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Nas últimas semanas, os frequentadores do Shopping Pátio Higienópolis notaram uma grande mudança. No primeiro piso e de frente à entrada principal, está a nova loja da Zara, com mais de 2.000 metros quadrados.
No Brasil há mais de 20 anos, a varejista contava com 43 lojas por aqui e, desde 2018, não realizava inaugurações, exceto a do e-commerce, que aconteceu em 2019. Ao quebrar o jejum, a marca da espanhola Inditex, dona da Zara e outras marcas, também deve inaugurar um espaço – ainda maior, com 2.600 metros quadrados – no shopping Center Norte até o fim do ano.
As inaugurações coincidem com o anúncio da vinda da sueca H&M, que deve começar suas operações no país – online e física – nas principais cidades da região Sudeste em 2025, e com as novas regras de tributação para importação. Apesar da movimentação, fontes ligadas à Inditex não classificam a abertura de lojas no Brasil como uma resposta a esses movimentos, mas como uma estratégia isolada da marca que enxerga na região um potencial de crescimento. Hoje, as Américas, o que inclui todos os países da América do Norte, Central e do Sul, respondem por menos de 20% do negócio da Inditex, e o plano de abertura de lojas nos Estados Unidos é mais agressivo que o brasileiro. A empresa também abriu lojas em outras praças, como Paris, Londres, Mumbai e Joanesburgo.
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A abertura de lojas da Zara no Brasil, contudo, chama a atenção pelo momento muito particular para o varejo nacional. Essas empresas ainda sofrem com o efeito do juro alto sobre o custo financeiro e a demanda e, diante disso, muitas implementaram uma gestão rigorosa de caixa, cortando investimentos e até fechando lojas. Ao mesmo tempo, alguns fenômenos que em 2022 ajudaram o setor a compensar o aperto monetário, ainda que parcialmente, não se repetiram este ano, como o inverno mais longo e boom de eventos que haviam sido represados durante a pandemia. “Em 2023, ainda estamos em um momento de juros altos, com famílias endividadas e uma competição com varejistas asiáticos mais agressiva”, avalia Ricardo Borges, sócio e analista de ações da SFA.
As varejistas têxteis que entraram no ciclo de juros mais elevados com um nível de alavancagem financeira muito alto foram as mais afetadas. A Marisa informou, em julho, que fechou 88 lojas com geração de caixa negativa apenas no segundo trimestre. A Riachuelo também precisou se desfazer de plantas e mesmo a Lojas Renner, líder do setor, fechou 20 lojas (entre Camicado e Renner) nos primeiros meses do ano – uma delas, em um ponto histórico em Porto Alegre. “As varejistas com condições financeiras um pouco mais apertadas precisaram ajustar seu parque de lojas de maneira mais urgente. Elas estão fazendo o trabalho interno para resolver isso. Esse fechamento de lojas deve ser visto como uma otimização do parque [de lojas]”, avalia Borges.
A própria Zara chegou a ter 55 lojas no país, mas começou o movimento de encerramento de operações um pouco antes, em 2021. “A Inditex fez o movimento [de encerramento de operações no Brasil] antecipado, por outras razões, mas, principalmente, pela preocupação com o avanço de outras redes como a Asos e a Boho na Europa. Com a ‘ameaça’, precisaram otimizar o parque de lojas mundial e, agora, já estão no momento de investir em expansão”, diz um analista do setor.
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Para analistas do setor, as varejistas nacionais fariam bem em acompanhar os passos da Inditex na Europa, que buscou fortalecer sua cadeia logística, ajustar o time de 300 designers e das fábricas para ter mais otimização e reavaliar o seu parque de lojas. “Uma vantagem competitiva da Zara neste momento, em relação a varejistas de vestuário nacionais, é o chamado supply chain, acesso a uma cadeia de suprimentos global, que permite às lojas adaptarem-se às mudanças de estação e de moda com muito mais velocidade”, afirmou uma fonte.
