano, um CEO que trocou o plástico pelo papel

Veterano do segmento de embalagens, Nilton Saraiva viu inversão na indústria; "substituição está em progresso, ainda que não na velocidade que gostaríamos"

Mitchel Diniz

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Voltar ao ponto de partida nem sempre significa retrocesso. No caso da indústria de embalagens, a tendência de substituição do plástico pelo papel, além de bem vinda, é também um retorno às origens. “Vinte anos atrás, eu vi uma substituição massiva do papel pelo plástico, porque era muito mais barato, flexível e maleável. Agora, o que eu vejo é um movimento inverso”, resume Nilton Saraiva, presidente da Ibema, a terceira maior produtora de papel cartão do Brasil. Ele não só foi testemunha de momentos tão distintos dessa indústria como atuou de forma direta nas duas ocasiões.

O executivo começou no ramo como trainee da Impressora Paranaense, uma gráfica secular adquirida na década de 1990 pela Dixie Toga, que por sua vez foi comprada pela Bemis, uma das maiores fábricas de embalagem do mundo. Foram 25 anos na mesma companhia em três administrações muito diferentes, conta Saraiva. “Foi de uma administração familiar, para uma familiar-profissional à multinacional americana. E nesse período, eu participei de vários projetos de substituição do papel pelo plástico”.

Desde que ingressou na Ibema, em 2017, Saraiva tem trabalhado no sentido contrário. “A substituição do plástico pelo papel está em progresso. Não na velocidade que a gente gostaria, mas é nítido”, afirma o CEO. “A restrição do uso do plástico em prol de uma embalagem de uso único é uma tendência inevitável que abre uma grande oportunidade para o papel”. 

Sócio ilustre

A Ibema existe há quase sete décadas, mas ganhou notoriedade e escala depois que a Suzano (SUZB3) entrou na sociedade. Em 2015, a gigante de celulose vendeu para a paranaense uma fábrica de papel cartão em Embu das Artes, e, com um aporte adicional de R$ 8 milhões, assumiu 49,9% da empresa. 

A planta na região metropolitana de São Paulo é um ativo chave para a pegada socioambiental que a Ibema tem trabalhado para imprimir em sua produção. Em Embu, o papel cartão é feito com fibras recicladas, remanescente de embalagens consumidas no varejo e na indústria. A unidade tem produzido em torno de 50 mil toneladas de papel por ano e faz coleta direta com catadores de materiais recicláveis.

Já na planta de Turvo (PR), que produz mais de 100 mil toneladas ao ano, a Ibema fabrica embalagens a partir de fibra virgem, com uso de pasta mecânica e de fibra curta. A empresa também tem investido na produção da própria matéria prima.   

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Em seu movimento mais recente, a fabricante de papel cartão criou uma nova unidade de negócio em florestas, com a aquisição de cerca de quatro mil hectares de terras por R$ 150 milhões. Também abriu um escritório em Miami, nos Estados Unidos, tentando compensar, com o mercado americano, a queda nas vendas para a Argentina, um cliente de longa data em meio a uma turbulência econômica. 

No ano passado, a Ibema faturou R$ 920,3 milhões. Ao InfoMoney, Nilton Saraiva conta o desafio da companhia em alcançar o tão almejado primeiro bilhão com um mercado saturado por produto chinês – e como o consumo interno tem ajudado a atravessar essa fase. 

Esta entrevista faz parte do Guideline, série semanal de entrevistas do InfoMoney com executivos e especialistas de referência sobre visões estratégicas em diferentes setores. Confira as entrevistas já publicadas:

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Nilton Saraiva, CEO da Ibema (Crédito: Divulgação)

InfoMoney: Como a empresa tem acompanhado as transformações no mercado de embalagem?

Nilton Saraiva: Nosso posicionamento hoje é de criar uma maior condição de circularidade dentro da indústria de papel. Temos vários produtos com uso de material “pós-consumo”. As empresas precisam aumentar, dentro de suas embalagens, o percentual de material reciclado, o que é fácil de fazer e gera uma oportunidade para o nosso segmento. Se por um lado temos o desejo de ter floresta, de ter verticalização, também é nosso interesse reciclar o máximo.

InfoMoney: O que esperar desse movimento de aquisição de terras?

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Nilton Saraiva: Desde que a Suzano entrou no negócio, a gente conseguiu voltar em florestas. Retomamos esse tipo de investimento há uns três, quatro anos. Hoje temos uma base florestal para atender às nossas necessidades. Quando você passa a ter o controle da matéria-prima, tem uma questão de [redução] de custo importante e também minimiza muito o risco de você ser impactado por uma eventual falta de madeira na região. 