Segundo uma fonte relacionada à empresa, a Zara tem a facilidade de estar conectada a fornecedores que estão próximos. “Os produtos são criados e desenvolvidos muito de perto com esses fornecedores e também muito próximos aos centros de distribuição na Espanha e em regiões como Portugal, Turquia e Marrocos”, afirmou.
Plano de expansão
Os resultados do primeiro trimestre da Inditex, que também é dona das marcas Massimo Dutti, de roupas mais formais, e da Oysho, de lingeries, superaram as expectativas dos analistas. Eles consideram que as lojas de maior tamanho da Zara estariam incentivando os consumidores a comprar mais.
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Segundo os resultados divulgados pela companhia, a empresa teve uma margem bruta recorde no primeiro trimestre e viu sua receita operacional saltar 43% até abril, mesmo com menos lojas. Nos últimos três anos, a espanhola fechou mais de 1.000 pontos de venda pelo mundo, inclusive as 515 lojas na Rússia e outras 82 na Ucrânia, devido à guerra. Com o encerramento em pontos menos lucrativos, a empresa conseguiu aumentar seu caixa líquido para 10 bilhões de euros – o que ajudou a financiar o plano de expansão colocado em prática agora.
Esse plano da Inditex, que inclui abertura de novos pontos de venda da Zara em Nova York, Los Angeles, Miami e Las Vegas, foi anunciado em março deste ano, quando a companhia surpreendeu o mercado com o anúncio de investimentos da ordem de 1,6 bilhão de euros para inaugurar novas lojas e expandir sua área de comércio eletrônico em escala global.
A estratégia também está ligada a uma dissociação de fast fashion e recolocação da marca em um patamar mais sofisticado, para não entrar em um embate direto com as chinesas como a Shein, que já conquistou 40% do market share nos Estados Unidos em 2022, segundo dados da Statista, e a Temu, que ensaia uma entrada no Brasil. Para isso, além de criar novas lojas, a empresa também passou por uma remarcação de preço. De acordo com uma pesquisa de Simon Irwin, analista do Credit Suisse, os preços de entrada da Zara subiram 20% na comparação com 2022.
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O visual das novas lojas, mais clean, foi uma proposta que partiu do escritório de arquitetura da própria Zara. Com uma mistura de madeira, aço inox e vasos de oliveira espalhadas pelos mais de 2.000 metros quadrados, no que a arquitetura moderna convencionou classificar como quiet luxury, a nova loja será também o novo padrão: gradualmente, os outros pontos da marca serão atualizados para este conceito. “É uma loja super especial, que acabou de abrir e está ‘bombando’ em vendas. Ela, sozinha, representa 15% das vendas do shopping [Patio Higienópolis, do Grupo Iguatemi] todo”, afirma um analista do setor. De acordo com esta fonte, o interesse pela nova loja impulsionou até as vendas das vizinhas, que registraram um aumento entre 20% e 30% nas vendas desde a abertura da Zara. Procurado, o Grupo Iguatemi não confirmou as informações.
Provadores automáticos, leitura digital de peças, reserva antecipada de lugar no provador pelo aplicativo e checagem de peças no estoque estão entre as novidades semelhantes àquelas vistas em lojas como a Renner e, fora, em marcas como a varejista japonesa Uniqlo.
Em comunicado ao mercado, a Inditex, que opera em 213 mercados, afirmou que possui baixa participação em um setor altamente fragmentado e vê fortes oportunidades de crescimento. “Esperamos aumentar a produtividade de vendas em nossas lojas daqui para frente. O crescimento do espaço bruto em 2023 será de cerca de 3%. A otimização das lojas está em andamento. A Inditex espera que a contribuição do espaço para as vendas seja positiva em 2023. Continuamos a assistir a uma evolução muito satisfatória das vendas online e a uma participação crescente no total do grupo”.
No encontro anual da empresa, Oscar García Maceiras, CEO da companhia, disse que observou em sua avaliação do último ano que “tornamos nossa empresa mais forte, mais eficiente e pronta para enfrentar novos desafios e alcançar um crescimento sólido e lucrativo em ambientes muito exigentes”.
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