IM: Qual a influência da Suzano na governança da empresa?

NS: A gente segue grande parte das diretrizes da Suzano. Gosto de dizer que a Ibema é uma empresa média, mas com governança e compliance de companhias de capital aberto ou de grandes conglomerados. Temos que seguir um nível de governança bastante elevada para uma empresa do nosso porte. Com isso, vem também um alto nível de gestão e de eficiência.

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IM: A empresa vai ter condições de bater R$ 1 bilhão em faturamento este ano? 

NS: Sobre a meta de faturamento, eu diria que estamos em um momento meio agridoce. Sofremos bastante com a competição da China, que investiu massivamente em capacidade e está prejudicando o mercado global, não apenas o Brasil. Eu acho que nossa meta de faturamento está vindo, mas de forma mais lenta. Os chineses investiram tanto porque sabem que o segmento promete um crescimento interessante nos próximos anos. O crescimento e rentabilidade sofrem neste momento pois a perspectiva é boa no médio e no longo prazo. No curto prazo, há uma capacidade maior do que o mercado está conseguindo absorver. 

IM: Como estão os investimentos em produção de celulose?

NS: A gente produz a pasta mecânica, que é uma celulose não química, inferior à celulose na brancura. Ela é muito boa para o papel cartão porque dá rigidez. Nosso investimento na celulose em si é menor, até porque a Suzano é nossa sócia. A ideia é produzir algo para nós mesmos, uma coisa muito específica do nosso produto. 

IM: A ideia também é vender matéria-prima para as concorrentes?

NS: Neste momento, não. É muito mais para consumo próprio, redução de custo, segurança de abastecimento. E tem também o aspecto de melhoria de qualidade do produto. O mercado de pasta mecânica é muito restrito a poucos players que fazem papel cartão. Por isso nos sentimentos confortáveis para ampliar. Ainda não estamos 100% verticalizados nesse quesito, mas conseguimos ampliar a nossa cobertura.

IM: Qual é a percepção de mercado que a empresa tem hoje?

NS: O mercado global do meu produto está sofrendo por um excesso de demanda. Então, estou conseguindo exportar, mas com mais dificuldade. O Brasil está ajudando a gente, as expedições de papelão, de papel cartão, estão caminhando bem. A gente percebe que, no segundo semestre, o mercado interno está claramente melhor, até mesmo superando expectativas. Ainda que o nosso segmento sofra um pouco com a importação, há vários projetos de substituição de plástico pelo papel. Percebemos uma movimentação no ponto de vista de legislação para uma nova política de resíduos sólidos que deve nos beneficiar no médio prazo.  

IM: Qual a participação do mercado externo nos negócios? O que a empresa espera com o escritório dos Estados Unidos?

NS: Hoje o mercado externo responde por algo em torno de 27% a 28% das nossas vendas. Com a pressão da importação no mercado interno, fomos buscar novos mercados. Estamos há 30 anos na Argentina e a importância do país no nosso negócio sempre foi muito grande. Apesar de toda a situação do país, todos os compromissos foram honrados, mas houve uma redução de até 25% nos volumes. Nós precisávamos compensar em outro lugar e vimos nos Estados Unidos um mercado grande, com bom nível de aceitação do produto que fabricamos. Estamos crescendo por lá, não é um mercado tão relevante no nosso negócio, mas a gente percebe interesse dos clientes americanos.  

IM: Quais devem ser os próximos investimentos da Ibema?

NS: Eu não posso dar detalhes para onde a gente quer ir. Mas o que posso dizer é que o nosso endividamento é praticamente zero. Temos condição de nos alavancar e pensar em coisas diferentes. Ou investir em mais capacidade, o que acho menos provável em função do excesso já existente, mas estamos sempre buscando possibilidades de M&A. Nossa situação financeira nos permite olhar para diferentes alternativas. O fato é que a empresa tem o desejo de crescer, os acionistas praticamente não tiram dividendos, reinvestem tudo.

IM: E como olham para o mercado de capitais, a possibilidade de uma listagem na Bolsa?

NS: Acho que precisamos dar mais alguns passos de crescimento e, com um projeto mais robusto, buscar capital fora. No momento não parece fazer sentido também por não termos endividamento e contarmos com uma geração de caixa robusta. 

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados